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Contrato polêmico faz Santos ceder 50% da grana de Felipe Anderson à Doyen

Meia Felipe Anderson foi vendida pela Lazia, da Itália, ao West Ham, da Inglaterra - Reuters/Adam Holt
Meia Felipe Anderson foi vendida pela Lazia, da Itália, ao West Ham, da Inglaterra Imagem: Reuters/Adam Holt

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

11/08/2018 04h00

O Santos, dono de 25% dos direitos econômicos do meia Felipe Anderson, esperava lucrar cerca de R$ 48 milhões pela recente transferência do “ex-Menino da Vila”, que deixou a Lazio, da Itália, para defender o West Ham, da Inglaterra. Maior contratação da história do clube inglês, o meia custou aproximadamente 43 milhões de euros (cerca de R$ 195,4 milhões), segundo a imprensa inglesa e italiana.

No entanto, a diretoria santista foi surpreendida com a notícia de que metade deste valor terá que ser repassado para a empresa Doyen Sports. O UOL Esporte teve acesso ao contrato que obriga o clube paulista a ceder 50% do que receberá da Lazio. O departamento jurídico do clube, aliás, já notificou os italianos para saber o valor exato.

A fatia que será destinada à Doyen se refere a um contrato feito pelos ex-presidentes do clube, Luis Alvaro de Oliveira e Odílio Rodrigues em 2013, quando o Santos deixou de repassar à parceira cerca de R$ 11,5 milhões que ela tinha de direito por ser detentora de 50% dos direitos econômicos na época em que Felipe Anderson foi vendido para a Lazio por R$ 23 milhões.

A polêmica é que, além da dívida deixada por eles, o Santos acordou com a empresa que ela teria direito a 50% do valor quando Felipe Anderson fosse revendido da Lazio para outro clube. Agora, o clube paulista será obrigado a repassar aproximadamente R$ 24 milhões aos investidores.

Embora este acordo estivesse válido desde 2013, este era apenas um dos imbróglios entre Santos e Doyen. A maior parte desses contratos entrou em um “acordão” feito entre o ex-presidente Modesto Roma e a Doyen Sports no ano passado e serviu para quitar a dívida referente às transações de Leandro Damião, Lucas Lima, Gabigol, Geuvânio e Daniel Guedes.

O departamento jurídico do Santos investiga o caso e vasculha todos os contratos de Felipe Anderson envolvendo o clube paulista, Doyen Sports e Lazio, da Itália. A atual diretoria não entende o motivo da cláusula existir no contrato de venda e ainda investiga se Modesto Roma não incluiu esse direito a Doyen em “título de prêmio”, semelhante ao caso do atacante Rodrygo, em que o ex-presidente confirmou que cedeu porcentagem em futura venda. Em contato com o UOL Esporte, Modesto nega que tenha dado esse direito a Doyen no caso de Felipe Anderson e diz que a porcentagem faz parte do "contrato original".

“Eu não dei mais, não tem prêmio. Isso já estava estipulado no contrato de venda lá atrás. A mais-valia era dos vendedores da época. Não tem ‘deu mais’, tem o que já tinha. Claro que eu não podia mudar, o que se discutia no acordo era o valor que o Santos recebeu e não passou. A dívida do Felipe Anderson foi inclusa no acordo. Foram várias parcelas que o clube recebeu da Lazio e não repassou para a Doyen. O que não foi incluído são os direitos futuros, direitos que você não tem momento, mas passa a ter no dia que acontecer à venda. Isto está no contrato de venda do Felipe Anderson", diz o ex-presidente, que prossegue. 

"Doyen e Santos têm partes iguais do Felipe Anderson lá atrás, e quando vendem para a Lazio permanecem os direitos de ambas as partes, inclusive no acordo de mais valia entre Santos e Doyen. Quando a Lazio o vendesse havia divisão do valor de mais-valia. O Santos vendeu em pagamentos parcelados. O Santos pagou a primeira, mas quando pagou a terceira ou quarta, não lembro direito, o Santos recebeu e pôs o dinheiro no bolso. A Doyen ficou cobrando esse dinheiro do Santos. Este valor foi no acordo”, afirmou Modesto Roma.

A reportagem ainda entrou em contato com integrantes das três últimas diretorias, comandadas por Modesto Roma, Odílio Rodrigues e Luis Alvaro de Oliveira. A maioria dos envolvidos prefere não se identificar, mas alega que a venda de Felipe Anderson foi considerada um "bom negócio" para o Santos em 2013, principalmente pelo fato de o clube ter ficado com os 25% dos direitos econômicos do jogador. Como os direitos econômicos eram divididos "meio a meio" com a Doyen, eles consideram justo repassar metade do valor da transação ao West Ham para os investidores. Já a atual diretoria considera a negociação lesiva ao clube, porém prefere não falar publicamente sobre o assunto até o término da investigação.

Doyen também ficará com parte de "bolada" de Rodrygo

Além de Felipe Anderson, o Santos perdeu dinheiro na venda de Rodrygo ao Real Madrid, da Espanha. De acordo com o contrato assinado pela Doyen e pelo clube alvinegro em outubro de 2017, e válido por dois anos, qualquer transferência internacional que tenha participação da empresa neste período dá a ela direito a 8% do valor bruto. Sem atuar, a Doyen teria direito a 4%.

Ou seja, no caso de Rodrygo, 4% dos 50 milhões de euros (R$ 216,5 milhões) devem ficar com a empresa, como revelou o UOL Esporte com exclusividade no mês de junho.

Neste caso, Modesto Roma admite que cedeu a porcentagem de Rodrygo em relação ao acordo com a Doyen. Ela alega que recuar em alguns pontos faz parte de uma renegociação de dívida. O clube já quitou uma parcela e deve pagar mais duas parcelas anuais de 5 milhões de euros (R$ 21,7 milhões): uma em setembro de 2018 e a outra em setembro de 2019. Segundo Modesto, o clube já pagou 13 milhões de euros (R$ 56,3 milhões) à empresa no ano passado.

"É o contrato de acordo com a Doyen, qual o problema? Quando se faz o negócio, tem de ceder. É óbvio que existe uma contrapartida. Existem esses 4%, sim, que são válidos até setembro de 2019. Mas fizemos isso porque fechamos uma renegociação do contrato do Odílio (Rodrigues, presidente do Santos entre 2013 e 2014). E nesta renegociação caiu uma dívida de 50 milhões de euros para 23 milhões de euros. Só do Leandro Damião eles nos cobravam R$ 80 milhões. No contrato do Odílio, o Santos pagava ainda 10% de juros ao ano. E os juros baixaram para 3% no nosso contrato", afirmou Modesto.