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Ídolo de time que vive polêmica dá adeus após "virar" goleiro aos 42

Cláudio Britto é volante do União Barbarense, mas foi improvisado neste domingo - Acervo pessoal
Cláudio Britto é volante do União Barbarense, mas foi improvisado neste domingo Imagem: Acervo pessoal

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

27/03/2018 16h08

Depois de 22 anos como jogador profissional de futebol, Cláudio Britto não tinha maneira mais inusitada de pendurar as chuteiras: volante já veterano, ele foi improvisado como goleiro do União Barbarense no último jogo da carreira, disputado no domingo, em Santa Bárbara D'Oeste.

A utilização de um meio-campista de 42 anos no gol em uma partida da Série A3 do Campeonato Paulista se deve a uma grande polêmica que ronda o clube, rebaixado após o empate sem gols do último domingo: oito jogadores do time, além de um treinador, são acusados de entregar jogos para favorecer um esquema de apostas em troca de dinheiro. Dois destes oito jogadores são goleiros.

Originalmente, o União Barbarense tinha três goleiros inscritos no Estadual, mas dois deles foram dispensados após o vazamento das acusações e o terceiro jogador da posição se recusou a ir para o jogo do fim de semana porque não concordou com a divisão do valor da "mala branca" que o clube receberia de um adversário do Marília para ganhar ou empatar na rodada final. No dia do jogo, o time do interior de São Paulo se viu sem goleiro para entrar em campo. A solução? O goleiro do rachão.

"Tivemos a concentração livre para esse jogo e nos apresentaríamos momentos antes. Quando chegamos lá o goleiro não apareceu, não sabíamos se era problema particular, o que era, mas não tinha goleiro. Então o grupo começou a dizer que deveria ser eu, porque eu sempre brinquei de goleiro nos rachões. Disseram que eu tinha noção e eu falei "então vamos embora". Foi uma situação realmente bem inusitada, uma surpresa, mas fiz por razões de profissionalismo, de comprometimento e de amor ao clube. E foi uma experiência fantástica", relembra Britto, em entrevista ao UOL Esporte.

Em campo, pela primeira vez com o número 1 às costas, Cláudio Britto se lembra de três defesas: uma falta lateral em que o cruzamento na área foi desviado com um soco, um chute da entrada da área encaixado e um chute cruzado em que a bola foi colocada para escanteio. Os 105 torcedores que estiveram no estádio Antônio Lins Ribeiro Guimarães conseguiram cantar que o volante era "o melhor goleiro do Brasil". Quer dizer, nem todos... Alguns torcedores do União Barbarense estimulavam que o Marília chutasse no gol do goleiro improvisado porque uma vitória do Marília sobre o União poderia rebaixar o Rio Branco, rival histórico do time de Santa Bárbara. No fim, os três caíram.

Cláudio Britto, ex-jogador do União Barbarense - Claudio Mariano/Jornal Diário de Santa Bárbara D'Oeste - Claudio Mariano/Jornal Diário de Santa Bárbara D'Oeste
Em três tentativas do Marília, três defesas do goleiro improvisado e 0 a 0 no placar
Imagem: Claudio Mariano/Jornal Diário de Santa Bárbara D'Oeste

"Deu para mostrar que não sou tão bobo na posição. Mas rolou um frio na barriga, era muita responsabilidade. Jogando na linha nós erramos e corrigimos posicionamento, passe e tudo mais, mas goleiro não pode errar, tem que estar ligado o tempo todo, por uma bola define sua atuação. Mas quando surge um desafio o camarada tem duas posições: ou encara com a cabeça erguida ou desiste. Eu preferi encarar de frente e agora encerro meu ciclo fortalecido", revela Cláudio Britto.

Aos 42 anos, o volante que jogou pela última vez na carreira improvisado como goleiro pendurou as chuteiras. E as luvas. Foram 105 partidas em oito temporadas pelo União Barbarense, sendo que a última gerou brincadeiras de amigos, como os goleiros Thiago Passos, do Penapolense, e Walter, do Corinthians: "O único goleiro que começou e encerrou a carreira sem sofrer gol".

Cláudio Britto deve assumir o comando da escolinha social do União Barbarense e está "amadurecendo a ideia" de ser treinador, função que já ocupou de forma interina durante a Série A2 do Paulistão do ano passado, quando também foi auxiliar-técnico do próprio time de Santa Bárbara. Dentro do clube, o agora ex-jogador sonha em participar de uma restruturação, em que casos como os do último fim de semana não se repitam.

"Fiquei sabendo da denúncia na sexta pela manhã e desde então não consigo dormir, fico relembrando tudo o que vivemos e fico em choque, tentando achar respostas, a mente vagueando. Foi uma bomba que me pegou de surpresa, mas creio que vai ser esclarecido e o clube tem que ter um planejamento de reconstrução, precisa se reerguer. É para seguir o exemplo de quem trabalhou duro, como Novorizontino, Bragantino, Ponte Preta, e não de quem teve problemas e aceitou, como Paulista e União São João. Desejo que a gente aprenda com os erros porque sou apaixonado pelo União. Eu nunca disse não ao clube, haja vista essa partida no gol. Se quiserem contar comigo para ser porteiro, dar bom dia, boa tarde e boa noite aos sócios, estarei lá. Devo muito ao União", diz o ex-jogador, emocionado.

Cláudio Britto não é um dos oito jogadores acusados pela diretoria do União Barbarense de conspiração para manipular resultados.