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Garoto de 14 anos diz que organizada do SP o fez tirar brinco; torcida nega

Jorge Araujo/Folhapress
Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

20/03/2018 04h00

Só quem teve um clube do coração na adolescência sabe como as idas ao estádio são ainda mais empolgantes nesta idade. Mas a última vez que o jovem P. (cuja identidade foi preservada por ter apenas 14 anos) foi a um jogo do São Paulo, no último sábado, terminou em preconceito e medo... Por causa de um brinco. O garoto diz que teve de tirar o adereço na derrota por 1 a 0 para o São Caetano, no Anacleto Campanella, por pressão da torcida organizada Independente.

Ao UOL Esporte, P. disse que recebeu um cutucão no ombro ainda fora do estádio, quando ouviu uma ordem para que tirasse o adereço. Uma vez na arquibancada, viu membros da maior organizada do São Paulo discutindo com um grupo de torcedores do Tricolor pelo mesmo motivo.

"Um dos rapazes falou 'aqui é organizada, a torcida do São Paulo já é moiada'. Como se falasse que a torcida do São Paulo já é reconhecida como gay, então era para tirar o brinco. A discussão deve ter durado uns cinco minutos. Eu entrei em choque e já tirei. Virei para os meus amigos e falei para tirarem também. Eu disse que não precisavam saber, era só tirar. Coloquei dentro do meu documento e entreguei para a minha mãe no intervalo", relatou o menino.

O presidente da organizada negou a veracidade do que chamou de "boatos". Em contato com a reportagem, Henrique Gomes de Lima, mais conhecido como Baby, questionou se havia alguma filmagem da cena. "Não posso me posicionar, pois não vi", respondeu. O líder da Independente disse que vai apurar a história, mas alegou que os torcedores organizados que marcaram presença em São Caetano estão "longe do seu domínio".

Foi a indignação da mãe que chamou a atenção no Twitter. Também são-paulina como o filho, Cátia Teixeira se mostrou frustrada ao dizer que torcedores de seu próprio time teriam contrariado a educação que tenta dar ao menino. "Ele joga bola, quer ser jogador, e eu trabalho desde sempre a questão de respeito às mulheres, àqueles que são diferentes dele. E a organizada prega esse preconceito sem lógica… Que é contra tudo que a gente ensina e pratica em casa", disse a moça.

"Disseram para um cara perto dele que era para tirar os brincos porque ali era torcida organizada, e que não é para parecer veado. Fiquei p... da vida", lamentou. "Em vez de aproximarem os garotos novos, ficam com esse pensamento ultrapassado que afasta e intimida. O São Paulo nessa draga e os moleques super a fim de ir lá para apoiar, mas eles afastam", completou a mãe, que não impedirá o garoto de ir aos jogos do time que ama. Tampouco pedirá para que não use brinco.

O adolescente também reiterou o sentimento que nutre pelo clube. "Eu amo muito o São Paulo, então vejo que não faz sentido a Torcida Independente fazer isso. Pelo estado em que o São Paulo está, o estado que tá passando, a gente teria que apoiar o clube. Não proibir um rapaz de ficar perto da Independente só porque está de brinco. Todo mundo tem que apoiar o São Paulo", comentou.