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De FaceTime com Klopp a esconderijo, como o Liverpool cativou Alisson

Andrew Powell
Imagem: Andrew Powell

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

01/08/2018 04h00

Alisson iniciou na última terça-feira (31) a sua trajetória pelo Liverpool, ao treinar pela primeira vez com o elenco, em Evian-les-Bains, no leste da França, onde o plantel segue em pré-temporada depois de um tour com amistosos pelos Estados Unidos. Para contratar da Roma-ITA o goleiro mais valorizado da história (75 milhões de euros ou R$ 324,6 milhões), os Reds tiveram de ser persistentes e ousados nas tratativas e cautelosos no momento da definição. Isso incluiu uma ligação por vídeo de Jürgen Klopp – o técnico fez questão que o contato não fosse apenas por áudio – e uma noite escondido em um hotel da Inglaterra.

Embora o contato com o Liverpool fosse antigo, desde janeiro, Alisson também interessava a pelo menos outros dois clubes: Chelsea e Real Madrid. Com os merengues, as bases salariais e de prêmios já estavam acertadas com o estafe do jogador antes da Copa do Mundo. No entanto, uma proposta de 40 milhões de euros (R$ 173,5 milhões) não só frustrou a Roma, como desiludiu o goleiro, destaque romanista na campanha até a semifinal da última Liga dos Campeões, e titular do Brasil no Mundial da Rússia. Com as cifras muito aquém das desejadas, o clube italiano viu soberba na estratégia madridista – a de seduzir um reforço apenas pelo apelo da marca, sem investir alto, de acordo com a realidade do mercado.

Sobre o Chelsea, a avaliação era de incerteza. A demissão de Antonio Conte, até então iminente, mas não confirmada, e a não participação dos Blues na próxima Liga dos Campeões deixou o camisa 1 do Brasil receoso. Os londrinos foram descartados de vez quando Marina Granovskaia, diretora do Chelsea e braço direito de Roman Abramovich, magnata russo dono do clube, rejeitou investir pesado por mais um goleiro de ponta. O belga Thibaut Courtois, algoz na Rússia, tem permanência incerta, mas segue como dono da meta até o momento. 

À medida que Chelsea e Real Madrid não avançavam, o Liverpool já se mostrava disposto a desembolsar 60 milhões de euros. Além dos valores, pesavam a estabilidade de Jürgen Klopp no comando da equipe e o elenco vice-campeão europeu, reforçado por nomes em ascensão, como do brasileiro Fabinho, ex-Monaco, e Naby Keita, outro meio-campista contratado do Red Bull Leipzig.

Dias depois da eliminação do Brasil na Copa diante da Bélgica, uma reunião em Londres dos agentes de Alisson com Michael Edwards, diretor do Liverpool, esquentou as negociações. Em seguida, as conversas aconteceram em Roma, com jogo duro de James Palotta, presidente romanista, e o diretor Monchi, ciente de que, cedo ou tarde, precisaria buscar um nome para repor a saída do brasileiro.

Alisson no Liverpool - Andrew Powell - Andrew Powell
Imagem: Andrew Powell
O pedido de Jürgen Klopp

Com as conversas adiantadas com o Liverpool, foi a vez de Jürgen Klopp entrar em cena. Na capital italiana, Alisson recebeu uma chamada do treinador alemão por FaceTime, aplicativo do Apple que permite videochamadas. É uma exigência do treinador utilizar a ferramenta, com o objetivo de gerar empatia no interlocutor. Com Alisson não foi diferente. O técnico ainda se solidarizou com a eliminação brasileira na Copa.

Com o “sim” da Roma, era hora de Alisson viajar à Inglaterra e assinar o novo contrato, de cinco anos com opção de renovar por mais uma temporada. O Liverpool mandou o jatinho particular, mas com um recado: Alisson não poderia ser visto em público até o anúncio oficial.

Resultado: o goleiro de 1,93m entrou pela cozinha de um hotel cinco estrelas na beira da estrada que liga Manchester a Liverpool, cidades separadas por 57 km no noroeste da Inglaterra. Ainda sem toda a documentação por parte da Roma, Alisson sequer saiu do quarto e, por ironia do destino, jantou pizza romana no “esconderijo” na véspera da assinatura com os Reds.

Camisa 13. A não ser que Karius saia...

Alisson foi o escolhido pelo Liverpool para assumir uma posição carente na história recente do clube. Lloris Karius nunca foi unanimidade, e as falhas no vice da Liga dos Campeões para o Real Madrid, em maio, aumentaram a pressão pela contratação de um nome de peso.

Por respeito a Karius, Alisson optou por não exigir a camisa 1 em conversas com o clube – o mais provável é que vista a 13. No entanto, o número clássico de goleiro pode ficar com o gaúcho caso a diretoria decida por este caminho ou, principalmente, se o atual dono for negociado.

Se tudo acontecer dentro do programado, Alisson estreará pelo Liverpool no próximo sábado, em amistoso com o Napoli, em Dublin, na Irlanda. O Torino, no dia 7, será o último adversário na preparação para a temporada do Liverpool, que começa dia 12, diante do West Ham, no Anfield, na primeira rodada do Campeonato Inglês.