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Fã de Pirlo, Zé Welison não queria ser jogador. Hoje é xodó no Atlético-MG

José Welison faz sucesso como volante do Atlético-MG - Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG
José Welison faz sucesso como volante do Atlético-MG Imagem: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

14/08/2018 04h00

Seis jogos foram o suficiente para José Welison se tornar o mais novo xodó da torcida do Atlético-MG. Apesar do início convincente em um grande time do Brasil aos 23 anos, ele nem sempre teve o sonho de jogar futebol. Contudo, brilhou nos campos de várzea e transformou o passatempo em profissão. Fã de Andrea Pirlo e Arturo Vidal, quer seguir os passos da dupla e fazer sucesso na Europa.

Natural de Lagoa do Canto, a 85 quilômetros de Natal, o potiguar iniciou no esporte logo jovem, mesmo que este não fosse seu desejo à época.

"Não tinha a intenção de ser um jogador de futebol. Eu jogava, era só um hobby meu e dos meus colegas de interior. Jogava em um time do meu tio, que se chamava Cruzeiro. A gente jogava por jogar, até que surgiu uma oportunidade. Criaram um time na cidade vizinha, que é São Pedro. O time começou a fazer parte de um campeonato em Natal. Comecei a treinar com as pessoas de categorias acima, e o treinador viu que tinha a possibilidade de jogar em um clube. Ele me levou ao ABC, passei o dia lá e fiz teste. Passei e já fui morar lá. Fui bem, fiquei um ano por lá e, logo depois, surgiu a oportunidade para ir ao Vitória", diz ao UOL Esporte.

Embora demonstrasse talento desde cedo, o desejo de ser jogador só chegou após a ida para o ABC de Natal. No clube, passou a respirar o esporte. Mas a vontade só foi saciada na mudança para o Vitória, time o qual defendeu dos 15 aos 23 anos. Contratado pelo Atlético-MG em julho, aproveitou as ausências de Gustavo Blanco e Adilson para se tornar titular. Em pouquíssimo tempo (seis jogos apenas), virou xodó da torcida, fato que nem ele esperava.

"Não esperava me tornar um cara querido pela torcida em tão pouco tempo. Vinha trabalhando para isso, sei que não é fácil. Ter esse reconhecimento é muito bom, maravilhoso. A torcida pôde me abraçar, fico muito feliz e espero dar ainda mais alegria com títulos para a gente continuar crescendo no Atlético", declarou.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o atleta falou sobre os seus ídolos, relatou a trajetória no futebol e contou o que costuma fazer ao lado da família durante as folgas. Veja, abaixo, trechos do bate-papo de José Welison com a reportagem:

José Welison, volante do Atlético-MG - Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG - Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG
José Welison virou titular absoluto do Atlético-MG
Imagem: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

POR QUE NÃO QUERIA SER JOGADOR

"Quando você é bem jovem, você não tem tanta definição em relação ao que vai ser profissionalmente. Não tem muita perspectiva do que fazer. Eu via aqueles jogadores pela televisão e, para mim, não era real. Não vivia do mundo do futebol. Depois que passei a viver e a conhecer os clubes, aí que foi caindo a ficha que o cara que passava na TV era real e verdadeiro. Foi caindo a ficha, crescendo o desejo. Não sabia o que eu iria ser. Quando vi, me tornei jogador profissional, pude realizar esse grande sonho".

ÍDOLOS E OBJETIVOS

"Meu sonho é desempenhar um bom futebol para um dia estar na seleção brasileira, que é o meu objetivo. Quero um dia jogar na Europa. É um sonho que todo moleque tem. É um sonho que pretendo realizar. Na Juventus, antes, tinha o Pirlo, que é um cara que gosto do futebol dele, que me inspiro. No Bayern, há vários jogadores, tinha o Arturo Vidal, que agora saiu. Esses jogadores que fazem uma função parecida com a minha em campo".

FÃ DE CIDADES HISTÓRICAS E VIDEOGAME

"Em Salvador, nos momentos livres, como hoje, eu ia às vezes à praia, ficava na piscina da minha casa, conheci alguns lugares históricos da Bahia. Gostaria de fazer isso aqui também. Quando tiver uma folguinha maior, quero conhecer alguns lugares, visitar. Aproveito também para dar uma brincada de videogame, aproveitar o período que perdi da infância. Minha esposa fica até irritada comigo, fala que vivo 24 horas futebol e, quando chego para jogar videogame, não paro de jogar futebol. Já defini já, não tem jeito não. Fico ali no Fifa. Eu jogava muito com o Bayern de Munique, mas depois eu passei a jogar com a Juventus. São os meus prediletos".

"Visitar cidades históricas de Minas Gerais vai depender das folgas que eu tiver. O tempo está corrido agora. Só um dia de folga, tenho que aproveitar para descansar. Eu tenho ficado bastante em casa, descansando a perna, curtindo a família. Mas Ouro Preto está nos planos, no meu e da minha família".

INFÂNCIA HUMILDE

"Minha família, meu pai era pedreiro, minha mãe trabalhava em uma escola do interior. É uma família muito humilde, simples. Então, isso surgiu como uma oportunidade. No interior, não tem muito emprego. Então, meu pai saía para trabalhar em Natal. Ele ia na segunda-feira e voltava na sexta, no sábado e ficávamos meu irmão e eu em casa. Ficávamos tomando conta da casa com a minha mãe. A gente nunca passou necessidade. A gente tinha agricultura e sempre deu muito valor a isso. Minha mãe tinha uma roça com meu pai. A gente costumava ir também. Até hoje lá é assim. Meus pais não querem sair da cidade do interior de jeito nenhum. Para eles, o local é fundamental. Minha mãe, quando vem a uma cidade grande, uma capital, não aguenta ficar muito tempo. Eles estão acostumados com a cidade lá. Para sair assim é muito difícil. Meu pai criava porcos e eu ajudava nesses aspectos. Era mais nessas coisas assim".

INÍCIO NO FUTEBOL

"Eu comecei a perceber que tinha que abrir mão de algumas coisas quando fui para o ABC, ainda na minha adolescência. Abri mão de muita coisa, meus amigos me chamavam para festas e eu vi que não poderia fazer as mesmas coisas de antes. Eles me ligavam na sexta-feira e perguntavam: "vamos sair?". Aí eu falava: "rapaz, não vai dar para mim não, estou na concentração". Eu comecei a focar o que queria. Daí em diante, as coisas começaram a andar na minha vida e na minha carreira profissional. Tive a chance de ir para o ABC e para o Vitória. Foi uma adaptação muito difícil. Quando foi em Natal, era tudo bem, estava a uma hora e 15 minutos de casa. Mas em Salvador, veio o problema, porque era só ligação. Mas consegui me adaptar à cidade, porque fui muito bem recebido em Salvador. Foi um momento de muito aprendizado. Então, fico muito feliz por isso".

QUASE DESISTIU

"Não pensei em desistir durante as lesões. Aconteceu antes. Nas divisões de base, havia muita concorrência. Passaram-se três anos e vi que o que sonhava estava demorando. Aí pensei: "vou deixar de jogar futebol". Eu chegava a comentar com alguns colegas meus e falava: "vou fazer o que da vida agora?". Aí pensei nas coisas que deixei para trás, comecei a focar cada dia mais, coloquei uma meta na minha carreira, que era subir para o time profissional aos 20 anos. Subi aos 19, com o Ney Franco. Agradeço a ele pela oportunidade e também à diretoria do Vitória"

LESÕES

"Quando sofri a lesão que tive, passei por muita dificuldade com aquilo que vinha acontecendo na minha vida. Pude superar isso com muita força ao lado da minha esposa, com meu filho. Pude curtir a minha família. Foi mais isso. Com as lesões, pude aprender muito mais coisas rapidamente".

"Foi o pior momento da carreira. Não tive dificuldade nenhuma no futebol, sempre refleti isso. Depois que comecei a jogar, quando subi para o profissional, começaram as coisas que não tinham acontecido antes. Eu entendi o propósito de Deus para a minha vida. Ele preparou o caminho certo, que eu deveria trilhar. Sobre as minhas lesões, estamos sujeitos a isso. O que aconteceu comigo, para amadurecer, foi muito importante. Há males que vêm para o bem. Estou feliz no Atlético, recuperado de todas as lesões. Quanto mais obstáculos aparecerem, estou disposto a passar para seguir a minha vida".