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Herói de título no Cruzeiro, Hudson fala em resgatar espírito copeiro no SP

Hudson fez gol decisivo na semifinal da Copa do Brasil conquistada pelo Cruzeiro - Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
Hudson fez gol decisivo na semifinal da Copa do Brasil conquistada pelo Cruzeiro Imagem: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/01/2018 04h00

Hudson deixou o São Paulo para defender o Cruzeiro na última semana de 2016. O volante havia perdido espaço no time, sofria com lesões e acabou trocado por Neilton, que não duraria seis meses no Tricolor. Um ano mais tarde, está de volta ao Morumbi, com uma imagem completamente diferente daquela deixada na transferência.

"O Hudson que vocês vão ver é um cara mais maduro. Melhor ainda do que em 2016, que foi meu melhor ano no São Paulo. Acho que é essa a imagem que ficou", disse o camisa 25, em entrevista ao UOL Esporte no CT da Barra Funda.

Em Minas Gerais, Hudson foi um dos heróis do título cruzeirense na Copa do Brasil ao marcar um gol decisivo na semifinal contra o Grêmio e converter um dos pênaltis na final contra o Flamengo. O bom desempenho causou longa negociação entre paulistas e mineiros e atraiu outros times no mercado. A torcida são-paulina via, de novo, um ex-jogador render mais e ser campeão atuando por adversários, como se tornou rotina nos últimos anos, e passou a pedir o retorno do volante. Agora, ele fala em entregar aos tricolores o mesmo espírito copeiro que o ajudou a prosperar em Belo Horizonte.

"O ambiente de trabalho é muito importante. Precisamos nos abraçar e olhar para uma direção só, independentemente de quem jogar ou não. Quando perde, perdem todos. Temos de ter essa consciência. O treinador tem de ter as escolhas dele e o grupo tem de trabalhar pelo melhor do São Paulo, saindo dessa situação de desconfiança para ser protagonista nos campeonatos. Essa é nossa missão. Que a gente se junte, forme um time unido e consiga transpor para campo a ideia da comissão técnica. Temos de nos acostumar a chegar em finais e estar na parte de cima das tabelas", projetou.

Na reta final da passagem pelo time celeste, Hudson sofreu grave lesão na coxa direita. A previsão mínima para voltar a jogar era de três meses, prazo que acaba nesta semana. O meio-campista de 29 anos segue programação especial para se livrar das dores que ainda o atrapalham, mas espera voltar a jogar em breve: "Eu trabalhei nas férias de quatro a cinco vezes por semana, com uma programação passada pela fisioterapia do Cruzeiro e pelo Ricardo Sasaki (chefe do Reffis no São Paulo). Fiz o máximo para voltar da melhor maneira possível, porque foi uma lesão um pouco grave".

Veja, abaixo, os principais trechos da conversa:

Conversa com Ceni e saída

Lembro que já tinha sido procurado duas vezes e o Gustavo [Vieira de Oliveira, diretor à época] barrou. Aí em dezembro de 2016, pouco antes do Natal, meu empresário ligou para dizer que de novo o Cruzeiro tinha procurado o São Paulo. E que naquele momento o São Paulo tinha interesse, por querer o Neilton. Eu falei para o Luciano (Couto, o agente) que ia ligar para o Rogério [Ceni] para saber a opinião dele. Ele disse que contava comigo, mas que estava buscando um homem de beirada, e me deixou à vontade para escolher. Acabei tomando a decisão de ir para o Cruzeiro. E graças a Deus fui feliz.

Passagem pelo Cruzeiro

Foi um ano que me surpreendeu, melhor do que o esperado. O Cruzeiro é um grande time, mas foi uma surpresa sair do São Paulo naquele momento. Eu tinha acabado de renovar meu contrato. Foi um ano bom, que foi evidenciado pela campanha na Copa do Brasil. Lá tive sequência e a grande maioria apreciava meu trabalho. Voltei mais fortalecido do que saí. A gente sonha muito com o que acabei vivendo. Foi uma realização profissional tremenda ser um dos protagonistas, porque o time do Cruzeiro era homogêneo. Fiquei feliz demais e vi que minha carreira estava em uma crescente.

Hudson foi capitão do São Paulo em boa parte da Libertadores de 2016 - REUTERS/Edgard Garrido - REUTERS/Edgard Garrido
Hudson foi capitão do São Paulo em boa parte da Libertadores de 2016
Imagem: REUTERS/Edgard Garrido

Novela sobre destino em 2018

Eles me chamaram depois do título da Copa do Brasil, me falaram para ficar tranquilo que iam resolver. Me chamaram várias vezes para tranquilizar. E tranquilo eu estava, por ter contrato com o São Paulo, um grande clube ao qual devo muito. Fui muito feliz aqui e estou feliz em voltar. Tinha essa oportunidade de ficar lá e essa demora incomodou, claro. Eu queria que as coisas tivessem se definido logo, para saber o que fazer da vida. Depois do título, veio a troca de diretoria e pode ter influenciado. Espero agora conquistar títulos no São Paulo, algo que ainda não tive.

São Paulo mutante nos últimos anos

O São Paulo amadureceu muito na marra ano passado. E eu amadureci muito lá, tive um ano muito bom de trabalho, com um grande treinador e uma grande conquista. Volto mais fortalecido, ciente da pressão e da cobrança da torcida. Encaro como mais um desafio e de forma natural. Vejo um São Paulo mais parecido com o de 2016 (entre os anos em que esteve no clube). Foi muito importante manter a base do elenco e a comissão técnica, dando sequência e confiança ao trabalho. Claro que precisa chegar reforço, para as seguidas competições, mas o caminho é certo. Em 2014 tinham muitas estrelas, com seis ou sete jogadores de nível de seleção, constantemente convocados ou com histórico em seleções. O mais importante é brigar sempre por título. Precisamos estar sempre nas cabeças.

Mais um líder no elenco

Hernanes saiu, mas ser capitão é uma coisa que não penso. Vai ser o cara de confiança do Dorival. Mas o mais importante é que haja mais do que uma liderança no grupo, algo que já temos de várias formas. Quem fala mais, quem dá mais exemplo. Cada um tem seu tipo de liderança, não é uma pessoa só. Não é mais como na época do Rogério, que ele tinha uma força pela história e pelo que ainda fazia em campo. O São Paulo teve que aprender a dividir essa liderança. A intenção é essa. Você conhecer a casa, os funcionários, o amadurecimento que tive aqui e no Cruzeiro me dão uma força, uma motivação para desempenhar meu papel da melhor maneira. A liderança é natural. Com o passar do tempo, pelo grupo jovem que temos, eles mesmo vão identificar os mais experientes para assumir a responsabilidade. Que possa ser um time que, independentemente do líder, todos pensem da mesma maneira, sem vaidade.
Hudson, volante do São Paulo - Erico Leonan/saopaulofc.net - Erico Leonan/saopaulofc.net
Hudson tem 121 jogos e apenas três gols com a camisa do São Paulo
Imagem: Erico Leonan/saopaulofc.net

Fase artilheira no Cruzeiro

É questão de liberdade mesmo. No Cruzeiro eu jogava com o Henrique que ficava ali como primeiro volante. Eu ia mais para a área, o que aumenta as chances. Entra mais como você joga, a liberdade que tem para chegar na frente. Cheguei a fazer até o terceiro homem do meio de campo, mas aqui no São Paulo quase sempre fui primeiro. Isso dificulta. Com (Juan Carlos) Osorio fazia uma função bem fixa na frente da área. O mais solto foi com o Bauza, mesmo o Thiago Mendes sendo o segundo. Ele não era um treinador que obrigava a ficar parado numa posição.

Interação com Calleri

Eu fiz uma amizade com ele aqui, apesar do pouco tempo. Foi uma passagem curta, mas marcante, por ele ser um cara trabalhador, que fez gols importantes na Libertadores, que a torcida valoriza muito. Quem sabe um dia ele possa voltar. A torcida vai ficar muito feliz e eu como amigo dele, também. Ficaram me mandando mensagem para ligar para ele (risos). Faz parte.

Libertadores é obrigação?

O São Paulo é um clube acostumado demais a viver a libertadores, é quem mais disputou entre os brasileiros. Então quando fica fora foge do normal. A gente tem essa missão de recolocar o São Paulo na Libertadores, para reviver aquelas quartas de Morumbi lotado, com a festa que a torcida sempre faz. Aquilo é bom demais para a carreira, dá uma motivação gigante para o jogador. A gente luta para viver tudo aquilo novamente.