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Polícia e MP deflagram operação contra manipulação de resultados na Paraíba

Sede da Federação Paraibana de Futebol foi alvo de busca e apreensão - Polícia Civil da Paraíba
Sede da Federação Paraibana de Futebol foi alvo de busca e apreensão Imagem: Polícia Civil da Paraíba

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

09/04/2018 08h45

Nesta segunda-feira (9), a Polícia Civil da Paraíba e o Ministério Público do estado deflagraram operação contra a corrupção no futebol paraibana intitulada Operação Cartola. De acordo com comunicado oficial emitido, o objetivo é "apurar os crimes cometidos por uma organização composta por membros da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Comissão Estadual de Arbitragem da Paraíba (CEAF), Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba (TJD/PB) e dirigentes de clubes de futebol do Estado". A manipulação de resultados é um dos focos da operação.

De acordo com as autoridades envolvidas, serão investigados dois núcleos: o primeiro, com cerca de 80 membros identificados, é formado por membros da FPF, da CEAF e dirigentes de futebol profissional. Este grupo, de líderes, é responsável pelas decisões mais importantes do futebol do estado.

O segundo núcleo é de pessoas ligadas à CEAF, à FPF e aos clubes e seria composto pelos responsáveis por executar as ordens do primeiro grupo.

Além de manipulação de resultados, a Operação Cartola investiga adulteração de documentos, interferência em decisões da justiça desportiva e desvio de valores relativos às partidas de futebol profissional realizadas na Paraíba.

Com apoio de 230 policiais civis do estado, foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Campina Grande e Cajazeiras. Por questão de sigilo, maiores detalhes só poderão ser divulgados ao fim da operação.

O UOL Esporte apurou que estão entre os alvos dos mandados Amadeu Rodrigues, presidente da FPF, Rosilene de Araújo Gomes, ex-presidente da FPF, José Renato, presidente da Comissão de Arbitragem, Lionaldo Santos, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva, Zezinho, presidente do Botafogo-PB, e Juarez Lourenço, presidente do Treze-PB, além dez árbitros.

Os envolvidos podem responder processo ao menos por organização criminosa, falsidade ideológica e manipulação de resultados, crime contra o Estatuto do Torcedor. As autoridades locais estão abertas a denúncias sobre o tema.

Operação Cartola investiga corrupção no futebol paraibano - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

STJD pode afastar presidente da Federação

Procurado pelo UOL Esporte, o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD, Felipe Bevilacqua, informou que o órgão tem poder para afastar o atual presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Amadeu Rodrigues, do cargo. Porém, precisa de provas concretas.

“Temos poder para afastar, sim, mas precisamos ter provas e documentos. Com base nas notícias [da imprensa] já posso requerer às autoridades documentos e o procedimento, mas eles não são obrigados a fornecer. O ideal seria os interessados nos fornecer as provas e documentos”, disse Bevilacqua.

Vice da Federação se manifesta

Atual vice-presidente da Federação e desafeto de Amadeu Rodrigues há longo tempo, Nosman Barreiro se manifestou sobre a operação e disse ser um dos autores das denúncias encaminhadas aos órgãos competentes. “Já foram protocoladas notícias de infração perante a comissão de ética da CBF, bem como serão adotadas as demais medidas cabíveis ao caso”.

Veja a nota do vice-presidente da FPF:

Eu, Nosman Barreiro, Vice-Presidente da Federação Paraibana de Futebol, venho por meio desta nota, esclarecer aos desportistas o acerca dos fatos noticiados sobre a operação cartola deflagrada hoje pelo Ministério Público da Paraíba em conjunto com a Polícia Civil.

Inicialmente, cumpre esclarecer que ao contrário do que fora dito pelo Sr. Marcos Souto Maior, advogado da FPF e um dos investigados nesta operação, o Sr. Nosman Barreira não está sendo investigado e sequer foi alvo de busca e apreensão, sendo este inclusive, um dos autores das denúncias encaminhadas aos órgãos competentes.

O futebol brasileiro tem passado por mudanças profundas em seu modo de ser administrado e as federações não podem mais ser comandadas por modelos de gestão reprováveis e sem transparência. Os clubes e entidade de administração do desportivo que têm obtido sucesso nos últimos anos  contam com gestões profissionais, transparentes e principalmente éticas.

Nos últimos anos, a Confederação Brasileira de Futebol também passou por significativas mudanças quanto ao seu modo de administrar, tendo sido criada a diretoria de Governança e Conformidade, bem como comissão de ética do futebol brasileiro.

Questiono neste momento, o que fora feito no futebol paraibano em relação a profissionalismo, transparência e ética? Respondo: absolutamente Nada.

Já foram protocoladas notícias de infração perante a comissão de ética da CBF, bem como serão adotadas as demais medidas cabíveis ao caso, que entendermos necessárias.

Não cessaremos em nosso busca por dias melhores, na  esperança de que o futebol paraibano possa ter estampada nas principais manchetes do noticiário nacional, não escândalos como o hoje, mas em especial o exemplo de gestão participativa de e entidade ética, voltada a mais absoluta transparência de seus dirigentes na condução de suas obrigações legais.

Buscamos de uma vez por todas expurgar o mal que assola nosso futebol, devolvendo a sua grandeza, com atenção especial a lisura e ao fair play nas competições organizadas pela FPF, sendo este o dever institucional que possuo na condição de vice presidente da instituição legitimamente eleito pelos meus pares para a defesa da instituição tão calejada pelos últimos acontecimentos.