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Blindagem, curiosidade e expectativa: filho de Ronaldinho joga no Cruzeiro

João Mendes, filho de Ronaldinho Gaúcho, joga no Cruzeiro desde agosto de 2018 - Enrico Bruno/UOL Esporte
João Mendes, filho de Ronaldinho Gaúcho, joga no Cruzeiro desde agosto de 2018 Imagem: Enrico Bruno/UOL Esporte

Luiza Oliveira e Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo e Belo Horizonte

12/10/2018 04h00

João Mendes tem 13 anos e ama futebol. Está naquela fase em que vive para o esporte. Quer jogar bola toda hora, ver jogos na televisão e virar jogador profissional. E ainda está no caminho certo: faz parte das categorias de base do Cruzeiro. É centroavante, daqueles que gostam de partir para cima dos adversários. Ele seria igual a milhares de jovens brasileiro não fosse por um motivo: é filho de Ronaldinho Gaúcho.

O fato de ter um pai tão famoso gera curiosidade. Colegas fazem perguntas sobre a sua vida, a imprensa pede entrevistas a todo momento e conhecidos inconvenientes fazem comparações com o pai. É por tudo isso que João é um garoto como todos os outros, mas também não é. A família e o clube trabalham o lado emocional do menino e o blindam para que ele tenha uma vida mais normal possível. A mãe, Janaína Nathiele, acompanha de perto o desenvolvimento da ainda breve carreira. Não quer regalias ou pressão.

“Eu falei para ele conquistar as coisas com o mérito dele, não por ser filho de quem é. Isso sempre foi uma parte importante na criação dele. Embora o pai seja uma pessoa maravilhosa, famosa, um excelente jogador, eu não quero que ele carregue esse peso. Quero que ele tenha personalidade. Ele é muito na dele, centrado, sabe as coisas que quer. Escutou muito isso a vida inteira”.

O garoto chegou na base do Cruzeiro neste ano. Cumpre as mesmas regras dos outros, não tem qualquer benefício extra e já está bem entrosado com os outros meninos. O Cruzeiro evita que ele fale com jornalistas e a família leva uma vida discreta, fora dos holofotes, sem a presença do pai no clube, posts em redes sociais ou qualquer tipo de ostentação. Quando passou no teste, os avaliadores nem sabiam do parentesco.

“Nunca gostei de expor o João. Já é difícil ser filho do Ronaldo. O que o menino vive ali, todo mundo sabendo, não era a vida que a gente queria levar. Ser filho dele não foi uma escolha. O que a gente pode escolher é como viver melhor com isso”, conta Janaína.

João é próximo do pai, mas o fato de morarem em cidades diferentes, somado à rotina atribulada de Ronaldinho, às vezes atrapalha o convívio frequente. Nas próximas semanas, porém, o craque deve ir até Belo Horizonte para assistir a um jogo do filho.

Hoje em dia, ele já se acostumou a despertar a curiosidade dos outros adolescentes e sabe que tem que conviver com perguntas sobre o pai. Como é tímido, já se incomodou com isso. Quando jogava em uma escolinha no Rio de Janeiro, se sentiu invadido e pediu para parar de frequentar o local. Hoje, leva com mais naturalidade os questionamentos.

“O João é um menino muito simples, reservado. Não é de falar muito da vida dele. Acho que, de cara, as pessoas já entendem isso. Não que não perguntem, os meninos perguntam algumas coisas por curiosidade. Ele responde com naturalidade. ‘É assim, assado’ e a história já acaba. Ele não dá abertura para as pessoas ficarem questionando muita coisa porque é meio desagradável”.

Janaína sofre com as comparações que já começam a aparecer. E as conversas em casa são rotineiras para que ele saiba lidar com isso: "Eu sou o João Mendes. Meu pai é o meu pai. Eu sou eu".

“Fico apreensiva. Ninguém gosta de ver um filho pressionado, ainda mais a esse ponto. O que eu converso muito com ele e gostaria que as pessoas entendessem é que ele ainda é uma criança. Não é adulto, não tem como comparar o futebol dele com o do pai. Não compare em momento nenhum”.

“O pai dele foi um astro. Vamos esperar começar jogar, esperar a carreira começar a andar. Pode dar tudo certo, pode ser um super jogador. Pode também não ser. Pode desistir no meio do caminho, não querer mais. Fico triste de ver uma pessoa comparando os dois. As pessoas falam: ‘Se você jogar 10% do que o seu pai jogou está bom'  Não tem como lutar com isso. Se eu for discutir com cada pessoa que fala bobagem... Espero que a pessoa entenda que é um ser humano, que tem uma personalidade própria, tem nome, identidade e está começando a vida dele”.

Como chegou ao Cruzeiro

Quando foi anunciado que o filho de Ronaldinho havia ido para o Cruzeiro, muitos se perguntaram: por que não Atlético-MG, time em que o craque se tornou ídolo? Tudo aconteceu por acaso, mas a mãe vê como positivo não ter seguido o mesmo caminho. “Acho que o comentário seria maior. As comparações seriam maiores. De repente, falariam sobre a maneira com que chegou lá: ‘por causa do nome do pai’".

João já havia jogado em alguns times do Rio de Janeiro. Jogou em uma escolinha do PSG e fez parte de uma seleção que foi até a França disputar um campeonato. Janaína nega que tenha recebido propostas para morar na França, como alguns veículos de imprensa publicaram.

Os dois acabaram se mudando para Brasília, mas a capital federal não apresentava muitas opções para o menino desenvolver seu futebol. Foi quando o pai de um amigo que jogava no Cruzeiro falou sobre uma peneira. Sem muitas pretensões, João fez o teste com outros 80 meninos. Terminou entre os cinco aprovados sem que soubessem que ele era filho do Ronaldo.

Janaína, então, abriu mão da cidade que tinha escolhido para morar e se mudou para Belo Horizonte. Foi em agosto. Por enquanto, a família não tem grandes pretensões. Janaína só tem uma certeza. Estará sempre ao lado do filho e quer que ele seja feliz.