Filho de megaempresário, "novo Iniesta" do Barça encanta usando tamanho P
O Barcelona, um dos clubes mais ricos e bem organizados do mundo, viveu uma situação curiosa, na semana passada. Durante as filmagens com os jogadores, para o material promocional da Liga Espanhola, os roupeiros da equipe catalã tiveram de conseguir, de última hora, uma camisa de tamanho P.
O motivo da busca por uma peça de tamanho menor - que inexiste entre os profissionais - tem 1,69m, 19 anos e potencial para ser uma futura estrela no Camp Nou: Ricardo Puig Martí, um meio-campista que ainda tem cara e tamanho de adolescente, mas já começa a se destacar entre os profissionais.
Riqui, como é chamado desde sempre pela família e dentro do clube, é o mais novo projeto de craque de La Masia, a fábrica de talentos que se notabilizou por revelar Xavi, Iniesta, Busquets, Messi e Piqué, mas que nos últimos anos tem dado cada vez menos jogadores ao elenco profissional do Barcelona.
Durante a pré-temporada, ele foi integrado ao elenco principal e não decepcionou: entrou em campo contra Tottenham, Roma e Milan, encantando os torcedores culés e até mesmo os rivais. “Riqui é espetacular. Mesmo parecendo uma criança, a maneira como ele toca na bola é maravilhosa. É a beleza do futebol. É como uma poesia”, disse Gennaro Gattuso, treinador do Milan.
Na imprensa de Barcelona, ávida por novos craques vindos da fábrica de talentos do clube, também foi difícil conter a euforia. Assustado com o assédio da mídia, Carlos Puig - pai do jogador, que nunca teve problemas para atender a imprensa - agora prefere não dar entrevistas. "O momento é de deixá-lo falar em campo", explicou ao UOL Esporte.
Riqui teve que vencer desconfiança na base
As qualidades do garoto são muitas e, desde seus primeiros passos no Barcelona, em 2013, ele já é apontado como um dos jogadores com mais potencial de toda a base do clube.
A única preocupação sempre foi a questão física. Muito menor que seus companheiros e adversários, Riqui amargou o banco de reservas em todas as categorias pelas quais passou. Muitas vezes, era a opção para o segundo tempo; sempre que entrava, chamava a atenção.
O garoto diminuto compensa a falta de físico com a inteligência em campo. “Pelas características que têm, ele acaba precisando menos do físico. É um jogador de habilidade, que consegue fazer a bola circular bem, e é ótimo para dar passes e assistências. Trata-se de um jogador único”, explica Sergio Espejo, que foi treinador de Riqui em seu primeiro clube, o Jabac-Terrassa, e atualmente trabalha na base do Girona.
“É um jogador diferente, que melhora quem está em volta. Quando ele estava em campo, o jogo ficava muito mais fácil: eu jogava melhor, e todos os outros também”, explica o brasileiro Werick Maciel, companheiro de Riqui na base do Barcelona durante três anos.
Para Werick, Riqui tem características muito parecidas a outro craque do time azul e grená: “Falam que ele pode ser o novo Xavi, mas eu acho ele mais com o estilo do Iniesta”. O brasileiro não está sozinho na comparação. Daniele Massaro, ex-atacante do Milan e da seleção italiana, e atualmente assistente técnico do clube de Milão, pediu a camisa de Riqui após o amistoso entre os dois times, recentemente. “Ele joga com muita personalidade, com a cabeça erguida. Podemos estar diante de um novo Iniesta”, afirmou o ex-jogador.
Promessa é filho de empresário e já foi tenista
Se dentro de campo Riqui é um jogador diferente, fora de campo ele também tem uma vida muito distinta da de seus companheiros e adversários. A família Puig vive em Matadepera, uma das cidades mais ricas da Catalunha, e o pai é um empresário de sucesso no setor de moda e perfumes. Na infância, o hoje candidato a craque do Barcelona foi antes apresentado a outros dois esportes - o hóquei sobre grama, tradicional na região, e o tênis, que foi seu primeiro grande sonho esportivo.
Segundo amigos da família, o futebol apareceu quase por acaso, como uma diversão, sem qualquer intuito de um dia ser um profissional. Quando o talento começou a ficar evidente, Riqui foi para o Jabac-Terrassa, clube formado pela união do Jabac (onde Busquets jogou quando criança) e Terrassa (a equipe onde Xavi deu seus primeiros toques numa bola); a mudança para o Barcelona aconteceu em 2013.
Desde os primeiros passos até hoje, às portas do time profissional, Riqui jamais teve de conviver com a pressão familiar, algo presente na vida de quase todos os jovens jogadores. “Outros garotos, quando têm oportunidades como as que ele tem tido, entram em campo tensos, nervosos. Com ele é diferente. Como nunca teve essa pressão por ser jogador profissional, ele vai a campo para se divertir”, analisa Ferran Martínez, do jornal Mundo Deportivo, que acompanha a carreira de Riqui desde as categorias inferiores.
Um dos primeiros treinadores e Riqui, Sergio Espejo concorda. “Ele tem uma maneira diferente de jogar: quer se divertir. Se algo fez ele chegar até onde chegou, é a felicidade que tem jogando futebol. Por isso, e por não ter a pressão que muitos jogadores têm, ele sempre foi atrevido, sem medo. Se conseguir manter isso, estaremos diante de um grande jogador”, afirma.
O primeiro título com o time profissional, o garoto já tem: ele estava no grupo que viajou a Tânger, no Marrocos, para a disputa da Supercopa da Espanha, relacionado com a camisa 28. No Troféu Joan Gamper, contra o Boca Juniors, estreou no Camp Nou entrando no segundo tempo. Mais uma vez, foi elogiado - destacou-se com dribles, passes para os atacantes e por pouco não marcou nos acréscimos.
As aparições no time profissional devem tornar-se mais constantes nos próximos meses - principalmente nas primeiras fases da Copa do Rei.
Mas, ao menos por enquanto, a ideia de Ernesto Valverde é manter Riqui no Barça B, disputando a Segunda B, como é chamada a terceira divisão do futebol espanhol. O jovem de 19 anos ficou fora da lista de convocados para o duelo deste sábado, contra o Alavés, na primeira rodada da Liga Espanhola.
O garoto de camisa P, que pinta como projeto de craque, ainda terá de esperar um pouco mais. Em Barcelona, a espera já começou.
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