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Discreto, Zidane saiu de "quebra-galho" para entrar na história do Real

AFP PHOTO / Paul ELLIS
Imagem: AFP PHOTO / Paul ELLIS

Do UOL, em São Paulo

31/05/2018 12h10

Zidane era considerado o melhor jogador do mundo quando foi contratado pela primeira vez pelo Real Madrid, em 2001. Na época, o clube montava um esquadrão e apresentou o meia em uma festa com patrocinadores e a presença de lendas históricas como Di Stéfano.

Quinze anos depois, quando Zidane foi apresentado como técnico, a situação foi bem diferente. O Real tentava se recuperar da demissão traumática de Rafa Benítez e buscava em seu time B, o Real Madrid Castilla, uma solução caseira para o comando técnico da equipe principal. Ao dar suas primeiras declarações como técnico do time mais badalado do mundo e mesmo tendo sido vitorioso campeão europeu pelo clube enquanto jogador, Zidane se viu em uma sala acanhada no Santiago Bernabéu, pequena demais para a quantidade de jornalistas interessados em ouvi-lo.

Como não tinha experiência dirigindo um time de ponta, Zidane foi visto por parte da imprensa como um “quebra-galho”, uma espécie de tampão que esquentaria o banco merengue até o fim da temporada quando algum treinador mais experiente estivesse disponível no mercado.

Mas nesta quinta-feira, ao anunciar sua saída, menos de uma semana depois do título da Liga dos Campeões, Zidane elevou seu nome como um dos maiores treinadores da história do Real.

A vitória em Kiev na semana passada o converteu no primeiro treinador da história a conseguir três títulos do principal torneio europeu seguidos. Foi seu nono título (de 13 possíveis) no comando do time, o que o tornou o segundo técnico mais vitorioso da história merengue – abaixo apenas de Miguel Muñoz, que ergueu 14 taças entre os anos 60 e 70.

Zidane superou a desconfiança em Madri se valendo de um estilo discreto, diferente por exemplo das extravagâncias verbais de José Mourinho ou da elegância estilística de Pep Guardiola, com quem chegou a ser comparado pela origem “caseira” de ambos nas equipes de baixo de Real e Barcelona.

Seu grande trunfo, no começo, foi apaziguar o vestiário do Real, falando a língua dos atletas, fazendo-os entender exatamente o que ele pedia e tirando deles o melhor de seu potencial.

Foi sob seu comando, por exemplo, que o volante Casemiro saiu de uma figura coadjuvante do time B para se tornar peça fundamental no esquema tático da equipe principal.

Quem acompanhou de perto sua passagem pelos bastidores do Real afirma que Zidane aprendeu muito do que sabe com Carlo Ancelotti. Na temporada de 2013-2014, o ex-meia foi auxiliar técnico de Ancelotti na campanha campeão da Liga dos Campeões. Sua contratação, na ocasião, foi explicada também como uma forma de criar um elo mais firme entre a comissão técnica e o elenco.

Zidane aprendeu a ganhar a confiança dos jogadores com seu carisma e estilo boleiro. Mas, talvez por não ter a grife de um técnico já experimentado, teve que conviver em vários momentos com a desconfiança de parte da torcida e da imprensa. Resultados decepcionantes no Campeonato Espanhol contribuíram para que sua demissão fosse aventada após derrotas inexplicáveis. A crise mais aguda aconteceu no começo de 2018, quando o Real foi eliminado em casa da Copa do Rei com uma derrota para o pequeno Leganés.

Mesmo frustrante em casa, o Real de Zidane conquistou a Europa de maneira incontestável. Na final em Kiev do último sábado, a equipe não pareceu ver o tri ameaçado durante um minuto sequer da vitória sobre o Liverpool. Ao se despedir do clube, Zidane afirmou que o elenco do Real precisa de uma mudança para continuar rendendo. Tendo gravado seu nome na história do clube, porém, e saindo no auge, ele deixou as portas abertas para um possível retorno.