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Apelido, 'nova cara' e liderança: os bastidores de D'Alessandro na reserva

D"Alessandro participa de treinamento do Internacional e volta a ser titular - Ricardo Duarte/Inter
D'Alessandro participa de treinamento do Internacional e volta a ser titular Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

18/10/2018 04h00

Quase 150 dias entre a partida contra o Flamengo, na quarta rodada do Campeonato Brasileiro, e o duelo com o Vitória, na 27ª. Este foi o período de D'Alessandro longe do time titular do Internacional. Fora por lesão e suspensão ou entrando no decorrer dos jogos, o gringo conheceu algo novo na carreira e mostrou um lado que muitos duvidavam que existisse.

Os bastidores do período de D'Ale fora do time ecoam em todas as manifestações sobre ele. É possível desconfiar de uma, duas ou três frases. Mas em momento algum, qualquer pessoa do Inter, seja superior como dirigentes e comissão técnica, igual, como jogadores, ou em posto abaixo, como funcionários do clube, criticou o comportamento dele.

"O D'Ale é um cara muito especial no vestiário. Ajuda o grupo, está sempre ajudando os jogadores mais jovens, quem chega no Inter é recepcionado por ele. Tem uma cabeça tranquila e pensa, como sempre pensou, apenas no Inter, seja jogando ou no banco. Ele sempre quer ajudar, se dedica ao máximo, não quer parar de jeito nenhum, e isso acaba contagiando os outros jogadores, por tudo que ele faz. É experiente, ajuda o grupo, dá exemplo, ajuda o Odair, é um ídolo que todos respeitam", afirmou Leandro Damião.

"O D'Alessandro é exemplo não só por seu comportamento como atleta, senão que como pessoa também, fora de campo. Não à toa construiu um período vitorioso de dez anos em um mesmo clube, o que é raridade no futebol de hoje. Ele entendeu naturalmente o processo de consolidação da equipe no momento em que estava fora não por opção técnica, mas por situação de suspensão ou lesão. Seja jogando ou não nesse período, sempre deu sua contribuição no vestiário, no dia a dia de trabalho. Ficamos felizes pela forma como corresponde, sempre em alto nível", disse o técnico Odair Hellmann, ao UOL Esporte. 

Resposta a quem duvidava

D'Alessandro é o tipo de jogador que acompanha todas as informações referentes ao time ou a seu rendimento. Não é raro vê-lo, em entrevistas coletivas, respondendo algo que foi publicado, seja notícia ou comentário. E seguiu fazendo isso durante o período afastado por lesão e suspensão e também quando ficou no banco.

Viu uma enxurrada de dúvidas sobre como seria seu comportamento. Muito justificado pelos problemas que teve logo de sua chegada. Com menos idade e personalidade forte, brigou com Tite, hoje técnico da seleção brasileira, em 2009. Ficou no banco, foi afastado, e quando era chamado pouca força fazia para mudar os jogos. Virou outro jogador apenas com a demissão do treinador e contratação de Mário Sérgio, e por pouco o Inter não conquistou o Brasileiro daquele ano.

Mas o próprio disse, no evento que comemorou seus dez anos no clube, que se arrependia de algumas condutas. Hoje aos 37 anos, se comportaria diferente. E teve a oportunidade de responder aos críticos, dessa vez sem palavras, mas com atitudes.

"Lá no começo se falava que eu não conseguiria me segurar no banco, criaria problema. Quem fala isso não me conhece. Fico feliz por mostrar uma imagem diferente, este outro lado, para quem não sabia como seria", disse o gringo, após o jogo com Vitória.

Uma cara diferente

Enquanto esteve afastado por lesão, D'Alessandro fez questão de participar dos momentos de reunião do grupo. Acompanhava de perto os treinos, visitava concentrações, estava presente nos jogos, se aproximava dos mais jovens e principalmente os estrangeiros, como Sarrafiore, Cuesta, Alvez e Nico. Nos treinamentos, a partir do retorno, fez questão de explicar que entendia o processo, que estava fora do time porque a equipe cresceu em sua ausência e não pressionou interna ou externamente para voltar.

Ainda rompeu um dos rótulos que o acompanhava, o de "esquentadinho". Seja quando toma entradas mais fortes nas atividades, ou quando "discute" com as arbitragens dos mini-jogos realizados pela comissão técnica, ele sempre acaba em sorrisos e brincadeiras. O tempo transformou D'Alessandro da briga, inclusive com companheiro, como quando acertou um soco em William durante atividade de 2014, em um cara brincalhão. Que segue sem aceitar a derrota, mas no fim entende que o fim não é o confronto.

Mesmo quando teve uma boa atuação diante do Vitória, a primeira coisa que disse na zona mista após o jogo foi: "Na próxima partida o Patrick (que estava suspenso) irá voltar", reforçando que compreendia o processo. E surpreendendo também quem duvidava disso.

"Velhinho"

No tempo fora do time, D'Ale não apenas respondeu aos críticos, mas ganhou um apelido: "Velhinho". Este é o jeito que os companheiros o chamam, e até ele se refere a ele mesmo assim. Quando vai falar de si, em tom de brincadeira, diz que "o Velhinho ainda está correndo". Ao marcar diante do Vitória, simulou uma pessoa caminhando apoiada em uma bengala.

"É verdade, o pessoal me chama assim, mesmo", confidenciou.

No período de ausência, foram dez jogos começando no banco e entrando por períodos que foram de 45 minutos (diante do Fluminense) a apenas um (contra o Atlético-MG). Desde o Vitória já são dois jogos como titular, sendo o último com grande atuação contra o São Paulo, quando foi substituído no segundo tempo e sendo aplaudido de pé pela torcida.

"Eu só tenho a agradecer ao D'Alessandro por tudo que faz pelo grupo", exaltou Odair.