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Atletiba de Páscoa histórico fez Atlético-PR mudar após goleada do Coritiba

Atletiba de 1995 completa 23 anos: Páscoa que entrou para a história dos clubes - Reprodução
Atletiba de 1995 completa 23 anos: Páscoa que entrou para a história dos clubes Imagem: Reprodução

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

31/03/2018 04h00

Era um domingo de Páscoa, como este deste final de semana (01/04), no já longínquo 1995. Naquele ano, no dia 16 de Abril, Coritiba e Atlético Paranaense entraram em campo pelo Campeonato Paranaense em uma rodada da fase classificatória do Estadual, sem o mesmo caráter decisivo do encontro deste Atletiba 376, o primeiro das finais de 2018, marcado para às 16h no Couto Pereira. Porém, mesmo sem valer taça, raros Atletibas são tão importantes quanto os daquele Domingo Santo.

Os times já haviam se enfrentado na primeira fase, com vitória do Coritiba por 1 a 0. Não havia Arena da Baixada: todos os grandes clássicos eram realizados no Alto da Glória, em acordo entre os clubes. Vez ou outra, o Atlético optava por mandar jogos no Pinheirão, mas havia voltado à velha Baixada em 1994 e tinha rompido com a Federação, dirigida por Onaireves Moura. Ambos estavam na segunda divisão nacional, após a virada de mesa no Brasileiro de 1993, que colocou 32 equipes na elite e blindou o “G12” de rebaixamento. E assistiam à soberania do Paraná Clube.

Os estaduais eram longos e ocupavam a primeira metade do ano. A partida em si, pareceu não acabar para os atleticanos, enquanto os coxas-brancas se deleitavam com a maior goleada imposta desde 1958, quando o placar foi invertido, à favor do Furacão, uma diferença de gols e que não foi repetida nos últimos 23 anos.

Capa Tribuna - Reprodução - Reprodução
Capa do jornal "Tribuna do Paraná" do dia seguinte ao clássico: vareio
Imagem: Reprodução

A primeira vez de Alex

“Foi meu 1º clássico”, contou o meia que é ídolo do Coritiba, em contato com o UOL Esporte. “Começaria jogando aquele dia. Mas o (técnico Paulo Cezar) Carpegiani mudou de ideia na última hora e comecei no banco. Rapidinho fizemos 2 a 0 e eu entrei, se não estou enganado no lugar do Claudiomiro. Faço a jogada do gol do Jetson. Faria o 5º gol, mas o China, zagueiro deles cortou minha frente e acabou fazendo contra”, relembrou Alex, hoje com 40 anos – na época, tinha 17.

Alex Atletiba - Heuler Andrey/Getty Images - Heuler Andrey/Getty Images
Alex pelo Coxa: Atletiba dos 5 a 1 foi o primeiro dele
Imagem: Heuler Andrey/Getty Images

O massacre começou logo aos 9 do primeiro tempo, com Brandão fazendo 1 a 0 para o Alviverde. Um minuto depois, Brandão fez o segundo dele. O gol de Jetson, citado por Alex, saiu aos 32, ainda na primeira etapa. Os times voltaram do intervalo e o Atlético diminuiu com o zagueiro Pádua. Mas o que poderia ser uma reação acabou virando um passeio: Brandão fez mais um, aos 34 e China, zagueiro atleticano, faria o 5º, contra. “Brandão era um goleador nato. Entrou para a história”, comentou Alex.

O Coritiba vive um 2018 de reformulação, após mais uma queda para a Série B. Mas, para Alex, nada pode ser pior que aquele momento. “(Eram dias) Péssimos. Pior momento da história do clube. Entre 1989, na canetada, até dezembro de 1995, foram horríveis. Apenas heróis jogavam ali”, comentou o ex-jogador, relembrando o rebaixamento do Coxa a partir de uma decisão administrativa da CBF, no fim da década de 80.

O narrador esportivo Carneiro Neto, que narrou o jogo na Rádio CBN na ocasião, se recorda das consequências da partida. “Eu lembro pouco do jogo em si, afinal transmiti mais de cem Atletibas nos meus 35 anos como narrador. O time do Atlético era muito ruim. O que mais marcou foi o fato de na segunda-feira o Petraglia ter me telefonado pedindo para indicar um nome para mudar a história do Atlético. Pedi tempo e indiquei ele mesmo. Dali em diante mudou tudo e eu tive o prazer de ajudar com espírito livre e só interessado em mudar a história. O Petraglia foi genial nos cinco primeiros anos da reconstrução do Furacão. O resto é história.”

A revolução atleticana

Arena CAP - RODOLFO BUHRER/REUTERS - RODOLFO BUHRER/REUTERS
Obras da Arena da Baixada: revolução atleticana começou em goleada rival
Imagem: RODOLFO BUHRER/REUTERS

Quem vê a Arena da Baixada, o CT do Caju e o luxo de o Atlético manter duas equipes profissionais na temporada 2018 pode não se recordar dos dias em que o clube vivia. “Eu peguei o Atlético, não tinha nem campo. Cuidamos do amador no Parque (Aquático, que foi trocado pelo terreno do CT), terminamos o estádio, com o Enio Fornea, o Paulo Abagge e o Valmor Zimmermann. Fui designando cada setor para cada um tocar. O Atlético não tinha recursos”, relembrou Hussein Zraik, presidente do clube em 1995. Ele foi convidado a renunciar ao cargo após a goleada.

“Houve uma movimentação do Mario Celso Petraglia, tivemos conversas. Era para ficar tudo tranquilo. Mas depois, pediram a minha renúncia, dizendo que o Mario estava com um projeto que era espetacular. Não tinha como crescer, o clube estava estagnado. Não tínhamos alimentação para os jogadores, fizemos um refeitório para os jogadores, com nutricionista. Hoje é espetacular, claro que veio Lei Pelé, televisão um monte”, contou

“Mas aquele jogo foi realmente fatídico. Não era para perder de 5 a 1, mesmo com todos os problemas. Mas no futebol é normal, se tem problema interno aparece no campo. Até o Brasil perdeu de 7 a 1. No futebol é tudo vitória. Se eu tivesse subido em 94, e quase subimos, se a Parmalat não estivesse no Juventude (que eliminou o Atlético na Série B 1994), realmente... se ganha, ganha. Se não ganha, dança. Nada teria acontecido se tivesse subido”, relembrou Zraik.

O ex-presidente também conta que Petraglia já articulava a posse antes mesmo dos 5 a 1. “Já estava, um mês antes, com o ambiente conturbado, muito difícil dentro do clube. Já estavam se mexendo, querendo um monte de coisa. Quando chegou no jogo, o Atlético já estava esfacelado internamente. Perdemos, me lembro bem”, disse, sobre o jogo que marcou a mudança.

Petraglia, apesar de ganhar notoriedade daquele ano para frente, já estava há mais de uma década no Atlético. “Ele era do clube, vivia dentro do clube. Éramos amigos desde 1985, quando ele era do financeiro do clube. Para o Atlético foi bom, muito bom. Claro que no meio do caminho teve problemas. Ele foi muito bom para o Atlético, até certo ponto, mas agora acho que teria que dar lugar para outro.” Zraik, porém, quer distância dos bastidores do futebol: “Só vou quando tem time bom. Somos torcedores, eu, meus netos. Mas futebol de novo, não.”

A ficha do jogo

Em tempos com internet discada, os registros daquele Atletiba são raros na rede. O Grupo Helênicos, que cuida da história do Coritiba, disponibilizou ao UOL Esporte a ficha daquela partida:

CORITIBA 5 X 1 ATLÉTICO

Local: Estádio Couto Pereira.
Data: 16 de Abril de 1995.
Árbitro : Ivo Tadeu Scátola.
Público pagante: 18.590 pessoas
Renda: R$ 147.409,00
Cartões Vermelhos: Mastrillo (CAP) e Jorjão (CFC)

Gols: Brandão (CFC) aos 9 e aos 10 min., e Jétson (CFC) aos 32 min. do primeiro tempo; Pádua (CAP) aos 12 min., Brandão (CFC) aos 34 min. e China (CAP, contra) aos 46 min. Do segundo tempo.

CORITIBA: Renato; Marcos Teixeira, Zambiasi, Gralak e Jorjão; Dida, Claudiomiro (Alex), Paulo Sérgio e Ademir Alcântara; Jétson (Marquinhos Ferreira) e Brandão. Técnico: Paulo Cézar Carpegiani.

ATLÉTICO: Gilmar; Júlio César, Pádua, China e Biro; Mastrilo, Leomar, Alaércio (Ednílson Pateta) e Luís Américo (Joílson); Paulinho Kobayashi e Carlinhos. Técnico: Sérgio Cosme

A decisão de 2018

Coritiba e Atlético iniciam a terceira decisão estadual seguida. Time de melhor campanha no geral, o Furacão ganhou o segundo turno e terá a chance de decidir em casa, mas nenhuma vantagem de resultados – em caso de empate, a decisão será nos pênaltis. O volante Pierre jogará como titular, no lugar de Deivid, suspenso. “Nestes jogos, o nível de concentração deve ser altíssimo. O título não será decidido neste primeiro jogo, mas temos que entrar atentos e fazer o que fizemos ao longo da competição. Se entrarmos com esse espírito, podemos alcançar um bom resultado”, disse o jogador ao site oficial do Atlético.

Já o Coxa tentará fazer valer o mando de campo depois de fazer a segunda pior campanha no segundo turno. Campeão do primeiro turno, o técnico Sandro Forner tratou a segunda taça abertamente como um período de testes. “Fizemos muitos testes até aqui, algumas coisas não aconteceram conforme nós gostaríamos. Tivemos algumas derrotas, algumas lesões. Mas, foi um período de muita experiência para todos. Lógico que as vitórias trazem muito mais confiança, mas estamos nos preparando para fazer jogos bem competitivos, com uma equipe que realmente tenha ambição de ganhar os jogos. Acredito que entraremos em um nível bem melhor do que estávamos”, disse ao site oficial do Coxa.