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Seleção recomeça nos EUA, mas sabe que o maior desafio está na Europa

Pedro Lopes

Do UOL, em Nova Jersey (EUA)

04/09/2018 04h00

Nesta terça-feira, os últimos jogadores da lista de Tite desembarcam nos Estados Unidos, completando o elenco e iniciando um novo ciclo de Copa do Mundo. Dentro de campo, os adversários serão a seleção dos Estados Unidos, no dia 7, em Nova Jersey, e a de El Salvador, no dia 11, em Washington. É um início brando para um trabalho de longo prazo, pensando em daqui a quatro anos. Na realidade, o grande fantasma que se alojou entre o Brasil e o hexacampeonato mundial está na Europa, a um oceano de distância.

Desde a última conquista, em 2002, a seleção caiu quatro vezes diante de adversários europeus em Mundiais. Em duas delas, o algoz foi uma das ex-campeãs: França, em 2006, e Alemanha, em 2014, com Holanda e Bélgica completando a lista em 2010 e 2018, respectivamente. Fora do maior torneio do planeta o retrospecto dos últimos dois ciclos contra seleções europeias campeãs do mundo, com a adição da multifinalista Holanda, também deixa a desejar. Desde 2011 são 14 confrontos, com cinco vitórias, cinco derrotas e quatro empates, um aproveitamento de 45%.

O percentual é tão baixo quanto a frequência de confrontos. Os 14 duelos contra europeus de ponta se espalham por oito anos, média de menos de dois por temporada. Em algumas ocasiões, como 2012 e 2016, por exemplo, não houve nenhum jogo nestes moldes. Os números ainda são “turbinados” por 2013, quando o Brasil disputou a Copa das Confederações - este ano foi palco de seis dos 14 jogos.

O último ciclo seguiu essa tendência. Entre 2015 e 2018, foram apenas três jogos contra grandes seleções europeias e nem Tite se sentiu confortável com a situação. Só na reta final para a disputa na Rússia a seleção conseguiu uma bateria de testes contra times do Velho Continente, com jogos contra Inglaterra, Russia, Croácia, Alemanha e Áustria.

“Eu gostaria mais de ter esse intercâmbio. Nós aceleramos na fase preparatória antes da Copa. Alemanha, Rússia, Inglaterra, Croácia... Isso dá um lastro. Se tivéssemos tido uma etapa toda... agora temos. É importante colocar esse intercâmbio com os europeus”, afirmou o treinador, ao convocar a seleção para os amistosos nos EUA, e deixando claro que espera que esse ciclo seja diferente.

A principal razão por trás da escolha por Estados Unidos e El Salvador é logística. Para um início de ciclo, haveria dificuldade em encontrar adversários expressivos interessados em enfrentar o Brasil. O Peru, de menor poder, fará amistosos com Holanda e Alemanha, o que rendeu críticas até de Gavlão Bueno.

“O que nós vamos fazer pra jogar contra Estados Unidos e El Salvador? Gente, eu não consigo ver lógica nisso. O Peru vai jogar contra Holanda e Alemanha. O que pode trazer de importância para este novo ciclo jogar contra Estados Unidos e El Salvador?”, questionou o narrador. Além da agenda do Peru, o fato de Uruguai e França terem agendado um amistoso para a data Fifa de novembro também reforça a ideia de que o Brasil poderia ter procurado rivais mais fortes. 

Encarar times teoricamente mais fracos em um começo de ciclo para uma nova Copa é quase uma tradição brasileira. Em 2010, depois da queda para a Holanda, o rival foi a mesma seleção dos Estados Unidos. Em 2014, de novo em solo norte-americano, o nível foi um pouco mais alto, com Colõmbia e Equador. Todas as partidas terminaram em vitória, pouco indicativas dos rumos do ciclo.

A CBF, entretanto, diz que a ideia durante a longa reta de preparação para a Copa de 2022, no Qatar, passa pelo duelo com adversários da maior dificuldade possível, inclusive grandes seleções europeias.

“Ideia continua sendo a de jogar com os melhores adversários, a maior dificuldade possível. Com a Liga das Nações, dificulta porque tem menos europeus disponíveis, mas a ideia é de achar os melhores adversários possíveis”, disse Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF.

A Liga das Nações é um novo modelo de competição entre países europeus que, a partir deste ano, tende a limitar o calendário das seleções do Velho Continente. As seleções vão se enfrentar em pontos corridos e jogos eliminatórios, em um sistema integrado à Euro 2020 – os que tiverem melhor desempenho vão se classificar.

A seleção brasileira ainda terá duas datas Fifa em 2018, em outubro e novembro. Para o próximo mês, já são avaliados adversários de maior expressão: um deles seria a Argentina. O outro, a Árabia Saudita. Por enquanto, nesse começo de ciclo, sem europeus.