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Bancado por Tite, Edu Gaspar vive pressão por Neymar, gastos e Olimpíada

Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Dassler Marques e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

03/08/2018 04h00

De contrato renovado para coordenar as seleções brasileiras por quatro anos, Edu Gaspar abre o novo ciclo sob contestações na CBF. A permanência dele como principal dirigente do departamento foi uma solicitação de Tite, que tem em Edu um superior de confiança desde que ambos chegaram juntos à entidade em 2016. O que mudou, porém, foi o entusiasmo em torno de seu nome.

Um ponto importante na perda de status com os cartolas que comandam a CBF foi a administração de um problema inesperado. Depois do tropeço brasileiro contra a Suíça, o pai de Neymar e seus familiares se hospedaram no mesmo hotel da seleção em Sochi, o que quebrou espécie de pacto para que os atletas tivessem privacidade no local.

Edu, que se tornaria alvo de críticas nacionais por classificar Neymar como “menino” após a eliminação para a Bélgica, não dialogava com o pai do craque. Essa quebra de um acordo informal gerou reclamações de outros familiares na ocasião. Além do camisa 10, só Douglas Costa, dias depois, teve parentes hospedados no local. Já o pai de Neymar mudou os planos, saiu de foco e trocou Sochi por Moscou ao fim da primeira fase. Ambos não comentam  os problemas.

Até a preparação da Copa do Mundo, a parceria entre Tite e Edu era bem recebida pelo estafe de Neymar, que conseguiu, por exemplo, ter atendido seus pedidos para que dois preparadores do craque [Rafael Martini e Ricardo Rosa] integrassem a comissão na Rússia. O pai do camisa 10 hoje é visto como forte na CBF e capaz de exercer pressão sobre a coordenação nos bastidores.

Sul-Americano testa estrutura enxuta para a base

Amadeu tem a missão de colocar o Brasil entre os dois melhores do Sul-Americano, o que não ocorreu nas últimas três edições - Bruno Pacheco/CBF - Bruno Pacheco/CBF
Amadeu tem a missão de colocar o Brasil entre os dois melhores do Sul-Americano, o que não ocorreu nas últimas três edições
Imagem: Bruno Pacheco/CBF

Outro fator que coloca uma lupa sobre o trabalho de Edu é a proximidade com o Sul-Americano Sub-20 do próximo ano, torneio que dará duas vagas nos Jogos de Tóquio, em 2020. A estrutura das divisões de base da entidade foi reformulada no começo da temporada passada, com as demissões de Rogério Micale e do diretor Erasmo Damiani. Gaspar, porém, abraçou o departamento sem conseguir dar a mesma atenção.

Diferentemente do ciclo anterior, a seleção tem um número de convocações inferior e enfrentou problemas importantes de liberações em duas listas elaboradas. A mudança precoce de jogadores para o exterior, como Paulinho (Leverkusen), Vinícius Júnior (Real), Vitinho (Brugge) e Fernando (Shakhtar), amplia a importância de um trabalho de bastidores para levar o melhor elenco possível para o Sul-Americano, já que as liberações não são obrigatórias.

A maior aposta de Edu Gaspar é em Carlos Amadeu, treinador que comanda essa mesma geração desde 2015 e que, caso conquiste a vaga em Tóquio, terá a oportunidade de brigar pelo bicampeonato olímpico. Amadeu, porém, teve raras ocasiões para convocar jogadores nascidos em 1999 em razão do planejamento reduzido da entidade.

Investimento em comissão, logística e estrutura para a Copa 

Nesse novo momento da seleção brasileira, sem manifestações de Edu e Tite até aqui, a CBF também fala em reduzir os recursos disponibilizados. A leitura é que o desempenho e principalmente o resultado obtido na Rússia ficou aquém do esperado. A montagem de uma comissão numerosa e o investimento em logística foram feitos a partir de uma “carta branca” ao coordenador, que planejou viagem à Inglaterra e a escolha do resort que foi base em Sochi.

Na Granja Comary, por exemplo, a CBF ainda investiu aproximadamente R$ 17 milhões na construção de um Centro de Excelência e outras obras menores, três anos após outros R$ 15 milhões serem gastos para a Copa 2014. A avaliação é de que a passagem do Brasil por Teresópolis [uma semana antes da Copa] foi pouco útil diante do valor investido.

Diante disso, a comissão técnica já assegurou ao comando da entidade que irá aproveitar mais a Granja Comary nos próximos meses, em uma mudança de rota em relação aos dois primeiros anos da era Tite. A disputa da Copa América 2019 em território brasileiro contribui nesse sentido, mas também será um teste importante para o coordenador de seleções em relação ao novo comando da entidade, que já terá Rogério Caboclo como seu presidente de maneira oficial.