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Impugnação de final do Paulista vira ringue de disputa de poder na CBF

Jogadores de Palmeiras e Corinthians cercam Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza - THIAGO BERNARDES/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Jogadores de Palmeiras e Corinthians cercam Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza Imagem: THIAGO BERNARDES/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Pedro Ivo Almeida e Pedro Lopes*

Do UOL, em São Paulo

11/05/2018 04h00

Por trás da tentativa do Palmeiras de impugnar a final do Campeonato Paulista, que chegou ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva nesta quarta-feira, há algo maior: a disputa política pelo controle do futebol brasileiro. Uma análise do mérito caso pelo STJD colocaria nas mãos de um tribunal ligado à CBF o destino do Paulistão, organizado pela Federação Paulista, que tem no presidente Reinaldo Carneiro Bastos o principal adversário político da confederação nacional.

Para diferentes fontes ouvidas pelo UOL Esporte, o Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP) age para tentar evitar que isso ocorra.

Desde a polêmica final, o TJD-SP vem rejeitando, repetidamente, os pedidos do Palmeiras, sem entrar no mérito do assunto (analisar se houve ou não interferência externa na arbitragem).

Primeiro não acolheu pedido alternativo do clube para impugnar a partida quando abriu o inquérito para investigar; com o inquérito finalizado, a procuradoria decidiu não oferecer denúncia; por fim, quando o alviverde pediu ele próprio a impugnação, a avaliação do TJD foi de que o prazo havia se esgotado.

As decisões têm sido contestadas por advogados que atuam no TJD, mas preferem não se identificar. Em artigo publicado na semana passada, o advogado Mario Bittencourt, que defendeu o Fluminense no "Caso Heverton", chamou o argumento da perda de prazo de "cortina de fumaça" para se evitar a análise do mérito.

Para advogados e pessoas ligadas ao próprio TJD-SP, a movimentação tem uma raiz: se a corte julga o mérito, o Palmeiras passa a ter, automaticamente, o direito a rediscutir a decisão no STJD. O órgão então ficaria com a faca e o queijo na mão para anular a final do Paulista, desferindo um golpe fortíssimo em Carneiro Bastos, que tentou articular candidatura de oposição na CBF.

A FPF afirma a independência entre ela própria e o TJD, e, por isso, não comenta o assunto. Há, entre quem atua no TJD, auditores e advogados, o sentimento generalizado de que, caso o tema chegue ao STJD, a final do Paulista deve ser anulada. As fontes acreditam em influência grande do ex-presidente Marco Polo Del Nero, mesmo banido do futebol pela Fifa, sobre a CBF e o próprio STJD. Em março, Carneiro Bastos chegou a dizer que "Del Nero acabou" em entrevista a diversos veículos de imprensa.

A disputa política gera um ciclo de receios e incerteza: de um lado, medo de que a subida do caso ao STJD sirva de munição e se transforme em uma anulação do Paulista. Do outro, o receio de que o TJD paulista, sabendo disso, esteja agindo para evitar esse desfecho. O primeiro aflige pessoas do próprio tribunal estadual e até gente ligada à FPF; o segundo, dirigentes do Palmeiras e pessoas que atuam no direito esportivo paulista.

Procurado pelo UOL Esporte, o presidente do TJD-SP, Delegado Olim, informou não ter nenhuma informação sobre a situação e reafirmou a independência do órgão. Ele ainda se mostrou surpreso pela demissão de Reinaldo da CBF e da Conmebol - ocorrida na última quinta-feira (10) e disse que não teme nenhum tipo de retaliação ao seu Tribunal por parte do STJD por conta do rompimento entre os cartolas. Por fim, disse não ter sido notificado pelo STJD sobre o último pedido do Palmeiras.

*Colaborou Danilo Lavieri