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Goleiro que negociou com o SP cala a Bombonera e é o "melhor da América"

Bruno Grossi e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

25/09/2018 04h00

No último domingo, o River Plate surpreendeu ao vencer com autoridade o Boca Juniors dentro de La Bombonera. Os comandados de Marcelo Gallardo controlaram o jogo da sexta rodada do Campeonato Argentino e terminaram o fim de semana em êxtase. Mas não só pelos golaços de Pity Martínez e Nacho Scocco. Uma defesa espetacular de Franco Armani nos acréscimos deixou o 2 a 0 mais saboroso, e os torcedores "millonarios" certos de que contam com o melhor goleiro da América do Sul.

"Armani hoje não é só o melhor goleiro do futebol argentino. Talvez seja o melhor jogador do futebol argentino. É o jogador mais destacado, entre todas as posições. Tem uma série de partidas espetaculares, na maioria sem levar gols. E enfileira defesas impressionantes, partidas atrás de partidas. E não se custou a se adaptar para nada. Isso jogando no gol do River, que historicamente sempre foi muito difícil de ocupar. Para os rivais, ele se tornou um pesadelo", destaca Ariel Cristófalo, repórter que cobre o dia a dia do River para o Diário Olé, na Argentina.

O goleiro que hoje tem 31 anos por pouco não se tornou jogador do São Paulo. Em agosto de 2017, o Tricolor estava no mercado à procura de um reforço para a posição. Walter, do Corinthians, foi oferecido, e as conversas chegaram a avançar bem. Mas a preferência da diretoria de futebol da época, chefiada por Vinicius Pinotti, era por Franco Armani. O argentino colecionou títulos pelo Atlético Nacional, mas buscava novos rumos na carreira, até que o clube paulista e seus representantes começaram a negociar.

Seria preciso pagar cerca de 4 milhões de dólares (na época, a conversão resultava em quase R$ 13 milhões) para tirar o goleiro do time colombiano. Era um jogador experiente, vitorioso e disposto a jogar em um mercado de maior evidência para realizar o sonho de chegar à seleção argentina. O São Paulo, no entanto, mudou de ideia.

A ideia era não gastar uma vaga de estrangeiro com um goleiro, que dificilmente poderia entrar no rodízio que já era feito pelo fato de seis gringos estarem no elenco. O técnico Dorival Júnior comandava revezamento entre eles, o que fazia com que até o ídolo Diego Lugano fosse cortado de algumas partidas. O contato com Armani, então, esfriou. Pelo mesmo motivo, o uruguaio Gastón Guruceaga, revelado pelo Peñarol e hoje nos paraguaios do Guaraní, foi recusado.

Na virada para 2018, os empresários do argentino novamente pensaram no São Paulo como um bom destino. Só que o foco tricolor estava em Jean, que acabou comprado do Bahia em operação que poderia chegar a R$ 10 milhões dependendo de metas - esses bônus, no entanto, não foram alcançados, e a transação deve sair por pouco mais de R$ 6 milhões. Em ambos os casos, o criticado Sidão ficou sabendo das movimentações da diretoria e não viu isso como um problema. Confiava que poderia seguir como titular e até renovou seu contrato com a equipe do Morumbi.

Em seguida, o River Plate agiu rapidamente e conseguiu fechar com Armani por quase R$ 14 milhões. A adaptação foi imediata e coincidiu com o crescimento dos "Millonarios", que até então viviam momento conturbado e encaravam críticas sobre o veterano goleiro Germán Lux. A equipe engrenou, ganhou a Supercopa Argentina do rival Boca Juniors, e Armani se credenciou para ir à Copa do Mundo na Rússia logo em sua primeira convocação para a seleção argentina.

"A maioria vê a Franco Armani como um grande goleiro. E está arrebentando no River! Muitos criticam, outros torcedores dizem que a imprensa o levou à Copa do Mundo. Que os jornalistas só falaram bem por estar no River, que não o viram no Atlético Nacional. Mas creio que ele chegou à seleção por seu próprio rendimento", comenta o jornalista Daniel Avellaneda, do jornal Clarín e do canal Fox Sports.

Armani se tornou titular da Argentina no último jogo da fase de grupos da Copa, quando vencer a Nigéria era obrigação para manter o país vivo na competição. Para piorar, a troca feita pelo então técnico Jorge Sampaoli foi motivada por falhas de Willy Caballero contra a Croácia. O "novato" foi bem diante dos africanos, mas não parou o poderoso ataque da França, que seria campeã mais tarde. Os 4 a 2 nas oitavas de final são lembrados por torcedores rivais na tentativa de provocar Armani, como aconteceu com os cânticos dos "hinchas" do Boca em La Bombonera. Para Ariel Cristófalo, isso só acaba motivando e engrandecendo o arqueiro.

Daniel Avellaneda reitera: "Ele teve de jogar em uma situação complicada, depois do erro de Caballero. E muitos reclamam que Armani não resolveu diante de Mbappé. Mas no Campeonato Argentino ele arrebenta. Lionel Scaloni, o técnico interino da seleção, reconheceu o trabalho e ratificou a confiança. Vai jogar os próximos amistosos, contra o Brasil, inclusive. Nos últimos 20 jogos, tomou quatro gols. Em 31 partidas, levou apenas quatro. São outros 20 jogos sem ser vazado. A verdade é que é um monstro. Sem dúvidas é o melhor da América do Sul".

Curiosamente, a chegada de Armani ao River lembra muito o cenário dos goleiros do São Paulo. O time de Buenos Aires perdeu o ídolo Marcelo Barovero para o Monterrey, do México, e os substitutos testados nunca se aproximaram do campeão da Libertadores de 2015. A semelhança com a irregularidade de Denis, Renan Ribeiro, Sidão e Jean, herdeiros de Rogério Ceni no Tricolor, é clara.

"Depois que Barovero saiu, passaram outros goleiros como Batalla, um garoto da base, Lux, que voltou do La Coruña, e também Bologna. Mas nenhum deles esteve à altura da meta do River. Era um posto muito quente, muito pesado para segurar. Armani entrou e não deixou nenhuma dúvida. E vinha com muitas expectativas por tudo o que conquistou com o Atlético Nacional. Por como conquistou a torcida deles, que encheu o estádio só para se despedir dele. É um dos poucos casos em que as expectativas por um jogador se cumprem todas e até se supera", lembra Ariel Cristófalo, que prossegue:

"Em muito pouco tempo, Armani conseguiu ser o melhor goleiro do futebol argentino e ganhar a chance de disputar a Copa do Mundo. Ele sempre sonhou com isso. E deixou exposto muitos treinadores que não o haviam considerado antes. Porque Armani há anos já vinha arrebentando pelo Atlético Nacional. Foi campeão de tudo, foram 13 títulos pelo time colombiano. A partir disso, penso que deveria ter tido uma chance na seleção muito antes. Hoje, sem dúvidas, é o dono da posição".