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Com comercial, Neymar repete estratégia em novo momento crítico da carreira

Thiago Rocha

Do UOL, em São Paulo (SP)

30/07/2018 04h00

Neymar demorou exatos 23 dias para dar uma declaração contundente sobre as críticas que sofreu na Copa do Mundo da Rússia. Quando resolveu se pronunciar, o fez de modo nada espontâneo, por meio de um patrocinador, em comercial de 1min31s exibido em rede nacional na noite deste domingo (29), no intervalo do programa "Fantástico", da Rede Globo.

Em parte, o atacante ampliou o discurso já feito por outros em sua defesa no período. Aos 26 anos, ainda tenta passar a imagem de "um menino" que carrega o fardo de ser um superastro do futebol. "Você pode achar que eu exagero, e às vezes eu exagero mesmo. Mas a real é que eu sofro dentro de campo. Agora, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele", lamentou-se Neymar na peça publicitária.

O discurso não é novo. Nem a estratégia. Utilizar a publicidade em momentos críticos da carreira foi opção do jogador do Paris Saint-Germain e de seu estafe em pelo menos outras duas oportunidades.

Em 2011, Neymar era de fato um menino, tinha 19 anos, porém visto como um jogador indomável, que fazia o que queria no Santos, após um ato de insubordinação ter gerado a demissão do técnico Dorival Júnior, em setembro de 2010. Entrava em campo, então, a publicidade, e o atacante virou garoto-propaganda da Nextel, uma empresa de telefonia.

"Você me xingou quando eu errei, gritou quando eu não escutei", declama Neymar enquanto caminha em direção à câmera em uma praia do litoral de São Paulo até encontrar o pai, Neymar da Silva Santos, e lhe dar um abraço. O discurso é encerrado com o slogan da campanha.

Já em 2014, uma propaganda de TV da Claro, outra companhia de telecomunicações, exaltou Neymar como mártir após a lesão sofrida nas quartas de final da Copa, contra a Colômbia, em que Zuñiga aplicou uma joelhada desleal nas costas do atacante, tirando-o da competição. A peça adaptava uma crônica de Nelson Rodrigues para colocá-lo como herói nacional. 

"Perdemos o craque, mas temos algo que ninguém tem: o formidável povo brasileiro", diz parte do texto do comercial, exibido na reta final do Mundial de 2014, disputado em território brasileiro.

Agora, Neymar deixou a Copa da Rússia com fama de "cai-cai", inspirando memes sobre as reações escancaradas em campo diante da marcação adversária. Saiu do maior palco do futebol com a imagem arranhada perante a opinião pública e nas mídias sociais, a sua maior plataforma de comunicação com os fãs. Estudo da Kantar Sports/Ibope, divulgado na semana passada, mostrou que os comentários negativos ao jogador mais que dobraram durante o Mundial.

Com o verniz da publicidade, Neymar tenta reparar os estragos à própria reputação. Nas redes sociais, a estratégia deixou a impressão de não ter agradado. O comercial com o camisa 10 da seleção logo virou o assunto mais citado no Twitter, mas as reações maioritárias eram de rejeição.