Topo

Trânsito? Júlio César sugeriu a colega que tinha Golf tentar helicóptero

Julio Cesar em ação pelo QPR em 2013 - Paul Hackett/Reuters
Julio Cesar em ação pelo QPR em 2013 Imagem: Paul Hackett/Reuters

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

23/09/2018 04h00

Um dos maiores goleiros da última década, Júlio César pendurou as luvas no primeiro semestre realizando o sonho de deixar o futebol com a camisa Flamengo, seu clube do coração. O ex-atleta de 39 anos foi uma figura adorada por onde passou, incluindo o modesto Queens Park Rangers, da Inglaterra, possivelmente em um dos momentos mais duros de sua carreira.

Sem conseguir se firmar no clube, ele viu a titularidade na Copa do Mundo de 2014 ameaçada após o rebaixamento para a Championship, segunda divisão do país. Nem mesmo o momento difícil afetou, contudo, o seu astral no vestiário.

Com um inglês longe de ser fluente, Júlio César se esforçava para se integrar em um ambiente formado por jogadores que vinham de todos os lugares. Foi assim que ele protagonizou um episódio, no mínimo, engraçado com um colega de equipe em determinada manhã.

Em passagem contada no livro "Living on the Volcano: The Secrets of Surviving as a Football Manager", escrito pelo premiador autor Michael Calvin sobre as dificuldades de um treinador, o ex-goleiro sugeriu uma alternativa um pouco extravagante ao ex-companheiro Shaun Derry para fugir do trânsito infernal até o centro de treinamento do QPR.

"Uma história espelha bem o que se passou (no Queens Park Rangers). É preciso ressaltar que eu dividi vestiário com caras como Luke Young, Clint Hill, Bradley Orr e Jamie Mackie nas duas temporadas anteriores. Todos eles grandes profissionais e grandes pessoas. Até que (na janela de transferências de 2012) chega o Júlio César, o goleiro do Brasil. Ele também é uma ótima pessoa, devo dizer", conta Derry no livro.

O elenco do QPR chegou a ser descrito naquela temporada de 2012/13 como o grupo mais excêntrico de multimilionários a ter passado pela Premier League em sua história.

Outros nomes conhecidos em seus corredores eram Bosingwa, ex-Chelsea, Park Ji-Sung, ex-Manchester United, Shaun Wright-Philips, ex-City, Esteban Granero, ex-Real Madrid, e Loic Remy, ex-Olympique de Marselha.

"Eu costumava ir para os treinos no QPR de carro. Alguns dias, demorava uma hora e vinte minutos. Em outros, duas horas. Me orgulhava de nunca chegar atrasado aos treinos, exceto por um dia que foi um pesadelo e toda a decisão que tomei para evitar os engarrafamentos não funcionaram", acrescentou Derry, hoje técnico.

"O Júlio me viu e disse: 'Onde você vive?' E eu disse: 'Em Kent'. 'Onde é isso?', ele retrucou. E eu expliquei (para ele) onde era Kent. Ele prosseguiu: 'Por que você não consegue um helicóptero?' Eu, então, respondi: 'Essa não é uma má ideia, Júlio. Vou dar uma pensada a respeito'", prosseguiu.

"A essa altura, Luke Young entrou no vestiário e eu chamei ele: 'Ouve lá, Young, quanto é que custa um helicóptero hoje em dia?' Ele (Júlio) tinha ouvido a nossa conversa e colocado as mãos nos ouvidos (como se não acreditasse). O Júlio pensou que eu estava falando sério (ao perguntar o preço). Ele disse: 'Pode arranjar um helicóptero por 150 mil libras (R$ 785 mil, na cotação atual)'. 150 mil! Eu ia para os treinos num VW Golf! Era (uma situação) ridícula, absolutamente ridícula. O mais deslocado da realidade que você pode ser", concluiu.

A passagem de Júlio César ao lado de Shaun Derry e o restante de seus companheiros não durou mais que uma temporada e meia.

Preocupado com a falta de ritmo para a Copa de 2014, ele pediu para sair após ser relegado à reserva na Segundona e foi parar no Toronto FC, do Canadá. Suas recordações do QPR, ainda assim, são positivas.

"Vivi momentos muito bons e ruins na Inglaterra. Mas o principal foi que joguei uma Premier League, isso é demais, todos desejam. Por sinal, atuei muito bem. Me diverti muito em Londres e fiz novos amigos", contou, em entrevista ao UOL Esporte.

Agora aposentado, o ex-goleiro vive em Lisboa ao lado da família e cuida de seus negócios fora de campo, como a reforma de apartamentos para revenda na capital portuguesa.