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Vizinho da seleção nos EUA, Marin vive em prisão infame e alvo de processo

Metropolitan Detention Center, em Nova York, detém Marin a 11km da seleção - Pedro Lopes/UOL
Metropolitan Detention Center, em Nova York, detém Marin a 11km da seleção Imagem: Pedro Lopes/UOL

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

03/09/2018 04h00

A partir desta segunda-feira (3), jogadores da seleção brasileira começam a se apresentar no luxuoso hotel The Westin, em Nova Jersey, para os amistosos diante dos Estados Unidos e El Salvador, nos dias 7 e 11 de setembro. A cerca de 11 km dali, esquecido e preso, está o ex-presidente da CBF José Maria Marin, condenado a quatro anos de prisão por corrupção pela Justiça dos EUA, que o acusou de receber propina em negociação de direitos de transmissão de competições do futebol brasileiro.

Há quatro anos, Marin era presidente da CBF durante a realização de uma Copa do Mundo no Brasil. Hoje, é o preso federal número 86356053 do sistema carcerário norte-americano, e está desde dezembro do ano passado no Metropolitan Detention Center, em Nova York. Designado para receber principalmente prisioneiros que aguardam julgamento, o presídio ganhou fama nos EUA por funcionar como uma instituição de segurança máxima.

O MDC é uma fortaleza de concreto que ocupa um quarteirão inteiro à margem da Gowanus Expressway, uma movimentada e decadente via expressa no coração do Brooklyn que lembra bastante o paulistano elevado presidente João Goulart, o Minhocão.

Do lado de fora, um misto de tijolos e concreto cinzento. De dentro, paredes brancas padronizadas que lembram uma repartição pública que parou no tempo. As grades ostensivas nas janelas impedem qualquer visão, de fora para dentro e de dentro para fora. Ao se aproximar da entrada, entretanto, é impressionante, mesmo da rua, o barulho ensurdecedor dos diálogos e movimentações de prisioneiros.

A segurança é rigorosa: celulares não passam sequer na porta de entrada. Para obter o direito de visitar um preso, é necessário seguir um longo processo. Ele passa por uma autorização do próprio preso, seguido de uma checagem de antecedentes e aprovação pelo Federal Bureau of Prisons, que administra a cadeia. Parentes diretos têm mais possibilidade de conseguir a entrada; no caso de membros da imprensa, é necessária uma autorização especial.

O atendimento dos servidores e policiais é lacônico e ríspido. A desconfiança com um mero pedido de informações sobre o procedimento de visita é palpável e serve quase como um exemplo do que acontece por trás muros. A descrição de quem esteve lá dentro, entretanto, vai além de quaisquer expectativas.

Prisão foi alvo de processo movido por presidiários em busca de melhores condições

A combinação de presos de colarinho branco – criminosos geralmente com curso superior, que cometeram ofensas sem emprego de violência como fraudes ao sistema financeiro e corrupção – com o rigor reservado a instituições de segurança máxima gerou uma situação inusitada. No final de 2017, seis prisioneiros entraram com uma “class action” – espécie de ação coletiva – contra o Metropolitan Detention Center.

No processo, alegam que não existe praticamente nenhuma presença de luz do sol dentro da prisão, e nenhum tipo de atividade esportiva e de lazer. Paira no ar um cheiro "fétido", com presença constante de “mofo, coliformes fecais e amianto”. No local onde as refeições são preparadas, alegam haver "presença visível de ratos, baratas e moscas, e às vezes das fezes dos animais, inclusive em contato com a comida".

Os prisioneiros também contestam a falta de cuidado do estafe do MDC com problemas médicos: os guardas, desconfiados de fingimento, demorariam a prestar cuidados. Há um caso de asma, outro de uma colonoscopia forçada. Os autores da ação dizem ter saído da instituição com a saúde significativamente pior do que quando da entrada.

Ao UOL Esporte, uma pessoa ligada a Marin e à CBF afirmou que o brasileiro permanece lúcido, mas que havia, já em dezembro, sinais claros de deterioração de seu estado de saúde.

A rotina também é repetitiva e inexorável. Os detentos são acordados todos os dias às 6h, e responsáveis por arrumar, varrer e limpar a própria cela. O único local atingido pela luz do sol é um espaço no telhado, ao qual o acesso é limitado. A principal forma de lazer é o baralho.

“Essa é uma ação importante para trazer à prisão as condições mínimas para prisioneiros de segurança mínima, dentro dos parâmetros constitucionais básicos a que todos têm direito nos EUA”, disse Eric Hochstadt, um dos advogados responsáveis pelo processo, ao New York Daily News.

Marin ainda pode ser transferido para outra prisão dos EUA

José Maria Marin está registrado no sistema carcerário federal dos EUA - Reprodução - Reprodução
José Maria Marin está registrado no sistema carcerário federal dos EUA
Imagem: Reprodução

Agora condenado e não mais aguardando decisão da Justiça, Marin pode ser transferido nas próximas semanas para outra prisão norte-americana, onde passará a cumprir a pena definitiva. Procurada pela reportagem, a defesa do dirigente não quis fazer comentários sobre sua rotina na prisão e as condições do Metropolitan Detention Center.

Enquanto isso, a vida continua para a seleção brasileira. Nesta segunda, os jogadores se apresentam e realizam o primeiro treino pós-Copa na Red Bull Arena. O confronto contra os EUA será às 19h05 do dia 7 de setembro, horário de Brasília.