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Golpe de R$ 200 mi usou imagem de Caio Ribeiro, Larissa Erthal e M. Carioca

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Imagem: Ze Carlos Barretta/Folhapress

Adriano Wilkson*

Do UOL, em São Paulo

18/05/2018 04h00

Personalidades conhecidas do esporte foram envolvidas nas atividades da empresa D9 Clube de Empreendedores, que está sendo acusada de aplicar um golpe estimado em R$ 200 milhões. O comentarista da Globo Caio Ribeiro, a apresentadora da Band Larissa Erthal, o ex-jogador do Corinthians Marcelinho Carioca e a goleira da seleção brasileira Bárbara Micheline participaram de eventos em que a empresa fazia propaganda de seu negócio. Meses depois uma investigação descobriria que o negócio era, na verdade, uma pirâmide financeira. 

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A D9 se dizia uma empresa de “trading esportivo” e afirmava garantir retorno sobre investimentos feitos em apostas. Mas o Ministério Público e a Polícia Civil concluíram que o esquema era criminoso e causou um prejuízo milionário a vítimas no Brasil e em outros países.

Danilo Santana, o dono da empresa, foi preso em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde vivia de maneira luxuosa. O MP trabalha para sua extradição. Para dar credibilidade ao negócio, a empresa contratava personalidades ligadas ao esporte para participar de eventos. Procurados, os profissionais disseram não saber qual era a real atividade da D9 no momento da contratação. 

Caio Ribeiro disse que, ao receber o convite para um evento no Recife no ano passado, fez uma pesquisa sobre a empresa e não encontrou nada que o impedisse de fechar contrato. "Demos uma fuçada e não encontramos nada. Lá falei um pouco sobre minha carreira e só, não fiz propaganda. Mas hoje me arrependo. Não coloquei nem um centavo na empresa, não tenho nenhum amigo entre eles."

O comentarista disse que quando soube que o negócio da D9 era uma pirâmide financeira, ficou "extremamente chateado por participar disso, mesmo que indiretamente, e principalmente pelas pessoas que foram lesadas." 

Larissa Erthal - Dani Bertolucci/Divulgação - Dani Bertolucci/Divulgação
Imagem: Dani Bertolucci/Divulgação

Larissa Erthal, que no ano passado apresentava o Terceiro Tempo, o Band Esporte Clube e a Liga dos Campeões na Band, lembra que ao chegar à Arena Pernambuco estranhou o clima de “ostentação” dos líderes da empresa.

“Esse Danilo estava com uma gravata de ouro, aquilo me incomodou absurdamente”, disse a apresentadora, que também se mostrou arrependida de ter se envolvido. “Era quase uma lavagem cerebral. Ele falava que as pessoas tinham que angariar outras pessoas, que se elas conseguissem fazer o trabalho, ficariam ricas. Mas não falavam do suposto negócio, de ‘trading esportivo’, de partida de futebol, de apostas... Só falavam do quanto as pessoas ficariam trilhardárias se fizessem o trabalho.”

A apresentadora conta que sua participação consistia em chamar ao palco os membros da empresa premiados por seu desempenho. Os prêmios eram viagens a Cancun, carros importados e dinheiro. Os valores chegavam a R$ 1,7 milhão, de acordo com a jornalista.

“Eram valores tão exorbitantes que era óbvio que tinha coisa errada. Os carros não estavam lá, não vimos dinheiro, nada, só cartazes cenográficos. Os prêmios foram ficando mais e mais bizarros. Fiquei nervosa já no palco.”

Hoje, sabendo da prisão de Danilo, Larissa acredita que fez parte de uma armação.

“Acho que tudo que eu chamei no palco era um teatrinho. Todas a pessoas eram parte da quadrilha e estavam fingindo receber os prêmios. Era um teatrinho e eu fui feita de palhaça, sem saber de nada, chamando um prêmio fictício.”

Dias depois de sua participação no Recife, a apresentadora ainda gravou a pedido da empresa um vídeo em que parabenizava Danilo Santana por seu aniversário.

Como funciona uma pirâmide financeira

As denúncias do Ministério Público da Bahia e do Rio Grande do Sul contra Danilo Santana concluíram que o golpe tem aspectos de pirâmide financeira. As acusações são de crimes contra economia popular, associação criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro.

Um esquema de pirâmide financeira funciona assim: sob uma falsa promessa de altos lucros, os golpistas vendem uma aplicação ou serviço a terceiros que, por sua vez, precisam chamar outras pessoas para o negócio. Forma-se uma estrutura piramidal, cuja base é constituída pela maioria dos investidores.

Cada novo membro que compra um "pacote de investimentos" financia o pagamento dos membros acima na cadeia. Até que, em determinado momento, o fluxo é interrompido. Dessa forma, o dinheiro no final fica com os membros do topo da pirâmide, enquanto a base amarga o prejuízo de perder tudo o que investiu.

Marcelinho Carioca discursou em evento da D9 no Recife - reprodução/SporTV - reprodução/SporTV
Marcelinho Carioca discursou em evento da D9 no Recife
Imagem: reprodução/SporTV

No caso da D9, os slogans do negócio (como “Bola na rede, dinheiro no bolso”) remetiam ao universo esportivo.

Marcelinho Carioca diz que foi contratado para jogar futebol

O ex-jogador Marcelinho Carioca disse que sua participação no evento da D9 consistiu em atuar em uma partida amistosa entre os membros da empresa. Em um vídeo, ele aparece em uma limusine junto a colaboradores. Em outro, Marcelinho é filmado dizendo: “É uma alegria hoje estar vestindo a camisa da D9, estar em trinta países, é sucesso total. Hoje vamos fazer um gol de placa e arrebentar não só no Brasil, mas também no mundo inteiro.”

Procurado pelo UOL Esporte, o ex-atleta afirmou que na ocasião não sabia quais eram as atividades da D9.

“Em nenhum momento foi feita promoção. Fui contratado para jogar futebol e joguei futebol”, disse ele. “Não sabia o que faziam. Acho que o MP e polícia têm que ir atrás e prender os ladrões, safados, vagabundos, usurpadores do dinheiro público e proteger quem foi lesionado. Eu não estava sabendo de nada.”

Goleira Barbara - Buda Mendes/Getty Images - Buda Mendes/Getty Images
Bárbara Micheline disse que perdeu R$ 35 mil em pirâmide da Telexfree
Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Já a goleira Bárbara Micheline, titular da seleção brasileira na última Olimpíada, afirmou que ficou “com ódio” quando soube que a D9 estava envolvida em um esquema criminoso. Em um evento no Recife, ela foi chamada ao palco depois que lances seus com a camisa da seleção foram exibidos em um telão.

Na ocasião, um apresentador anunciou que ela era a titular de uma conta “Gold Plus” e em seguida a goleira afirmou: “Tenham certeza que eu faço parte desse time. Sou lisonjeada.”

Em contato com a reportagem na última terça-feira (15), Bárbara disse que se sentiu coagida a participar do evento e que não sabia do que se tratava. Ela negou que tenha dado dinheiro à D9 ou recebido para participar do evento. “Não caiu um centavo na minha conta”, disse ela. A pernambucana afirmou que foi convencida a aparecer, na expectativa de que empresários presentes patrocinassem o time feminino do Sport, onde ela começou a jogar.

Danilo Santana em Dubai - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O empresário Danilo Santana, 34, vivia em Dubai há pelo menos um ano
Imagem: Reprodução/Facebook

Medalha de prata em Pequim-2008, Bárbara afirmou que já caiu em uma pirâmide semelhante, quando comprou um “pacote de investimentos” da Telexfree: “Mais de R$ 35 mil eu investi, perdi todo meu dinheiro e até hoje nunca mais vi”, afirmou.

Nenhuma das personalidades esportivas está sendo investigada como participante do esquema.

O que diz a defesa de Danilo Santana

Ao UOL o advogado de Danilo Santana, Rafael Roveri Molina, afirmou que só se manifestará publicamente quando tiver acesso a todos os autos dos processos criminais e cíveis que correm contra seu cliente.

De acordo com informações do Ministério da Justiça, Santana foi preso no dia 13 de fevereiro por agentes da Interpol ao desembarcar no aeroporto de Dubai, cidade que frequenta há pelo menos um ano. Doze dias depois, ele foi solto sob fiança. Mesmo livre, ele está sob vigilância das autoridades dos Emirados Árabes.

A pedido da Justiça do Rio Grande do Sul, que expediu um decreto de prisão preventiva do brasileiro, o ministério tenta sua extradição com as autoridades dos Emirados Árabes Unidos. Não há previsão de quando o processo será realizado.

* Colaborou Flávio Costa, do UOL, em São Paulo