Topo

Como sócio de Beckham e Chape fizeram Vinicius Eutrópio ir parar na Bolívia

A convite de Marcelo Claure, Vinícius Eutrópio (centro) assumiu o Bolívar em 2018 - @Bolivar_Oficial/Twitter
A convite de Marcelo Claure, Vinícius Eutrópio (centro) assumiu o Bolívar em 2018 Imagem: @Bolivar_Oficial/Twitter

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

18/03/2018 04h00

No dia 4 de janeiro de 2018, o Bolívar (BOL) surpreendeu ao anunciar o nome de seu novo treinador: Vinícius Eutrópio, que havia passado por Santa Cruz e Chapecoense ao longo de 2017. E o desempenho da equipe do brasileiro, até aqui, não é dos piores: além de ser o vice-líder de seu grupo no Apertura do Campeonato Boliviano (14 pontos, contra 20 do Jorge Wilstermann), o Bolívar estreou na Libertadores 2018 com dois empates, contra Delfín (EQU) e Colo Colo (CHI), ambos em 1 a 1.

Se a presença de um treinador brasileiro no futebol boliviano chama a atenção, uma questão pode ter ficado em segundo plano. Afinal, como é que Vinícius Eutrópio foi parar lá?

O grande responsável pela contratação é um empresário de sucesso na Bolívia, Marcelo Claure. Responsável pelo cargo de diretor internacional de marketing da Federação Boliviana de Futebol na primeira metade da década de 1990, Claure fez fortuna no ramo das telecomunicações. Em 1997, fundou a Brightstar, uma empresa com sede em Miami voltada à comunicação sem fio para o mercado da América Latina.

Com dinheiro no bolso, decidiu então investir no futebol. Em 2008, comprou a BAISA (Bolivar Administración, Inversiones y Servicios Asociados, S.R.L.), empresa que administra o Bolívar. Um ano depois, em parceria com o Barcelona, tentou iniciar um time em Miami na Major League Soccer (MLS), mas o projeto acabou naufragando.

Mas Claure não desistiu. Em 2013, a liga convidou David Beckham para liderar o projeto de um clube justamente em Miami. O ex-jogador inglês topou, e trouxe com ele alguns sócios – entre eles, Marcelo Claure. Aprovado no início de 2018, o time deverá estrear nos gramados norte-americanos em 2020.

Foi esta paixão pelo futebol que ligou Claure a Eutrópio. Procurado pelo empresário no fim de dezembro após indicações, o treinador viajou a Miami para conversar pessoalmente. Rapidamente, as duas partes se acertaram, viabilizando o anúncio do Bolívar já em 4 de janeiro.

Em pouco tempo, Claure ganhou a admiração do treinador. “Estou muito contente por ele ter me escolhido justamente por isso: por ser arrojado, inovador. Ele quis colocar um treinador brasileiro no mercado. Aqui (na Bolívia), foi uma surpresa grande – não pela capacidade ou experiência, mas pela nacionalidade, por ser um brasileiro”, contou o treinador, em entrevista por telefone ao UOL Esporte.

A relação com o dirigente, segundo o brasileiro, é bastante tranquila. Mesmo dividindo seu tempo entre La Paz e Miami, Marcelo Claure consegue acompanhar muito dos trabalhos do Bolívar antes de cada jogo.

“A gente se fala uma vez por semana – sempre obviamente em cima do planejamento, do time, dos jogadores. Inicialmente, ele me fez o convite para a entrevista passando todo o histórico: o que ele pensa do futebol, o que ele quer para o futebol do Bolívar”, diz Eutrópio, feliz também com o trabalho feito pelo clube na formação de jovens jogadores.

”Hoje a gente recebe toda semana uma categoria de base para fazer os treinamentos com a gente. A comissão técnica do sub-17, por exemplo, passa uma semana com a comissão técnica do profissional, auxiliando os treinamentos. Dois garotos das equipes de base estão sempre treinando com a nossa equipe profissional. Já fiz reuniões com 30 treinadores da base. Isso também foi um dos fatores que pesaram (no acerto). Minha relação com ele é justamente essa: é dar sequência a informações ao projeto que foi iniciado”, completou.

Para Eutrópio, pesou a possibilidade de trabalhar em um clube com grandes investimentos e a possibilidade de observar jovens jogadores, entre outros motivos. Para Claure, foram as passagens do treinador pela Chapecoense, em 2015 e 2017, que fizeram diferença. Com o crescimento da marca do clube catarinense no mercado sul-americano, Eutrópio também se valorizou.

“As minhas passagens pela Chapecoense marcaram bastante. Associa-se muito o meu nome àquela equipe que acabou sendo automaticamente campeã da Copa Sul-Americana (em 2016). Eles associam muito (o desempenho) à pessoa que montou o time, que deu uma transformada nos conceitos da Chapecoense. Hoje, a Chapecoense realmente tem esse peso internacional”, disse.

Meta: fazer história na Libertadores

Na Bolívia, Eutrópio encontrou também um cenário novo no futebol. Diante de uma grande concorrência entre treinadores no Brasil, o mineiro foi atraído pela possibilidade de desbravar um mercado pouco explorado. Assim, quem sabe, pode abrir as portas do futebol boliviano para os compatriotas.

“O futebol boliviano é como um desafio, uma abertura de portas para o mercado sul-americano aos brasileiros. Eu me sinto representante para que nós possamos ter mais espaço no futebol sul-americano, mostrar planejamento, organização, capacidade. Tenho certeza de que desta forma, estou incentivando outros clubes sul-americanos a contratar treinadores brasileiros”, disse o treinador, satisfeito com a mudança “em virtude também do mercado um pouco inchado no futebol brasileiro”. “Temos grandes treinadores que, no momento, não estão trabalhando justamente pelo número de treinadores”, completou.

Em seu novo clube, o ex-treinador da Chapecoense é só elogios aos jogadores – que, segundo ele, “chegam uma hora e meia antes do treino, fazem as refeições, concentram-se bastante para os treinamentos, levam bem a sério, interferem também quando é necessário”. Em 2018, a meta é clara: manter o alto desempenho do Bolívar, que foi campeão do Apertura e do Clausura em 2017.

Mais do que isso, porém, Marcelo Claure quer a Libertadores. O Bolívar é o responsável pela melhor campanha de um clube boliviano na história da competição (foi um dos quatro semifinalistas em 2014), mas quer sonhar mais alto – com uma vaga nas finais e, se possível, com um título.

Será que a meta continental é possível ainda em 2018? ”É claro que, nessa parte, a gente vai passo a passo. O primeiro desafio é classificar na chave de grupos, frente a dois campeões da Copa Libertadores (no mesmo grupo), o Colo Colo e o Atlético Nacional. Essas são as metas mais próximas agora”, diz Eutrópio.