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Brasileiro ídolo no Oriente Médio: "Maradona não tem nível como técnico"

Técnico Jorvan Vieira conquistou o acesso nos Emirados Árabes - Arquivo pessoal/Jorvan Vieira
Técnico Jorvan Vieira conquistou o acesso nos Emirados Árabes Imagem: Arquivo pessoal/Jorvan Vieira

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

01/05/2018 04h00

Depois de quase um ano como técnico nos Emirados Árabes Unidos, Maradona foi demitido do Al Fujairah após não conseguir a vaga para a primeira divisão do campeonato nacional de forma direta - o time dele foi o terceiro colocado. Um dos times classificados para a elite é o Ittihad Kalba, comandada pelo brasileiro Jorvan Vieira, ídolo em países do Oriente Médio. Neste período, ele pôde acompanhar mais de perto a personalidade e o trabalho do argentino, e não gostou nada do que viu.

Em entrevista ao UOL Esporte, Jorvan Vieira, que deixou o Brasil em 1979 rumo ao Qatar e virou até nome de estádio no Iraque depois de conquistar a Copa da Ásia, conta que dentro de campo "a palavra mais bonita que Maradona falava era hijo de p... (filho da p.., em português)" e diz que o ídolo argentino "não tem nível nenhum" como pessoa e nem como treinador.

Com passagens por 22 clubes e seis seleções no Oriente Médio, Jorvan Vieira não deixa de elogiar Maradona quando o assunto é o que ele fez dentro de campo como jogador. Porém, afirma que a história é totalmente diferente fora das quatro linhas.

Maradona atualmente comanda o time do Al-Fujairah, em Dubai - REUTERS/Stringer - REUTERS/Stringer
Imagem: REUTERS/Stringer
"Ele do banco de reservas, quando jogava contra mim, a palavra mais bonita que ele falava era hijo de la p..., porque eu falava da arbitragem e ele metia pressão, e eu falo muito quando estou na beira de campo, e ele para mim: ‘hijo de la  p..., no adelanta [filho da p..., não adianta]’... Quer dizer, ele não tem nível nenhum, é uma pessoa que não tem nível nenhum, não pode nem ser classificado como treinador. Ele não faz parte da elite de treinador, ele faz parte da elite de grandes jogadores, sem dúvida nenhuma, mas elite de treinador, não”, diz o brasileiro.

“Ele usa o nome dele para poder se promover e dizer que é treinador, mas ele não é treinador nem aqui nem na China. O Maradona fazia muita pressão em cima da arbitragem; cada vez que ele achava que era uma falta ou que podia dar um pênalti ele vinha em cima do quarto árbitro, fazia muita pressão principalmente nos jogos em casa, os árbitros andavam sob pressão. Ele usava a imagem dele e os jornais daqui só botavam fotos da equipe dele, do treino dele, as outras equipes não existiam para os jornais. O Sheik deu todo apoio para ele, mas perderam a possibilidade de subir para a primeira divisão direto e, uma hora depois do jogo, o Maradona foi mandado embora. Ele tentou ligar para o Sheik e o Sheik não respondeu o telefonema”, conta o treinador.

Idolatria que aumenta...

Técnico brasileiro Jorvan Vieira é carregado pelos jogadores do Ittihad Kalba após acesso nos Emirados Árabes - Arquivo pessoal/Jorvan Vieira - Arquivo pessoal/Jorvan Vieira
Imagem: Arquivo pessoal/Jorvan Vieira
Há quase 40 anos no mundo árabe, Jorvan Vieira não para de aumentar sua legião de fãs. O acesso com o Kalba - clube tradicional da primeira divisão dos Emirados que foi rebaixado no ano passado - certamente contribui para isso. O time, que tem as cores da sorte de Jorvan (amarelo e preto), acumulou apenas uma derrota em 11 jogos no returno e bateu recorde.

“No returno eu tive oito vitórias, dois empates e uma derrota. Marcamos 27 gols e sofremos 13, e batemos recorde na segunda divisão com seis vitórias seguidas”, comemora Jorvan, que reclama da arbitragem no único revés do segundo turno, justamente para a equipe do ídolo argentino: “A derrota foi justamente para a equipe do Maradona em casa, por 2 a 1. Eles fizeram 2 a 0, nós diminuímos e metemos pressão para cima deles. O árbitro deu quatro minutos de acréscimos, mas resolveu acabar dois minutos antes dos quatro de acréscimo. Nós estávamos pressionando muito e, como eles manipulavam a arbitragem, o árbitro acabou nos 2 a 1”, lamenta Jorvan.

Ittihad Kalba, time do técnico brasileiro Jorvan Vieira, comemora acesso nos Emirados Árabes - Arquivo pessoal/Jorvan Vieira - Arquivo pessoal/Jorvan Vieira
Imagem: Arquivo pessoal/Jorvan Vieira
Jorvan lembra que, quando assumiu o Kalba, a equipe estava na terceira colocação, a sete pontos do time de Maradona, segundo colocado. Vale ressaltar que, nos Emirados Árabes Unidos, apenas os dois primeiros classificados da segunda divisão conquistam o acesso de forma direta. O terceiro e quarto jogam contra os dois últimos da primeira divisão para definir quem fica na elite.

“Quando eu cheguei aqui eu encontrei a minha equipe em terceiro, a sete pontos de distância da equipe do Maradona, que sempre mantinha a equipe em segundo lugar. E fomos caminhando até igualarmos a equipe do Maradona. A três rodadas do final ficamos pau a pau em segundo lugar, com os mesmos números de pontos, mas perderíamos para eles se acabasse o campeonato naquele dia por causa do confronto direto. Mas nós terminamos com 46 pontos e o time do Maradona com 43. O primeiro foi o Baniyas, que já tinha mantido uma distância. Agora o time que não tem mais o Maradona vai jogar o playoff contra o último colocado da primeira divisão para saber se vai subir ou se o último colocado permanece na primeira divisão”, explica.