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Divergências minam relação de Atlético e Cruzeiro, o que nem caso Fred fez

Thiago Fernandes e Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

20/05/2018 08h00

O que dava indícios de melhora no início do ano se deteriorou depois da final do Mineiro e chegou ao ápice na tarde desse sábado (19), durante a sexta rodada do Brasileirão. A relação entre Atlético-MG e Cruzeiro é a pior possível fora dos gramados.

As recepções dos mandantes nos dois últimos clássicos foram o motivo da briga nos bastidores do futebol de Minas Gerais.

O Cruzeiro se irritou por ficar alojado em um camarote ao lado de membros de organizada do Atlético no jogo ocorrido neste fim de semana, no estádio Independência.

O Galo, por sua vez, não gostou da agressão de uma pessoa ligada a um membro da diretoria do Cruzeiro contra Luan nas escadas que dão acesso aos vestiários do Mineirão ao término do jogo de volta da final do Mineiro.

Antes desses episódios, havia indícios de que a relação poderia ser bem diferente em 2018. Nem a saída de Fred do Atlético para o Cruzeiro e as discussões envolvendo o pagamento da multa de R$ 10 milhões pela assinatura do contrato foram suficientes para causar divergências.
Não é à toa que as duas diretorias estavam dispostas a se unir para realizar os clássicos da atual edição do Campeonato Brasileiro com o Mineirão dividido pelas torcidas.

Na reunião que definiu os detalhes do jogo decisivo do Campeonato Mineiro, os presidentes Sergio Sette Câmara, do Galo, e Wagner Pires de Sá, da Raposa, haviam se entendido para o jogo ocorrer desta forma. O acordo foi costurado pela Federação Mineira de Futebol (FMF).

No entanto, justamente no jogo que ocorreu em 8 de abril passado, as coisas mudaram.

A diretoria do Atlético-MG se irritou com o tratamento recebido na partida ocorrida no Mineirão e recuou sobre o caso. Na ocasião, o Galo se queixou de dois fatos. O primeiro foi a redução do número de ingressos entregue à cúpula. Nos duelos anteriores, todos durante a gestão de Gilvan de Pinho Tavares, o clube recebia 30 entradas em um camarote do Gigante da Pampulha. Porém, neste dia, a equipe só teve direito a 18 bilhetes e se alojou em um espaço menor do estádio.

Outro ponto que indignou a diretoria alvinegra foi um tumulto ao fim daquele clássico. Na ocasião, o cunhado de um dirigente do alto escalão do Cruzeiro empurrou Luan na escada do Mineirão. O fato irritou os dirigentes do Atlético e fez com que Sérgio Sette Câmara mudasse de opinião sobre o clássico com carga de ingressos idêntica para os dois clubes.

Nesse sábado, em retaliação aos fatos anteriores, o Galo trocou o Cruzeiro de camarote no estádio Independência, deixando o clube em um espaço menor que o de costume. O local cedido à cúpula da Raposa dividia paredes com os camarotes de duas organizadas do Atlético.

Durante o jogo válido pela sexta rodada do Brasileiro, os torcedores provocaram os membros da diretoria e até fizeram ameaças, de acordo com o próprio Cruzeiro.

"O Cruzeiro Esporte Clube vem a público informar que em protesto não concedeu entrevistas pós-clássico deste sábado em função do tratamento que recebeu por parte do adversário, que em atitude covarde de seu presidente colocou o staff e a diretoria do Cruzeiro em camarotes ao lado de lutadores de uma torcida organizada. Não fosse a intervenção da Polícia Militar, haveria ocorrido uma tragédia hoje no estádio Independência", alegou o Cruzeiro por meio de uma nota divulgada no Instagram.

Após a nota divulgada pelo arquirrival, o Galo também se pronunciou por meio de seu site oficial: "O Atlético atendeu a todas as solicitações do clube visitante, seja nos camarotes destinados à sua diretoria e convidados, seja na segurança reservada a eles. Lamentamos que o Cruzeiro tenha optado pelo ataque verbal ao presidente do Atlético, o chamando de “covarde”, quando os verdadeiros covardes são os que acobertaram torcedores que agrediram nossos atletas, além de diversos transtornos ocorridos na final do Campeonato Mineiro, no Mineirão. Vale ressaltar que prezamos sempre pela segurança das equipes visitantes, não havendo qualquer ocorrência que desabone nossa conduta. Em assim sendo, não havendo um incidente sequer, reputamos as reclamações do rival como um mero choro de perdedor", manifestou-se.

Com a relação deteriorada, Atlético-MG e Cruzeiro se enfrentam novamente pela 25ª rodada do Brasileirão. O jogo ocorrerá em meados de setembro e será no Mineirão, com mando de campo da Raposa.

Brigas superam caso Fred

Fred vestiu camisa do Cruzeiro logo após saída do Atlético-MG - Divulgação/Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro
Fred vestiu camisa do Cruzeiro logo após saída do Atlético-MG
Imagem: Divulgação/Cruzeiro

As discussões extracampo fizeram algo que nem a troca de Fred do Atlético pelo Cruzeiro foi capaz.

Ao deixar a Cidade do Galo, onde esteve entre junho de 2016 e dezembro de 2017, o centroavante se comprometeu a pagar R$ 10 milhões em caso de acerto com o Cruzeiro até o fim da atual temporada.

Como assinou vínculo na Toca da Raposa II menos de um dia após o anúncio de sua rescisão com o Atlético, Fred ficou em débito com o ex-clube.

A partir daí, as cúpulas tomaram posturas distintas. Enquanto o Galo acionou a Comissão Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para cobrar o pagamento do valor, a Raposa tenta fazer com que a exigência seja invalidada ao lado do próprio atleta.

Nem esta discussão, que foi parar nos tribunais da CBF, causou tantos danos à relação entre os clubes de Minas Gerais. Mesmo com todo este imbróglio em pauta, era possível que eles entrassem em acordo sobre a divisão do estádio por suas duas torcidas.