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"Feliz" no São Paulo, Aguirre descarta assumir seleção do Uruguai neste ano

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

21/06/2018 04h00

Muitos torcedores do São Paulo se assustaram com a possibilidade de ver o filme com treinadores estrangeiros se repetir pela terceira vez. Depois do colombiano Juan Carlos Osorio e do argentino Edgardo Bauza trocarem o clube pelas seleções do México e da Argentina, respectivamente os rumores de que Diego Aguirre seria o substituto de Óscar Tabárez no comando do Uruguai após a Copa do Mundo deixaram os tricolores com medo. Porém, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte realizada antes da pausa para o Mundial, o comandante disse que não cogita sair do Morumbi antes do término de seu contrato, que se encerra ao fim da temporada.

"Não é algo que estou pensando. Esto feliz aqui no São Paulo, realmente. Estou comprometido com ficar aqui, em ajudar e cumprir o meu contrato até o fim deste ano. Então, isso não vai ser possível. No futuro, por que não? Obviamente é um orgulho para qualquer treinador ser o técnico do seu país. Mas não. Minha cabeça está no São Paulo, 100%", afirmou o treinador.

Além de Aguirre, o São Paulo conta com outros cinco uruguaios na sua delegação: Gonzalo Carneiro, atacante que está em recuperação de pubalgia e deve estrear no segundo semestre, os auxiliares Juan Verzeri e Raul Enrique Carreras, o preparador físico Fernando Piñatares, e Diego Lugano, superintendente de relações institucionais. Estudioso do futebol, o treinador acredita que ele e seus compatriotas podem ter alegrias neste Mundial.

"Faz tempo que a seleção uruguaia não tem um time tão forte. Todos (na seleção) estão competindo em alto nível, tem um processo de 11 anos juntos com o mesmo treinador, em três mundiais... É muita fortaleza mental. E Uruguai pode ganhar de qualquer um. Obviamente é difícil falar em campeão do mundo, porque é preciso muitas coisas alinharem para você ser campeão. Mas o Uruguai está forte", disse Aguirre.

Confira alguns trechos da entrevista com o treinador do São Paulo:

Relação com Raí, Ricardo Rocha e Lugano

É espetacular. Trabalhar com eles é maravilhoso. Além de serem craques na profissão, de serem futebolistas extraordinários, são pessoas sensacionais. E eu me sinto com apoio, muita confiança, e nós podemos conversar de igual para igual. Vamos ter acertos e erros, mas com a convicção de que vamos fazer o melhor para o São Paulo. Bem, é uma relação em que agora temos frequência. Nós nos vemos todos os dias, falamos todos os dias. Então, muda nisso. Mas é com confiança, naturalidade, porque todos queremos o melhor.

Nota da redação: Raí é o diretor executivo de futebol do São Paulo; Ricardo Rocha, o coordenador técnico; e Diego Lugano, o superintendente de relações institucionais.

Obediência tática e jogador brasileiro

Vejo bem (o jogador brasileiro). Talvez, tenha uma cultura de muitos anos de que, como o jogador brasileiro tem muita qualidade técnica, ele não acreditava tanto no tático. Mas hoje tem muitos jogadores que vão para a Europa e voltam, e o futebol está mudando. Os jogadores aceitam as ideias táticas e estão trabalhando bem. Então, estamos somando a qualidade individual com os trabalhos que têm de ter, porque o mundo do futebol exige isso.

Ausência de técnico brasileiro no exterior

Eu não sei (o motivo). Aí, é uma coisa mais profunda. Eu não quero e não posso falar muito disso. Acho que são capacitados, são bons. É a única coisa que posso falar. Não sei o que acontece ou porque não vão para o exterior. Mas, também, tem muitos técnicos que trabalham no exterior, não na Europa, mas em outros mercados importantes. Mas eu não sei falar.

7 a 1

Acho que marcou um antes e depois para o Brasil. Para o futebol sul-americano, não (marcou). Às vezes, um golpe ou uma derrota dura faz bem. Para melhorar e para mostrar que alguma coisa está errada. Eu sinto, falando da seleção brasileira, que ela está no caminho certo. E está com convicções. O Brasil é novamente candidato a ganhar a Copa do Mundo, não somente pelos jogadores, mas porque eles são um time.

Favoritos na Copa

Além de Brasil, os de sempre: Alemanha, Espanha, França, pode ser uma surpresa, e Uruguai também (risos).

Leitura

Eu gosto muito de ler, mas lamentavelmente agora é um costume que estou perdendo. Eu não leio tudo o que quero, compro muitos livros com a intenção de ler e leio um. Tenho ainda livros que ficaram para trás, porque hoje com a tecnologia você não têm tanto espaço para a leitura. Eu leio muitos livros de futebol, porque faz parte do meu trabalho, da minha vida, e gosto de ler sobre treinadores, biografias...

Política

Agora, não participo muito. Tenho interesse, pelo que acontece, pelas coisas. Mas não vou falar somente do Brasil. É muito difícil a situação de toda a América Latina, todos os países estão com dificuldade, com casos de corrupção, ninguém acreditando em ninguém. Você perde lideranças, coisas que todo mundo vê, não tem pessoas confiáveis. Não acontece aqui, você vê no mundo. Estou falando aqui da América do Sul, onde cada vez menos você tem credibilidade.

Diferença futebol sul-americano e europeu

Quantos milhões de diferença temos? Quantos milhões de euros? Eles são muito poderosos? Eles compram os melhores. Você analisa o Barcelona, eles têm o melhor do Uruguai, da Argentina, do Brasil... E o Real Madrid tem o melhor da Croácia, o melhor daqui... Eles são as seleções de países em um time...

Como competir com os europeus

Temos de trabalhar e acreditar nos jogadores novos. Mas está cada vez mais distante um continente rico, como a Europa, e um pobre, como é a América do Sul.