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Namoradas, caso Madonna e conexões com o poder. A trajetória de Del Nero

Marco Polo Del Nero em aparição no Carnaval do Rio com a ex-namorada Carolina Galan - Zanone Fraissat/Folhapress
Marco Polo Del Nero em aparição no Carnaval do Rio com a ex-namorada Carolina Galan Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

27/04/2018 13h03

Afastado do futebol pelo resto da vida, em decisão anunciada pela Fifa nesta sexta-feira, Marco Polo Del Nero vê chegar ao fim uma biografia pública de habilidade política em gabinetes e extravagâncias. O ex-presidente da CBF foi punido pela entidade internacional em razão de envolvimento em casos de propina na venda de direitos de transmissões de competições. 

Foram mais de quatro décadas de ascensão em cargos burocráticos no esporte, numa trajetória que ganhou evidência principalmente neste século, com o uso da principal cadeira na Federação Paulista para ganhar território político no cenário nacional – e também pelos casos numerosos com namoradas bem mais jovens. 

Cartola criado em funções burocráticas no Palmeiras

Marco Polo se envolveu com o futebol muito cedo, em razão da influência do pai, José Del Nero, ex-jogador com algum sucesso atuando pelo Palmeiras na década de 40. Aos poucos o futuro presidente da CBF foi crescendo na política interna do clube. Em 1971, acabou nomeado diretor da Comissão de Sindicância. Depois, exerceu funções de diretor jurídico, diretor de futebol e secretário do Conselho de Orientação e Fiscalizador do clube, até ser indicado como benemérito e conselheiro vitalício.

Já na década seguinte, em 1985, Del Nero passou a integrar o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de Futebol, espaço onde exerceu a presidência de 1988 a 2002. Em seguida sucedeu a Eduardo José Farah na entidade estadual, em cargo que ocupou até 2015, até chegar ao comando da CBF.

Antes disso, em 2006, Del Nero foi indicado para ser o chefe da delegação da seleção na Copa da Alemanha. Já em 2012 foi indicado para substituir Ricardo Teixeira no Comitê Executivo da Fifa.

Romário como desafeto

Del Nero e Marin - Daniel Marenco - Daniel Marenco
Del Nero com o antecessor Marin: influência na CBF mesmo antes de assumir
Imagem: Daniel Marenco

Antes mesmo de assumir a CBF, Del Nero já era visto como o "homem-forte" da entidade, atuando como vice de José Maria Marin. A deflagração do escândalo de corrupção na Fifa em 2015, no entanto, deu início à derrocada do dirigente. O brasileiro escapou da prisão ao deixar Zurique às pressas, e desde então evitou deixar o país para evitar ser detido por autoridades internacionais.

Em seguida virou alvo do senador Romário (Podemos-RJ) na CPI do Futebol, em Brasília, onde contou com suporte político do grupo de parlamentares conhecido como "bancada da bola", incluindo o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), antigo sócio de Del Nero em um escritório de advocacia. O ex-jogador apresentou um texto alternativo que pedia o indiciamento do presidente da CBF, mas o relatório aprovado de autoria do senador Romero Jucá (MDB-RR) não continha o pedido.

Constrangimento em "caso Madonna"

Um dos episódios mais controversos da biografia pública de Del Nero como dirigente aconteceu no final de 2008. Na época, então como presidente da Federação Paulista de Futebol, o cartola denunciou que um envelope com ingressos do show da cantora Madonna no Morumbi haviam sido enviados ao árbitro Wagner Tardelli, que no dia seguinte à denúncia apitaria São Paulo x Goiás, jogo decisivo do Campeonato Brasileiro daquele ano (o juiz acabou afastado previamente da partida).  

Del Nero acabou punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) depois da comprovação da inocência de Tardelli no episódio. O dirigente pegou 90 dias de suspensão na oportunidade. De quebra, o São Paulo negou envolvimento no caso e rompeu pontualmente relações com a FPF.

Atração por mulheres jovens

Del Nero e a ex-namorada Carol Muniz - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Del Nero e a ex-namorada Carol Muniz
Imagem: Reprodução/Instagram

Desde que chegou ao patamar de dirigente de topo de hierarquia do futebol brasileiro, Del Nero começou a chamar atenção também pela exposição de sua vida social. O cartola é um namorador assumido, com casos públicos com bonitas mulheres – boa parte delas com o perfil semelhantes, ex-capas de revistas, cerca de 40 anos mais jovens que o parceiro.  

Foi assim com Katherine Fontenele e Carol Muniz, esta última ex-musa do Bahia. Antes, Del Nero viveu um romance com Carolina Galan, então funcionária da Federação Paulista de Futebol. O relacionamento acabou após o cartola ser envolvido em uma investigação sobre uma quadrilha que vendia serviços de grampo telefônico. Em depoimento à Polícia Federal em 2012, o dirigente afirmou que contratou a empresa para "saber se a namorada estava lhe traindo".

Mesmo na fase galanteador, Del Nero costumava dizer que o grande amor de sua vida foi a mãe de seus três filhos: Marco Filho, Carla e Vinícius. "Sei que sou namoradeiro e as outras namoradas vão ficar bravas, mas a verdade é que o grande amor da minha vida foi minha primeira e única mulher, a Márcia. Ela me deu três filhos e foi a base da minha vida", declarou o dirigente em entrevista à revista Veja SP.

Coronel Nunes assume a CBF

Além do afastamento anunciado nesta sexta, a Fifa também informou que Marco Polo Del Nero terá de pagar multa de 1 milhão de francos suíços, o equivalente a R$ 3,5 milhões. Em seu comunicado, a entidade afirma que o brasileiro é considerado culpado por violar artigos do código de ética que dizem respeito a suborno, corrupção e conflitos de interesse, lealdade e regras gerais de conduta.

Com o banimento, Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, assume de maneira definitiva a presidência da CBF - vice mais velho da entidade, o cartola da Federação Paraense já ocupava o cargo durante a suspensão preventiva de Del Nero. Eleito no último dia 17, Rogério Caboclo assumirá o comando da entidade apenas em abril de 2019.

Del Nero já cumpria suspensão preventiva imposta pela Fifa por conta de investigação aberta pela Comissão de Ética da entidade em 2015. O dirigente é acusado de ter recebido subornos em troca de favorecimento a empresas em contratos para os direitos de mídia e marketing de vários torneios de futebol, incluindo Copa América, Copa Libertadores e Copa do Brasil.