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Da escolinha à chuteira de Casagrande, pai foi maior incentivador de Fábio

"Seu Docão" foi um dos maiores incentivadores de Fábio desde a infância no MT - Pedro Vilela/Getty Images
"Seu Docão" foi um dos maiores incentivadores de Fábio desde a infância no MT Imagem: Pedro Vilela/Getty Images

Enrico Bruno

Do UOL, em Belo Horizonte

06/03/2018 04h00

Há uma semana, Fábio viveu um dos piores momentos de sua vida. Na véspera da estreia da Libertadores, ele perdeu o pai, José Ramão de Souza Maciel, vítima de um infarto. Mais que um progenitor, "seu Docão" foi um dos grandes responsáveis por incentivar o filho a se tornar quem é. Da escolinha de futebol amador, onde fez de tudo, ao primeiro par de chuteiras e a chance de começar a carreira, o goleiro sempre contou com o apoio incondicional do pai.

Fábio nasceu em Nobres, uma pequena cidade do Mato Grosso com cerca de 15 mil habitantes. Lá, o pai era dono de um clube amador chamado Ecoplan, onde o garoto conheceu o esporte. Apesar de ser o filho do dono, o ídolo cruzeirense não tinha regalias e era uma espécie de 'faz-tudo' do seu Docão. Foi o mascote e gandula do time, um ajudante geral que levava água gelada, engraxava chuteiras e separava as camisas dos jogadores.

"Cresci dentro de um time amador, ele tinha um. Era o melhor da cidade, tinha uniforme, o povo da cidade chamava de time modelo, e meu pai era apaixonado por futebol. Ele se empenhava muito, contratava jogador de fora, limpei muita chuteira, arrumei roupa, eu era mascote. Todo fim de semana tinha jogo, o domingão amanhecia lá em casa já nos preparativos de arrumar uniforme, almoço e depois a comemoração. Foram momentos maravilhosos que Deus me proporcionou na infância", comentou o goleiro, no último domingo.

Acompanhado de perto pelo pai, foi o contato com o esporte que proporcionou a Fábio moldar seus gostos e a trilhar sua futura carreira. A primeira mudança foi trocar o handebol pelo futsal. Depois deixou a zaga para se arriscar no gol, posição que o pai também tinha jogado. Das quadras, foi para os campos e precisou fazer a primeira grande decisão da vida: sair de casa para jogar futebol. Mais uma vez, contou com o pai para criar coragem e perseguir o sonho.

Primeiro presente foi um par de "chuteiras do Casagrande"

Aos 11 anos, Fábio saiu de Nobres pela primeira vez. Três anos mais tarde, percorreu mais de 1000 km para jogar no União Bandeirante, no Paraná, o primeiro clube da juventude. O primeiro par de chuteiras não poderia vir de outra pessoa. Seu Docão presenteou o garoto com as "chuteiras do Casagrande", pioneiro no Brasil a adotar o modelo branco da marca Hummel. A moda surgiu com Alan Ball, do Everton, no início da década de 1970, na Inglaterra. Dez anos mais tarde, o ex-corintiano trouxe a novidade para o Brasil, que ainda vivia a tradição das chuteiras pretas.

Do União Bandeirante, Fábio foi para o Atlético-PR e depois para o Cruzeiro, em 2000. Reserva de André Doring, o goleiro passou quatro anos emprestado ao Vasco antes de retornar para não mais deixar a titularidade da Raposa. No último domingo, que terminou com a vitória no clássico por 1 a 0 contra o Atlético, Fábio completou 18 anos do seu primeiro jogo com a camisa celeste. Atualmente, ele é o recordista de jogos em toda história do clube, podendo terminar 2018 batendo a marca de 800 serviços prestados.