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Agora técnico, ex-Palmeiras desafia gigantes no Paraná com folha de 80 mil

Maurílio pelo Palmeiras: agora ele é técnico no Paraná - Fernando Santos/Folhapress
Maurílio pelo Palmeiras: agora ele é técnico no Paraná Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

19/02/2018 17h00

Integrante do primeiro esquadrão montado pela Parmalat para o Palmeiras na década de 90, o atacante Maurílio ajudou na quebra do jejum de 20 anos sem conquista do Brasileirão no time de Wanderley Luxemburgo que foi bicampeão nacional em 1993-94. Depois, levantou a Copa do Brasil pelo Juventude na final de 1999 contra o Botafogo. Deixou saudades também na torcida do Paraná Clube, pelo qual foi bicampeão estadual e também da Série B em 1992.

Desde 2010 como técnico, Maurílio acrescentou o Silva ao nome profissional e começa a chamar a atenção no Sul do País. Neste domingo, seu Rio Branco - de Paranaguá, cidade de 150 mil habitantes a 100 km de Curitiba - desafiou o poderoso Atlético Paranaense na Arena da Baixada, com uma folha salarial quase 40 vezes menor. E segurou o time B do Furacão, conseguindo a vaga para a decisão da Taça Dionísio Filho, o primeiro turno do Paranaense, nos pênaltis, eliminando o time de melhor campanha e invicto na competição. É a primeira vez que o clube de 104 pode chegar a decisão no Paraná.

"Foi uma partida fantástica", disse Maurílio em contato com o UOL Esporte, "nos deparemos com um estádio fabuloso, um time que não tinha perdido na competição e nós fomos lá simplesinhos buscar o jogo. Tivemos uma noite inspirada do nosso goleiro e chegamos a essa final inédita. Os atletas estão muito felizes, muitos ainda não acreditando pelo fato de termos tirado o Atlético, mas futebol é isso: quando tem simplicidade no trabalho, competência, as coisas acontecem."

Gigantes não superaram o Leão de Maurílio

O treinador conseguiu que seu time evitasse um Atletiba na decisão do turno. O desafio não parou na Arena: no domingo que vem (25), será a vez do Rio Branco desafiar o Coritiba, atual campeão estadual, em jogo único no Couto Pereira. "Já jogamos com eles no campeonato lá no comecinho. Estávamos vencendo e acabamos tomando um gols no finalzinho. Mas eu creio que vai ser um grande jogo, de respeito mútuo, e eu espero que a gente consiga esse título tão importante para o Rio Branco e para Paranaguá."

Maurílio RB - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maurílio (E) ao lado do auxiliar Pichetti: gigantes do Paraná não superaram o Leão até aqui
Imagem: Arquivo pessoal

Com uma folha salarial de R$ 80 mil por mês e calendário garantido somente até maio, quando acaba o Paranaense, o Rio Branco já encarou os três times de Curitiba no campeonato - e está invicto. Empatou com o Coritiba na segunda rodada, 1 a 1 no Couto Pereira; venceu o Paraná por 2 a 0 atuando em Ponta Grossa, a 200 km de Paranaguá, por conta da falta de iluminação em seu próprio estádio, em jogo que o classificou para as semifinais; e segurou o Atlético na semifinal, 0 a 0.

"A estrutura é pequena. Temos um estádio próprio, campo de treinamento nele mesmo. Fizemos uma pré-temporada no CT Barcelos, de Copa do Mundo, tivemos uma atuação da diretoria fantástica em relação a isso. Tem dado um suporte para os atletas para tudo correr bem", relatou Maurílio sobre o "Leão da Estradinha", apelido do time do litoral do Paraná que voltou a jogar em seu estádio próprio em rompimento com a prefeitura pela administração do estádio da cidade, que já recebeu jogos da Série A brasileira.

"Nós tivemos a montagem do elenco em dezembro, trouxe do nordeste seis jogadores: o goleiro, zagueiro, lateral, volante e atacantes. Demos uma prioridade para atletas do Sub-23, que eram da casa. Temos dois jogadores na faixa dos 30, o restante até 24 anos. Temos alguns meninos mais novos, um grupo jovem e que deu liga."

Maurílio já se preocupa com o restante do ano. Se vencer o turno, estará com vaga na Série D e na Copa do Brasil. Mas só pra 2019. "Quando nós iniciamos o trabalho o objetivo era de chegar a uma das finais e alcançar a vaga de Série D e a Copa do Brasil. Sabemos que o paranaense é muito difícil, temos quatro equipes sempre à frente dos outros, Londrina, Paraná, Coritiba e Atlético. E graças a Deus tem dado certo. Só que no nosso campeonato aqui a vaga é pra um ano. Quando acaba o nosso estadual aqui, a gente tem que arrumar outro lugar para trabalhar." Para 2018, já estão classificados Prudentópolis, Cianorte e Maringá para a Série D enquanto que a Copa do Brasil já está em andamento.

Carrasco do Coritiba em 2017 teve destaque no Nordeste

Asa Maurílio - Coritiba/Divulgação - Coritiba/Divulgação
ASA de Maurílio derrubou Coxa da Copa do Brasil em 2017
Imagem: Coritiba/Divulgação

Desafiar o Coxa no Couto Pereira não é uma novidade para Maurílio, que se deu bem no estádio como jogador nos anos 90, com a camisa do Paraná, e também como técnico. Foi o alagoano ASA que ascendeu o pavio que resultaria no ano complicado do Coritiba em 2017, ao eliminar o time então comandando por Paulo Cézar Carpegiani da Copa do Brasil.

Maurílio trocou o Nordeste pelo Sul após 8 anos dirigindo equipes da região. Além do ASA, Ferroviário, Guarany de Sobral e o Uniclinic, todos do Ceará, antes de chegar ao Rio Branco. "É o primeiro, eu apostei nessa oportunidade pra ganhar mercado aqui no Sul. Tinha opções no Nordeste, você se lembra de mim no ASA? Em 2015 fui eleito o melhor treinador no Cearense pelo Uniclinic, chegamos à final. Fui eleito o melhor treinador também em Alagoas, eliminamos o Coritiba no Couto Pereira na Copa do Brasil, ganhamos aqui por 2 a 0."

Até aqui, Maurílio só rodou por equipes pequenas. "Eu comecei a trabalhar em 2010, não tive a chance de começar em grandes clubes como outros que jogaram neles, como eu também joguei. A minha chance foi em clubes menores e a gente vem se atualizando, um trabalho moderno, de atualidade. A minha opinião é de que coisas melhores virão. Se eu tivesse caído em algum clube grande de repente não teria trabalhos de destaque. Eu tenho aprendido muito, tenho pegado um alicerce forte, para quando pegar um grande clube, fazer um trabalho de excelência."

Maurílio não acha que "Academia" dos anos 90 é viável hoje

Sobre os tempos de Palmeiras, Maurílio é saudosista, mas não vê que o futebol brasileiro permita a formação de novas equipes como aquela. "Formar times como naquela época... eu acho diferente, o nível dos atletas é diferente. Você tem que ser mais tático, uma preparação física melhor. Antes era mais a qualidade dos atletas. Hoje são jogos mais rápidos, sem tanta criatividade, você tem que trabalhar bolas paradas. O momento de hoje é diferente daquela nossa época", diz, para relembrar: "Naquela época o futebol era diferente. Tinham jogadores que ficavam no clube cinco, seis anos. Foi formado um grupo que foi vitorioso demais, bi do Paulista, do Brasileiro, ganhou Rio-São Paulo... foi fantástico".

"Tenho boas lembranças de Wanderley Luxemburgo, Valdyr Espinoza, Jair Pereira, Carlos Alberto Silva, Otacílio Gonçalves. Já com uma certa idade fui me preparando para a função e pegando um pouco de cada. O futebol hoje é muito dinâmico, não posso dar uma só referência. Nós temos que nos atualizar a cada dia, com trabalhos de conjuntos, transições, posicionamento, situações de jogo. A gente se atualizou com o perfil "Maurílio", mas com algumas coisas dos treinadores que me ajudaram bastante no passado."