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Revolução do Chelsea com Sarri envolve bom futebol. E também bolo e sorvete

IAN KINGTON/AFP
Imagem: IAN KINGTON/AFP

Do UOL, em São Paulo

04/10/2018 04h00

O início de campanha empolgante do Chelsea na temporada do futebol inglês colocou em evidência um técnico que foge dos padrões atuais. Mas além do comprometimento com um futebol vistoso e que pouco lembra o modorrento fim da era Antonio Conte, o italiano Maurizio Sarri levou a Stamford Bridge frescor para um ambiente que estava pesado.

Desde que assumiu o comando do Chelsea, Sarri se destacou por retirar proibições que regiam o clube com seu antecessor. Inclusive em relação à alimentação, que era rígida nos dois anos com Conte. Agora, segundo reportagem da emissora britânica “BBC”, os cozinheiros do clube preparam bolo e servem potes de sorvete como formas de agrado após cada jogo. Antes, ficavam à disposição apenas sementes e frutas secas. Sal, ketchup e manteiga também passaram a fazer parte das mesas de refeições.

O "relaxamento" na conduta implicou também em uma mudança em jogos realizados em Londres. Nestes casos, a concentração foi extinta e os jogadores estão liberados para se apresentarem poucas horas antes do jogo. Uma relação de confiança que tem sido recompensada com um início de temporada promissor.

Até o momento, o Chelsea está invicto no Campeonato Inglês, ocupando a terceira colocação com cinco vitórias e dois empates. Na Copa da Liga Inglesa, uma vitória empolgante no Anfield Road por 2 a 1 sobre o Liverpool voltou a entusiasmar o torcedor não só pelos resultados, mas pelo bom futebol apresentado. Uma equipe que, sobretudo, parece ter assimilado rapidamente os conceitos de um treinador com trajetória incomum.

Nascido em Nápoles, Maurizio Sarri nunca jogou profissionalmente e por mais de uma década treinou equipes da Toscana ao mesmo tempo em que trabalhava como executivo de um banco. Nos anos 2000 perambulou por diversas equipes italianas até ganhar notoriedade, principalmente, por seu trabalho no Napoli de 2015 a 2018.

Neste período, Sarri esteve à frente de um time competitivo que ganhou elogios de diversos companheiros de profissão. Pep Guardiola, por exemplo, disse que era “um espetáculo” ver o Napoli jogar e que gostaria de vê-lo no Inglês. O treinador não conquistou títulos, mas deixou um inegável legado na Itália 

No centro da admiração está o estilo de jogo que Sarri prega, que ganhou até a alcunha de “SarriBall”. Entre seus fundamentos, está a troca de passes com qualidade desde a defesa, uma transição eficiente e aceleração no terço final do campo. Em resumo, uma preocupação em ter a posse de bola, sem perder a verticalidade. Na defesa, marcação adiantada e coordenada, com momentos de pressão e sem deixar de ser compacto.

Sarri - Reuters/Lee Smith  - Reuters/Lee Smith
Sarri acredita que Hazard te potencial para marcar 40 gols na temporada
Imagem: Reuters/Lee Smith
No Chelsea, até o momento, tal estilo já refletiu no aperfeiçoamento de sua maior estrela atual. Hazard já marcou sete gols na temporada e tem se destacado sob comando de Sarri, que o considera um jogador capaz de marcar, como Cristiano Ronaldo e Messi, mais de 40 gols no período.

O belga tentou explicar o que mudou desde a entrada do técnico. “Temos que ser cuidados com a distribuição da bola quando estamos pressionando o adversário. Sarri quer que passemos a bola para frente. Tratamos de fazer isso nos treinamentos e nas partidas”, disse Hazard.

Desafio de continuidade

Em um país que tem como marca a continuidade de técnicos por um longo período, o Chelsea busca uma estabilidade que se perdeu nos últimos anos. Quando o magnata russo Roman Abramovich assumiu o comando do clube, Claudio Ranieri e Jose Mourinho encerraram ciclos de três anos. Porém, desde 2007, o clube teve outras 10 mudanças de técnico até apostar em Sarri. Destes, Antonio Conte foi o único a completar duas temporadas, sendo que a última já foi marcada por uma crise permanente.

Para desafiar esta lógica recente, Sarri tem um diferencial em relação aos seus antecessores: seu estilo de jogo é o mais próximo do idealizado por Abramovich ao comprar o clube. Na Inglaterra, a aposta em Sarri foi interpretada como uma tentativa de enfim ver um Chelsea que combine o futebol bonito com títulos.

Até o momento, os resultados positivos e as partidas ofensivas e vibrantes de um time que era cobrado por sua apatia garantem a lua-de-mel entre Sarri, torcedores, clube e elenco. Resta saber se este sentimento sobreviverá ao longo de uma temporada de um dos campeonatos nacionais mais competitivos do mundo.