Há 13 anos, J. Cesar viveu em um Fla com bombas, despejos e sem salários
De volta ao Flamengo, Julio Cesar encontrou a mesma camisa e torcida, mas um Rubro-negro muito, muito diferente daquele que deixou.
Ao voltar ao clube do coração, o camisa 12 entrou no túnel do tempo e lembrou das dificuldades que em nada sugerem o Fla dos tempos atuais. Salários atrasados e falta de condição adequada de trabalho eram parte do Flamengo que marcou a primeira passagem do jogador na Gávea. No aperto dos dias mais quentes, chegou a comprar um ar condicionado do próprio bolso, conforme seu próprio relato em sua apresentação.
Testemunha daquele Flamengo de vacas magras, Fernando lembra bem os "perrengues" passados. Companheiro do goleiro desde as categorias de base, o ex-zagueiro acha que o Fla "reinventou" seu dicionário e impediu que cenas desagradáveis voltem a se repetir.
"A gente não conhecia o Flamengo de outro jeito, só aquele que atrasava salário. O discurso era de que jogar pela instituição era mais importante que o dinheiro, mas ficamos até seis meses sem receber. Eu cheguei até a ser despejado por falta de pagamento do aluguel, que era de responsabilidade do clube. Como ainda era jovem e não ganhava muito, peguei dinheiro emprestado com o Beto e o Edilson", disse ele ao UOL Esporte.
Com muitos problemas de ordem política, o Flamengo dos anos 2000 fervia também fora do campo. Ora com times estrelados [e sem resultados expressivos], ora com equipes medíocres, o clube viveu dias para lá de conturbados na relação com os rubro-negros. E o goleiro foi protagonista.
Em 2002, uma invasão na Gávea confinou os jogadores ao vestiário. Enquanto o grupo se refugiava aonde podia, Júlio foi dos poucos que tentou dialogar com o grupo, que lançava morteiros e acionava extintores de incêndio. Já dentro da sala de musculação, o jogador foi agredido por um torcedor. Constrangido com o episódio, o então novato contemporizou à época:
"Me bateram mas não foi nada demais. Só me protegi".
Dois anos depois, já mais experiente, o goleiro não teve o mesmo fair play. Após uma derrota no Campeonato Brasileiro, o elenco enfrentou a fúria da torcida no Santos Dumont. Com poucos seguranças para proteger os jogadores, eles foram acuados pelos vândalos. O pai do ex-meia Zinho, hoje comentarista da Fox Sports, se envolveu em uma confusão e Julio Cesar, além do próprio ex-jogador, compraram o barulho e trocaram socos com um dos que protestavam. O torcedor caiu e o goleiro desferiu um chute na cabeça, correndo em seguida.
"Eu disse que não encerraria a carreira aqui e estou mordendo minha língua. Saí magoado e desiludido", recordou ele.
Outro episódio emblemático da época ocorreu no dia do anúncio de um novo técnico. Após a saída de Oswaldo de Oliveira, a cúpula promoveu Waldemar Lemos, irmão de Oswaldo e então assistente, ao cargo. Em uma estrutura de imprensa absolutamente improvisada, o diretor Eduardo Moraes foi questionado por dezenas de torcedores que acompanhavam tudo no local. Bastou o treinador ser nomeado para que os enfurecidos rubro-negros questionassem o dirigente e entoassem o coro de "Fora Waldemar", em uma cena que mais tarde viraria folclórica nas redes sociais.
Agora, com estrutura e salários em dia, o goleiro prevê três meses finais de carreira sob uma outra perspectiva. Sem a pressão de tempos atrás e dentro do conforto do Ninho, o goleiro dificilmente reviverá episódios como aqueles. Em paz neste capítulo final, Fernando confia até que o ex-companheiro mude seus planos:
"Nem sei se ele se aposenta depois de três meses, o Flamengo tem tudo para jogar três, quatro finais esse ano e o clube tem estrutura para alongar a carreira dele mais um pouco. É bom o Diego Alves ficar esperto".
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