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CR7 insatisfeito e Zidane ausente: quais os motivos da crise no Real

Thiago Arantes

De Madri/Colaboração para o UOL

19/01/2018 04h00

Os jogadores do Real Madrid concentravam-se minutos antes da entrada em campo para o duelo contra o Villarreal, no sábado, pelo Campeonato Espanhol. Sem o capitão Sergio Ramos - conhecido por suas palavras de motivação pré-jogo - um incômodo silêncio tomava conta do túnel que dá acesso ao gramado do Santiago Bernabéu.

Então, o lateral-esquerdo Marcelo interveio. “Vamos mudar essa merda, vá! Vamos mudar essa merda!”, gritou o brasileiro, diante de companheiros que continuavam calados. Em campo, o Real Madrid criou boas chances, foi superior ao adversário, mas perdeu por 1 a 0, com um gol aos 42 minutos do segundo tempo.

O gesto desesperado de Marcelo e a passividade dos companheiros são o retrato de um time à deriva. A palavra usada pelo brasileiro talvez seja forte demais, mas fato é que o Real Madrid, que celebrou o título mundial há menos de um mês, vive sua pior crise nos últimos anos.

O time comandado por Zinedine Zidane ocupa a quarta posição no Campeonato Espanhol, 19 pontos atrás do Barcelona (tem um jogo a menos), e distante da disputa pelo título na virada do turno; na Copa do Rei, sofreu contra rivais pequenos, empatando por 2 a 2 contra o Fuenlabrada, da Segunda Divisão B (na prática, a terceira), e o Numancia, da Segunda. Na Champions, o rival das oitavas de final será o PSG - o primeiro jogo será em 14 de fevereiro.

Nem na temporada 2014-15, quando assistiu ao rival catalão conquistar o triplete - títulos da Liga, da Copa do Rei e da Champions League - o clube merengue viveu situação tão instável. A fase complicada que levou à saída do treinador Rafa Benítez, em 2015, também não se compara com a atual. A maior diferença é que, desta vez, os problemas são múltiplos.

O primeiro, é na relação dos jogadores com o técnico Zinedine Zidane. De acordo com pessoas próximas a atletas do elenco, a relação entre eles e o comandante já não é das melhores. As estrelas do vestiário queixam-se da postura do francês no dia a dia: os treinos são pouco exigentes e Zidane se envolve pouco; é uma espécie de gestor, que se distanciou dos atletas nos últimos meses.

Os jovens, por sua vez, reclamam da falta de oportunidades. Jogadores como Lucas Vásquez e Marco Asensio, importantes nas conquistas da Liga Espanhola e da Champions League há pouco mais de seis meses, têm sido colocados em segundo plano e questionam as decisões do francês. Dani Ceballos, que deixou o Betis para juntar-se ao Real nesta temporada, foi praticamente esquecido e já arquiteta uma saída do clube.

Além disso, os dois grupos - estrelas e jovens - reclamam da falta de diálogo. Zidane raramente conversa com o elenco em grupo, preferindo reunir-se individualmente com alguns jogadores. A falta de alternativas de jogo e de mudanças táticas durante as partidas também incomoda, bem como a evidente queda física do time na segunda metade dos jogos. Contados apenas os resultados dos primeiros 45 minutos dos jogos, o Real Madrid seria o líder do Espanhol. 

As dúvidas sobre a capacidade de Zidane para comandar o time já chegaram à torcida e, nas últimas semanas, também às entrevistas coletivas do técnico. Na quarta-feira, dia prévio à vitória magra do time reserva por 1 a 0 contra o Leganés pela Copa do Rei, um jornalista perguntou ao treinador se ele estava achava que suas ordens tinham menos influência sobre os jogadores. “Se eu pensasse isso, teria de ir embora¨, respondeu.

Cristiano Ronaldo reclama com a arbitragem - GABRIEL BOUYS/AFP - GABRIEL BOUYS/AFP
Cristiano Ronaldo reclama com a arbitragem: mais um jogo sem gols do craque
Imagem: GABRIEL BOUYS/AFP
O impasse de Ronaldo

Não bastassem as questões envolvendo os jogadores e o treinador, esta semana trouxe um novo impasse: Cristiano Ronaldo já avisou à direção do clube que quer abrir negociações para renovar seu contrato.

De posse de suas cinco Bolas de Ouro - mesmo número de Lionel Messi -, Ronaldo pede um salário igual ao do argentino no Barcelona. Desde dezembro, o argentino tem um acordo de 35 milhões de euros anuais, contra 21 milhões do português, que renovou seu vínculo em 2016, com validade até 2021.

Nos últimos anos, o Real Madrid tem se rendido aos pedidos de seu jogador mais badalado. No entanto, o momento agora é diferente. Ronaldo vive momento complicado no clube, sobretudo em jogos do Espanhol, com apenas 4 gols marcados em 18 jogos. O nível das atuações também não ajudam, e até a torcida madrilenha parece considerar que o pedido foi feito em mau momento.

O site do jornal AS, tradicional tribuna da torcida madridista, fez uma enquete em que perguntava se Cristiano Ronaldo deveria continuar ou não no clube: até a noite de quarta-feira, 65% dos votos eram favoráveis à saída do português.