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Meia que recusou o Brasil deslancha e vira 'novo Príncipe de Mônaco'

Rony Lopes, meia que recusou o Brasil, brilha em Monaco - Valery Hache/AFP Photo
Rony Lopes, meia que recusou o Brasil, brilha em Monaco Imagem: Valery Hache/AFP Photo

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (POR)

25/04/2018 04h00

O Monaco perdia por 2 a 1 para o Lyon, fora de casa, ainda em outubro. Quando retornava do intervalo, Rony Lopes foi parado pelo repórter Laurent Paganelli, da emissora Canal +, para comentar a derrota parcial e foi surpreendido com o técnico Leonardo Jardim, que vinha logo em seguida e, nervoso, o empurrou de volta para o campo.

Um dos nomes mais promissores da Europa no banco de reservas, Jardim carrega a fama de antipático e costuma ser ‘odiado’ pelos jornalistas.

A sua ‘cara’ brava funciona com os jogadores, no entanto. Rony é uma das provas disso. Natural de Belém, no Pará, o meia-atacante de 21 anos que recusou o Brasil para defender Portugal atravessa o melhor momento de sua carreira, marcou nove gols nos últimos oito jogos da Liga Francesa e, entre os seus compatriotas, dizem ser superado apenas por Cristiano Ronaldo no exterior.

Não é pouco. Longe disso. E tem servido para turbinar a sua moral na convocação para a Copa do Mundo.

Fora do Brasil desde os quatro anos, ele adotou Portugal como o seu país e foi chamado pelo técnico Fernando Santos para amistosos no fim de 2017. Em paralelo a isso, enfrenta uma dura concorrência por vaga: além de CR7, briga com Ricardo Quaresma, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes e Gelson Martins.

Os números têm jogado a seu favor e, com o grupo ainda em aberto, como sinalizou Santos em entrevista recente, conta com um forte lobby para a sua ida à Rússia: impulsionado por Jardim e sua marcação cerrada, ele foi batizado de ‘novo Príncipe de Monaco’. Ganhou as páginas do L’Equipe, principal jornal esportivo local. Foi parar no espanhol Marca. E está pronto para bater asas.

É a nova mina de ouro dos monegascos, que sempre lucram alto no mercado. Protagoniza a façanha de carregar uma equipe que tinha tudo para se contentar com a Liga Europa e hoje está próxima de se garantir na Liga dos Campeões.

Mesmo na goleada recente de 7 a 1 sofrida para o PSG, foi um dos poucos a se salvar em campo e, como não poderia deixar de ser, marcou o gol de honra do clube. Recebeu nota 4, a maior entre seus companheiros no Parque dos Príncipes.

Ao fim da partida, o Monaco anunciou que reembolsaria os torcedores que pagaram ingresso para ver o jogo. Talvez eles abrissem mão da cortesia se vissem outros como Rony Lopes no gramado.

Família ao lado e ligação através da música

Com uma canhota que encanta, Rony, cujo apelido é inspirado em Ronaldo Fenômeno, chegou a ser sondado por Alexandre Gallo, ex-diretor das seleções de base na CBF, em um giro pela Europa atrás de talentos em 2014. Gallo tentou convencê-lo a jogar pelo Brasil na Olimpíada do Rio, porém, ouviu ‘não’ como resposta.

Ainda assim, o país se mantém presente na vida do meia-atacante. A família está sempre ao seu lado e o pagode é o estilo favorito nos pré-jogos.

De acordo com as regras da Fifa, uma vez que atuou em uma partida oficial por Portugal, ele não pode mais defender a seleção. A sua estreia aconteceu em novembro do ano passado, em amistoso com os Estados Unidos.

"Portugal me deu tudo e eu estou disposto a tudo por Portugal", disse ele em entrevista ao site Maisfutebol. "É verdade que nasci no Brasil, mas me formei como pessoa e como jogador em Portugal, no Poiares (na região de Coimbra) e no Benfica, que estão no meu coração”, completou.

Ex-seleção da Dinamarca comanda a carreira

Rony Lopes, do Monaco - Christophe Archambault/AFP Photo - Christophe Archambault/AFP Photo
Imagem: Christophe Archambault/AFP Photo

Nada de Jorge Mendes, super-agente que cuida de Cristiano Ronaldo e outras estrelas. Ou mesmo Carlos Gonçalves, outro forte empresário português. Os próximos passos da carreira de Rony Lopes estão nas mãos do dinamarquês Mikkel Beck, que trabalha também com o compatriota Simon Kjaer, do Sevilla, e com o francês Lucas Digne, do Barcelona, entre outros.

Com passagens pela seleção dinamarquesa e clubes mais modestos, Beck tem no luso-brasileiro o seu principal cliente e deve faturar alto com a sua excelente fase no Monaco.

As suas atuações pelo time do Principado o recolocaram no radar europeu após uma fase de oscilação que coincidiu com o seu processo de maturação. Ele trocou o Benfica pelo Manchester City ainda cedo e se tornou o atleta mais novo da história dos ingleses a marcar em competições oficiais, aos 17 anos.

Agora, com 21, pode estar pronto para fazer o caminho de volta à Premier League.