Topo

Santos não externa, mas crê em inocência de Lica e abre sindicância interna

Presidente do Santos, José Carlos Peres, aposta em sindicância interna na Vila Belmiro  - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC
Presidente do Santos, José Carlos Peres, aposta em sindicância interna na Vila Belmiro Imagem: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

20/04/2018 04h00

O Santos não assume publicamente para evitar polêmica, mas na inocência de seu dirigente das categorias de base, Ricardo Marco Crivelli, o Lica, que para o clube estaria sofrendo perseguição política. Esta posição é quase unanimidade em todos os departamentos do clube, principalmente na diretoria e nas categorias de base.

Lica é acusado pelo atleta Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, de 19 anos, de abuso sexual. O caso teria ocorrido em 2010, quando Lica trabalhava no departamento profissional do Santos. O jogador alega que foi abusado por ele quando tinha apenas 11 anos de idade.

Desconfiado de golpe político, o clube paulista abriu uma sindicância interna, formada por dirigentes do Conselho Gestor e das categorias de base. O grupo investiga, tenta encontrar histórias e até “entrevista” pessoas para saber algo desta acusação de pedofilia e ou até de eventuais outros casos. A diretoria santista diz ter uma “carta na manga” entre as testemunhas que já ouviu sobre o caso, mas faz segredo para que as investigações não sejam prejudicadas.

“O que o Santos fez é o que a lei manda, afasta o funcionário. Não pode demitir pois estaríamos fazendo juízo. A gente abriu uma sindicância interna para fazer um trabalho apurado. Esse é um ato de oito anos atrás, era a gestão do Luis Álvaro [de Oliveira Ribeiro, ex-presidente do clube, já falecido]. É uma folha de serviços prestados ao Santos, trouxe grandes jogadores ao Santos. não vamos aturar nenhum ato que desabone o Santos”, afirmou José Carlos Peres, presidente santista.

Publicamente, o discurso do dirigente não é de defesa a Lica. Peres alega que o Santos está acima de tudo e, se por acaso o dirigente for culpado, ele será o primeiro a se manifestar contra.

“Não defendi o Lica em momento algum. Conversei com ele e ele jurou que é inocente. Eu falei ‘então prove sua inocência na justiça’. Se alguém me acusa, vai ter que provar. Emprego? Não estamos contratando ninguém. Fechamos as portas para empresário do mal. Eu tenho um patrão, que é o Santos. Se usar meu nome eu processo, eu estou no clube há 40 anos. Minha carreira é imaculada”, concluiu.

Entenda o caso

Ricardo Marco Crivelli, que coordena a equipe de análise de atletas nas categorias de base do clube, foi acusado de pedofilia. A Delegacia de Repreensão e Combate a Pedofilia, em São Paulo, abriu inquérito para investir o suposto caso de abuso sexual.

UOL Esporte teve acesso ao Boletim de Ocorrência. Lica, como é conhecido o dirigente santista, foi acusado por Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, que alega ter sido abusado quando tinha apenas 11 anos de idade.

Fachada da Vila Belmiro - Ricardo Nogueira/Folhapress - Ricardo Nogueira/Folhapress
Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress
Ruan relata ter mudado do Pará para São Paulo em 2010, quando se instalou no ginásio do Ibirapuera e sofreu abusos de um empresário. Traumatizado, ele conta que recorreu ao irmão, que o indicou um outro intermediário. Este último o teria apresentado a Lica, então dirigente do Santos. Na casa deste intermediário, identificado como "Luciano", Ruan teria sofrido o abuso. 

“Lica passou a aliciar a vítima e passar a mão em seu corpo, pegando em seu órgão genital e iniciando sexo oral, e após alguns dias a vitima foi até o time do Santos, fez uma avaliação e jogou por um ano e meio”, diz o boletim de ocorrência. Ruan permaneceu no clube por um ano e meio e, na mudança de categoria, teria protestado contra os abusos de Lica, que então o teria dispensado.

Nas últimas semanas, Ruan teria tentado voltar ao futebol por intermédio do mesmo Luciano, que o indicou Lica - hoje de volta ao Santos. Em depoimento, Ruan disse que a lembrança dos ocorridos o fez tomar a atitude de denunciá-lo. 

Por conta das acusações, Lica foi afastado de suas atividades no Santos. O clube alega que tomou esta postura para que o dirigente centralize seus esforços apenas em sua defesa.

A diretoria santista ainda ressalta nos bastidores que o seu profissional sofre de conspiração política, pois o mesmo teria dispensado muitos jogadores de empresários e vetado a entrada de outros atletas no clube. Além de dirigente da base alvinegra, Lica também é sócio do presidente José Carlos Peres na empresa Saga Talent  Sports & Marketing.