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Filho de megaempresário, "novo Iniesta" do Barça encanta usando tamanho P

Riqui Puig tem potencial para ser uma das estrelas do Barcelona - reprodução/Twitter
Riqui Puig tem potencial para ser uma das estrelas do Barcelona Imagem: reprodução/Twitter

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona

18/08/2018 04h00

O Barcelona, um dos clubes mais ricos e bem organizados do mundo, viveu uma situação curiosa, na semana passada. Durante as filmagens com os jogadores, para o material promocional da Liga Espanhola, os roupeiros da equipe catalã tiveram de conseguir, de última hora, uma camisa de tamanho P.

O motivo da busca por uma peça de tamanho menor - que inexiste entre os profissionais - tem 1,69m, 19 anos e potencial para ser uma futura estrela no Camp Nou: Ricardo Puig Martí, um meio-campista que ainda tem cara e tamanho de adolescente, mas já começa a se destacar entre os profissionais.

Riqui, como é chamado desde sempre pela família e dentro do clube, é o mais novo projeto de craque de La Masia, a fábrica de talentos que se notabilizou por revelar Xavi, Iniesta, Busquets, Messi e Piqué, mas que nos últimos anos tem dado cada vez menos jogadores ao elenco profissional do Barcelona.

Durante a pré-temporada, ele foi integrado ao elenco principal e não decepcionou: entrou em campo contra Tottenham, Roma e Milan, encantando os torcedores culés e até mesmo os rivais. “Riqui é espetacular. Mesmo parecendo uma criança, a maneira como ele toca na bola é maravilhosa. É a beleza do futebol. É como uma poesia”, disse Gennaro Gattuso, treinador do Milan.

Na imprensa de Barcelona, ávida por novos craques vindos da fábrica de talentos do clube, também foi difícil conter a euforia. Assustado com o assédio da mídia, Carlos Puig - pai do jogador, que nunca teve problemas para atender a imprensa - agora prefere não dar entrevistas. "O momento é de deixá-lo falar em campo", explicou ao UOL Esporte

Riqui Puig em amistoso contra o Boca - David Ramos/Getty Images - David Ramos/Getty Images
Imagem: David Ramos/Getty Images

Riqui teve que vencer desconfiança na base

As qualidades do garoto são muitas e, desde seus primeiros passos no Barcelona, em 2013, ele já é apontado como um dos jogadores com mais potencial de toda a base do clube.

A única preocupação sempre foi a questão física. Muito menor que seus companheiros e adversários, Riqui amargou o banco de reservas em todas as categorias pelas quais passou. Muitas vezes, era a opção para o segundo tempo; sempre que entrava, chamava a atenção.

O garoto diminuto compensa a falta de físico com a inteligência em campo. “Pelas características que têm, ele acaba precisando menos do físico. É um jogador de habilidade, que consegue fazer a bola circular bem, e é ótimo para dar passes e assistências. Trata-se de um jogador único”, explica Sergio Espejo, que foi treinador de Riqui em seu primeiro clube, o Jabac-Terrassa, e atualmente trabalha na base do Girona.

“É um jogador diferente, que melhora quem está em volta. Quando ele estava em campo, o jogo ficava muito mais fácil: eu jogava melhor, e todos os outros também”, explica o brasileiro Werick Maciel, companheiro de Riqui na base do Barcelona durante três anos.

Para Werick, Riqui tem características muito parecidas a outro craque do time azul e grená: “Falam que ele pode ser o novo Xavi, mas eu acho ele mais com o estilo do Iniesta”. O brasileiro não está sozinho na comparação. Daniele Massaro, ex-atacante do Milan e da seleção italiana, e atualmente assistente técnico do clube de Milão, pediu a camisa de Riqui após o amistoso entre os dois times, recentemente. “Ele joga com muita personalidade, com a cabeça erguida. Podemos estar diante de um novo Iniesta”, afirmou o ex-jogador. 

Riqui Puig em ação contra o Milan - Lachlan Cunningham/Getty Images - Lachlan Cunningham/Getty Images
Imagem: Lachlan Cunningham/Getty Images

Promessa é filho de empresário e já foi tenista

Se dentro de campo Riqui é um jogador diferente, fora de campo ele também tem uma vida muito distinta da de seus companheiros e adversários. A família Puig vive em Matadepera, uma das cidades mais ricas da Catalunha, e o pai é um empresário de sucesso no setor de moda e perfumes. Na infância, o hoje candidato a craque do Barcelona foi antes apresentado a outros dois esportes - o hóquei sobre grama, tradicional na região, e o tênis, que foi seu primeiro grande sonho esportivo.

Segundo amigos da família, o futebol apareceu quase por acaso, como uma diversão, sem qualquer intuito de um dia ser um profissional. Quando o talento começou a ficar evidente, Riqui foi para o Jabac-Terrassa, clube formado pela união do Jabac (onde Busquets jogou quando criança) e Terrassa (a equipe onde Xavi deu seus primeiros toques numa bola); a mudança para o Barcelona aconteceu em 2013.

Desde os primeiros passos até hoje, às portas do time profissional, Riqui jamais teve de conviver com a pressão familiar, algo presente na vida de quase todos os jovens jogadores. “Outros garotos, quando têm oportunidades como as que ele tem tido, entram em campo tensos, nervosos. Com ele é diferente. Como nunca teve essa pressão por ser jogador profissional, ele vai a campo para se divertir”, analisa Ferran Martínez, do jornal Mundo Deportivo, que acompanha a carreira de Riqui desde as categorias inferiores.

Um dos primeiros treinadores e Riqui, Sergio Espejo concorda. “Ele tem uma maneira diferente de jogar: quer se divertir. Se algo fez ele chegar até onde chegou, é a felicidade que tem jogando futebol. Por isso, e por não ter a pressão que muitos jogadores têm, ele sempre foi atrevido, sem medo. Se conseguir manter isso, estaremos diante de um grande jogador”, afirma.

O primeiro título com o time profissional, o garoto já tem: ele estava no grupo que viajou a Tânger, no Marrocos, para a disputa da Supercopa da Espanha, relacionado com a camisa 28. No Troféu Joan Gamper, contra o Boca Juniors, estreou no Camp Nou entrando no segundo tempo. Mais uma vez, foi elogiado - destacou-se com dribles, passes para os atacantes e por pouco não marcou nos acréscimos. 

As aparições no time profissional devem tornar-se mais constantes nos próximos meses - principalmente nas primeiras fases da Copa do Rei. 

Mas, ao menos por enquanto, a ideia de Ernesto Valverde é manter Riqui no Barça B, disputando a Segunda B, como é chamada a terceira divisão do futebol espanhol. O jovem de 19 anos ficou fora da lista de convocados para o duelo deste sábado, contra o Alavés, na primeira rodada da Liga Espanhola. 

O garoto de camisa P, que pinta como projeto de craque, ainda terá de esperar um pouco mais. Em Barcelona, a espera já começou.