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Ex-Corinthians, jovem de 16 anos é alvo de seleções de Brasil e Portugal

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

02/04/2018 04h00

Logo cedo, um motorista pago pelo Everton, um dos clubes mais tradicionais da Premier League, chega para levar Pedro Neves e sua irmã Manuella para a escola. O garoto de 16 anos assiste apenas a meio período das aulas. Pouco depois do almoço, o mesmo motorista o pega para o treino na parte da tarde. Em seguida, o seu professor se dirige ao CT para repor a matéria que Pedro perdeu no colégio. Somente por volta das 20h, ele, enfim, retorna para casa.

A rotina não é fácil, mas a promessa brasileira sua a camisa para trilhar uma carreira de sucesso em gramados ingleses.

A mordomia de ter um motorista à sua porta para acompanhá-lo deixa claro que não se trata de qualquer jovem jogador. Ex-Corinthians, Pedro Neves abandonou o alvinegro paulista aos 12 anos como bicampeão da Copa Bandeirante, e agora é tratado como 'joia' no novo país após passar pelo Charlton e desembarcar recentemente no Everton.

O seu futuro não escapa aos olhos do mercado: ele já tem patrocínio da Adidas e está no centro de uma 'briga' entre Brasil e Portugal que promete esquentar.

O nome se encontra no radar da CBF, que o chamou para uma fase de treinos com a seleção sub-15 na Granja Comary, em Teresópolis. Ele não é estranho também aos portugueses, que já o convocaram mais de uma vez também. As suas raízes no país têm origem no avô.

Seria, então, um novo caso Deco?

O Brasil tenta se blindar e, em viagem do então coordenador Erasmo Damiani atrás de talentos na Europa, tomou conhecimento de Pedro através de indicação. Nessa faixa de idade, a caça por atletas costuma ser mais complicada devido à ausência de registros.

"Fiquei sabendo do Brasil apenas quando saiu a convocação e meu nome estava lá. É claro que foi um sonho realizado e não poderia ter ficado mais feliz", conta Pedro ao UOL Esporte. "Portugal também é outra excelente seleção, o sotaque é diferente, mesmo, fiquei confuso de vez em quando, falavam palavras que não conhecia, mas fiz amizades em ambas", prossegue.

"Hoje estou concentrado aqui e quero primeiramente me tornar um grande jogador para depois ver isso", completa.

Deixou o Corinthians para trás

Pedro Neves, ex-Corinthians - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Pedro Neves, ex-Corinthians
Imagem: Arquivo Pessoal

O atacante, que completará 17 anos em setembro, jura que ainda é cedo para definir o caminho que irá seguir e prefere se ater no momento ao Everton, a mesma equipe que revelou Wayne Rooney e outros atletas. Seria o primeiro caso de um brasileiro a chegar tão novo à Premier League, desbravar a base e se profissionalizar com sucesso no país.

Os gêmeos Rafael e Fabio, ambos ex-Manchester United, vieram com 18 anos, por exemplo.

"Sempre foi um sonho ir para a Europa por ter dupla nacionalidade. Seria muito bom para os meus estudos e para minha irmã, que é mais nova, também. E, claro, para o meu futebol, aprender um estilo diferente, europeu. Tive esse convite para teste no Charlton e acabei assinando em duas semanas", afirma Pedro.

"Quando jogava no Corinthians, tinha 11 anos e fiquei duas temporadas no clube. Ainda era muito novo e estava me acostumando ao campo quando surgiu essa oportunidade. A estrutura era boa, mas, comparado ao que temos aqui, a Europa está muito acima", continua.

Pedro Neves, também conhecido como Pepe, se assustou com os treinos diferentes e a correria nas primeiras semanas no Charlton. Em nada, se assemelhavam ao ritmo que tinha no Corinthians. Parecia que estava de Fusca e os seus companheiros de Ferrari. Mas logo se acostumou e hoje, quatro anos depois, nem mesmo o idioma é mais entrave.

Com a carreira comandada pela empresa Base Soccer, o atacante de estilo driblador, destro e que sonha em brilhar no futuro já recebe assédio do mercado e teve convites dentro do futebol inglês e até mesmo para se mudar para Portugal e defender o Sporting.

"Chamo a atenção por ser brasileiro, a gente se distingue na técnica, somos mais habilidosos. Procuro unir o útil ao agradável, aprender como os ingleses jogam, correm, marcam, mas mantendo o nosso estilo", finaliza.