Topo

Governo comete erro em suspensões e abre brecha para polêmicas em Estaduais

Medina tem atuado normalmente, mas órgão de doping o relaciona como suspenso - Léo Lemos/Náutico
Medina tem atuado normalmente, mas órgão de doping o relaciona como suspenso Imagem: Léo Lemos/Náutico

Demétrio Vecchioli e Napoleão de Almeida

Do UOL, em São Paulo

01/03/2018 17h40

Informações erradas disponibilizadas pelo Ministério do Esporte abriram brecha para uma polêmica em pelo menos dois dos campeonatos estaduais do país, além da Copa do Brasil. O UOL Esporte identificou dois casos de atletas que aparecem como suspensos no sistema do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJDAD) e que estão atuando por seus clubes neste início de temporada. Até onde apurou a reportagem, a falha, porém, é do órgão ligado ao governo federal, não dos clubes. Por conta disso, o risco é baixo de que os casos levem as competições para uma possível disputa no tapetão.

Um desses jogadores é o lateral e meia Medina, titular do Náutico em três partidas do Campeonato Pernambucano, quatro da Copa do Nordeste e duas da Copa do Brasil. Quem buscar pelo nome dele no site da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), órgão ligado ao Ministério do Esporte, vai ver que ele aparece como estando cumprindo uma suspensão de dois anos, entre maio de 2016 (quando ainda defendia a União Barbarense, do interior de São Paulo) e 19 de maio de 2018.

Medina, porém, não está suspenso. Quando ele foi flagrado em exame antidoping, em partida da Série A2 do Paulista, em 2016, ainda cabia aos tribunais das federações e das confederações a responsabilidade pelos julgamentos. Ele foi suspenso preventivamente por 30 dias, depois definitivamente por quatro anos, sempre pelo TJD da Federação Paulista, mas seus advogados conseguiram reduzir a pena para dois anos.

Em dezembro de 2016, o caso chegou ao STJD, da CBF, quando o gancho caiu para oito meses, encerrando-se em 31 de dezembro de 2016. "

Leia: Brasileirão teve cinco atletas pegos no doping, mas nenhum foi suspenso

Livre para jogar, Medina atuou a temporada passada no Potros UAEM, do México. Em 19 de maio de 2017, finalmente o TJDAD foi instaurado e a responsabilidade sobre julgamentos passou a ser do órgão instalado em Brasília. Pelo que apurou a reportagem, o caso de Medina nunca passou pelo tribunal, tendo sido concluído ainda antes da existência deste. Ainda assim, a informação consta na lista oficial de atletas suspensos.

STJD Medina - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O advogado de Medina, Alessandro Kishino, se disse surpreso com a punição publicada no site da ABCD. "Estamos surpresos com isso, desconhecíamos essa informação. O atleta cumpriu integralmente sua suspensão, que está liberado para atuar desde o começo de 2017 e a ABCD tinha conhecimento disso, pois acompanhou o processo na Justiça Desportiva”, declarou em contato com o UOL Esporte.

Ex-corintiano Carlos Alberto vive situação semelhante

Famoso por ter jogado no Corinthians e ter adulterado sua idade, o volante Carlos Alberto é mais um jogador que aparece no site da ABCD como suspenso, mas não está. O jogador, que já jogou 10 partidas do Campeonato Catarinense, foi julgado em 30 de novembro de 2016 pelo TJDAD, recebendo uma suspensão de nove meses, a contar da data da coleta, em março.

O volante, de 40 anos, porém, nunca cumpriu a pena completa. É que, como chegou a mostrar o blog Olhar Olímpico em setembro, o resultado analítico adverso até então não era de conhecimento público. Ele disputou a Série D até junho e só foi intimado de sua suspensão preventiva em 8 de agosto. O gancho terminou em 30 de novembro. Ou seja: na prática, ele só cumpriu três meses e 22 dias da suspensão de nove meses imposta. Agora, está liberado para jogar.  

Aquela reportagem de setembro do Olhar Olímpico lançou luz sobre a falta de publicidade sobre as punições aplicadas pelo tribunal de Brasília, que não chegavam sequer à CBF. À época, o tribunal alegou que seguia uma série de regras que o impedia de expor atletas que não estavam suspenso ainda em segunda instância. Semanas depois, a postura foi alterada e duas listas - de atletas suspensos provisoriamente e dos já julgados - passaram a ser publicadas no site da ABCD.

Outro lado

Em contato com o UOL Esporte, o presidente da comissão antidoping da CBF, Fernando Solera, confirmou que Medina está apto a jogar, liberado pelo STJD, e prometeu pedir providências à ABCD quanto à publicidade da suspensão extinta.

Depois da publicação da matéria, o Ministério do Esporte enviou uma posição oficial à reportagem reconhecendo o erro e garantindo que o problema será solucionado:

"Os dados referentes aos jogadores Luiz Carlos Medina e Carlos Alberto de Oliveira publicados no site da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) estão desatualizados e serão corrigidos. Carlos Alberto de Oliveira recebeu uma sanção de nove meses, a contar de 1º de março de 2017, e já cumpriu todo o período de suspensão. Sobre Luiz Carlos Medina, a informação estava baseada na decisão do Tribunal de Justiça Desportiva do estado de São Paulo (TJD-SP). Entretanto, o atleta apelou para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que acolheu e reformou a decisão para reduzir a suspensão."

"O Ministério do Esporte lamenta o equívoco e reforça seu compromisso com a transparência e a divulgação correta de informações. A pasta intensificará a checagem dos dados publicados para evitar casos como os citados".