Topo

No 1º ato pós-Copa, Tite contraria seu histórico e investe em "coringas"

Tite optou por experiências das mais diversas na primeira janela de jogos pós-Copa - Divulgação/CBF
Tite optou por experiências das mais diversas na primeira janela de jogos pós-Copa Imagem: Divulgação/CBF

Pedro Lopes

Do UOL, em Washington (EUA)

12/09/2018 04h00

Ao longo de seu trabalho até a Copa do Mundo, Tite formou uma base sólida e pautou suas escolhas pelas convicções. Limitou experiências, elencou papeis específicos a serem cumpridos dentro de um esquema e se apegou a dogmas como o que dizia que os “jogadores atuam na mesma função que cumprem em seus clubes”. No seu primeiro ato após a Rússia, tudo mudou. Assista aos gols de Brasil 5 x 0 El Salvador.

Já na convocação, Fabinho, volante no futebol europeu há dois anos e vetado pelo próprio treinador justamente por isso, foi chamado para os amistosos nos EUA como lateral. Richarlison, ponta no Everton apesar do tamanho e da força física, foi a opção de Tite para a posição de centroavante quando Pedro, do Fluminense, se lesionou.

Eram sinais claros de mudança para quem se apegou a Gabriel Jesus como titular pela maneira como ele se adequava ao esquema, não arriscou Marquinhos na lateral mesmo com dois de seus três preferidos na posição lesionados, e recusou Luan por uma suposta incompatibilidade com o sistema do Brasil. Após a Copa, com quatro anos pela frente até a Copa de 2022, tudo poderia ser revisto.

“Tem de estar disponível. Seleção brasileira é nossa pátria, nossa nação, tem de fazer o que precisar. Se precisar de lateral ou na zaga, tem de estar disponível. Eu me sinto mais à vontade na zaga, mas a gente sempre procura fazer o melhor”, disse Marquinhos, que repetiu, contra El Salvador, a mesma função que diversas vezes desempenhou no PSG.

A ida do zagueiro para a ala, aliás, foi uma troca com um outro “coringa” levado por Tite. Zagueiro de origem, lateral no São Paulo campeão do primeiro turno do brasileiro e zagueiro de novo no começo no Porto, Militão atuou nas duas em sua primeira passagem pela seleção. Como ele, jovens novidades como Paquetá, Andreas Pereira e Fred, todos capazes de cumprir diversas funções, se desdobraram no gramado.

Sobrou até para Neymar. Na gestão de Tite até a Copa da Rússia, o camisa 10 sempre flutuou pela faixa de meio-campo atrás de Gabriel Jesus, mas mantinha seu foco na ponta esquerda, lugar do campo em que mais atuou na carreira. Contra El Salvador, porém, assumiu o papel de falso 9 quando Richarlison deixou o gramado, no começo do segundo tempo, e por ali ficou até o apito final. No PSG, vale lembrar, ele tem sido cada vez mais aproveitado como um armador central, na base da jogada.

“Traz o Militão para o meio, ele já jogou assim com o Felipe no Porto. E vejo o Marquinhos na direita. Lembro quando o Marquinhos surgiu no Corinthians, o presidente me falava: ele é a nossa pérola. Mas eu não sabia se seria volante, zagueiro ou lateral. Passaram cinco anos e ele continua jogando em todas. Militão é zagueiro de origem. Quando ao Neymar, um planejamento é versátil. As percepções trazem situações novas. Por isso coloquei em prática e mantive ele em campo até o fim para vê-lo pelo meio”, disse Tite.

Depois das vitórias sobre EUA e El Salvador, o Brasil se prepara para enfrentar Arábia Saudita e Argentina na próxima data Fifa (12 e 16 de outubro, respectivamente). Até lá, quem quiser ter espaço na nova seleção de Tite faz bem em aprender a atuar em novas funções.