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Lopetegui, Felipão e Zidane: por que os técnicos gostam tanto de Casemiro?

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona (ESP)

19/04/2018 04h00

Torreón, México, outubro de 2011. No café-da-manhã do hotel em que a seleção brasileira está hospedada, na véspera de um amistoso contra os mexicanos, um membro da comissão técnica de Mano Menezes diz, quase cochichando, a um pequeno grupo de jornalistas. “O Mano não vai mais convocar o Casemiro. Ele gosta dele, mas é muita marra”.

Pouco mais de uma semana antes, Casemiro havia estreado com a seleção no Superclássico com as Américas. O técnico até voltou a chamá-lo para amistosos, mas o volante, então no São Paulo, não entraria na lista de Mano Menezes para os Jogos Olímpicos de Londres.

Lisboa, Portugal, maio de 2014. Em meio à festa do Real Madrid pela décima conquista do clube na Champions League, Casemiro publica uma foto com a taça em seu Instagram. Nos comentários, o tom é de piada, como se ele não fizesse parte da conquista. É verdade que, na final, ele não havia ficado nem no banco de reservas; mas, ao longo da competição, tinha participado de seis jogos, um deles como titular. Dias depois, o Real Madrid anunciou o empréstimo do volante ao Porto.

Bilbao, Espanha, abril de 2018. Durante um evento que discute tendências e novidades do futebol mundial, Julen Lopetegui - treinador da seleção da Espanha - é surpreendido por uma pergunta que fugia ligeiramente do tema em discussão, a Copa do Mundo da Rússia. O tema? Casemiro. O que poderia explicar tamanha evolução de um jogador?

Lopetegui é, talvez, quem mais propriedade tenha para falar sobre o assunto. Foi ele o técnico do brasileiro no Porto, durante aquela temporada 2014-15 que serviu para o volante adaptar-se de vez ao futebol europeu, voltando logo em seguida para o Real Madrid, onde tornou-se peça fundamental na campanha do bicampeonato seguido da Champions League, algo até então inédito na era moderna do torneio.

“Eu acho que tenho pouca influência nisso. O mérito é todo dele. O Casemiro entendeu qual era o ponto forte dele, e passou a trabalhá-lo. É isso que explica tamanha evolução”. Ao lado de Lopetegui, Roberto Martínez, treinador da seleção da Bélgica, assentia com a cabeça.

“O Casemiro hoje é fundamental, tanto na seleção brasileira quanto no Real Madrid. É um jogador muito importante. E ser um jogador imprescindível no Real Madrid e na seleção brasileira é algo que não se consegue do dia para a noite. Ele conseguiu isso à base de um crescimento contínuo como jogador, e de querer crescer cada vez mais. Ele trabalhou muito em suas qualidades e aprendeu também a esconder seus defeitos. Isso o tornou capaz de competir num nível altíssimo. E a mentalidade que ele tem também foi algo definitivo”, detalhou Lopetegui minutos depois, em entrevista ao UOL Esporte.

Ainda em Bilbao, a lista de fãs de Casemiro ganhou mais um nome. Luiz Felipe Scolari, que participava do evento, fez questão de falar sobre o volante com Lopetegui. “É o que você dizia: ele sabe o que ele faz bem. Ele recupera a bola, passa e volta para a posição inicial. Ter um jogador assim é incrível”, comentou o gaúcho, em conversa informal com o colega espanhol.

O treinador do penta e os técnicos de Espanha e Bélgica, duas das seleções apontadas como favoritas para a Copa do Mundo, não são os únicos que se derretem por Casemiro. O comandante do brasileiro no Real Madrid, Zinedine Zidane, também já elogiou o volante inúmeras vezes. Nos bastidores do clube merengue, o francês costuma comparar Casemiro a Claude Makelelé, volante que tinha a função de marcar no time galáctico - e pouco defensivo - em que o próprio Zidane jogava com Figo e Beckham. Enquanto as estrelas brilhavam, era Makelelé quem segurava os ataques rivais. 

A versatilidade de Casemiro também é um dos motivos pelos quais Zidane o considera fundamental. Mais de uma vez, o brasileiro foi deslocado para jogar como zagueiro, diante de lesões dos jogadores da posição.

Desde que Tite assumiu o comando da seleção brasileira, Casemiro tornou-se titular absoluto, deixando o time apenas por lesão - quando deixou de enfrentar Bolívia, Venezuela, Argentina e Peru - e diante da Colômbia, para dar ao treinador a chance de fazer testes na posição.

Nos outros 11 jogos, jogou os 90 minutos, sem nunca ser substituído. Casemiro é indispensável. Uma situação bem diferente da que vivia há menos de 7 anos, num hotel de Torreón.