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Governo da Paraíba exonera delegados responsáveis pela Operação Cartola

Governador Ricardo Coutinho (PSB) foi citado em reportagem sobre propina na Paraíba - Pedro Ladeira/Folhapress
Governador Ricardo Coutinho (PSB) foi citado em reportagem sobre propina na Paraíba Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

01/11/2018 04h00

O governo da Paraíba exonerou dois delegados e um superintendente responsáveis pela Operação Cartola, que investiga um esquema de manipulação de resultados e pagamento de propina no futebol paraibano. Os delegados Lucas Sá e Maria Vanderleia Gadi, além do superintendente Marcos Paulo dos Anjos Vilela, deixaram seus cargos em decisão publicada no Diário Oficial da União nesta quarta-feira.

O delegado Lucas Sá era o principal responsável pela investigação e já havia finalizado uma fase da Operação Cartola. Ele era titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa e foi ‘rebaixado’. Já Vanderleia Gadi também participou como delegada adjunta, assim como o superintendente, que deu apoio.

Coincidentemente, as mudanças ocorreram três dias após a TV Globo veicular uma reportagem no Esporte Espetacular que apontou interferência política nas acusações do futebol da Paraíba. A matéria expõe conversas e indícios de que o governador Ricardo Coutinho (PSB) sabia do esquema de propina. É destacada uma conversa em que o então vice de futebol do Botafogo Breno Morais informa ao ex-presidente Zezinho que havia assistido à partida entre Botafogo-PB e Atlético-MG pela Copa do Brasil, realizada na capital paraibana em 21 de fevereiro, ao lado de Ricardo Coutinho.

Incomodado com a goleada do time da casa por 4 a 0 (sofrida contra o Galo), o governador teria dito. “Breno, o certo era você ter comprado o juiz de um jogo desse “. Breno afirma ter respondido: “Eu sei, mas não tive jeito de chegar.” A reportagem informa ainda que Breno nega qualquer ligação com o governador, mas Coutinho ainda aparece em um vídeo dizendo que Breno é um ‘querido amigo’.

Pessoas ligadas à Polícia Civil informaram ao UOL Esporte que os funcionários foram pegos de surpresa e que tiveram de deixar suas funções repentinamente no meio da operação. Na visão de alguns, foi uma represália pelo trabalho e pela veiculação da matéria.

O Secretário de Segurança Pública do estado, Claudio Lima, confirmou as exonerações, mas negou que a motivação tenha sido a veiculação da reportagem. Segundo ele, as mudanças representam uma estratégia de gestão e envolveram 13 pessoas no total. No entanto, não houve qualquer trabalho de transição nos setores.

“Foi em busca de resultados, é uma política de segurança de metas e resultados. Não foram só dois, foram 13 pessoas que mudaram de delegacia, inclusive o superintendente saiu e assumiu o substituto. É uma estratégia de gestão. Se fizer uma análise da gestão, sempre tem mudanças”, afirmou.

“O Lucas, por exemplo, fez um bom trabalho, mas foi preciso reutilizá-lo em outro local. Realmente houve a reportagem, mas não podemos ficar presos, tem que fazer o certo”.

A Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba (ADEPDEL) divulgou uma nota contrária às exonerações de cargos em comissão de Delegados de Polícia.

NOTA

A Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba – ADEPDEL vem a público se manifestar sobre as exonerações, de cargos em comissão, de Delegados de Polícia, publicadas no diário oficial de 31 de Outubro de 2018.

Inicialmente, cabe registrar o agradecimento a todos os colegas que foram exonerados. Sim, agradecer. A ADEPDEL reconhece a dedicação à Polícia Civil, durante o tempo em que ocuparam cargos importantes na gestão. Vocês enaltecem o nome da instituição.

A Polícia Civil evoluiu muito nos últimos anos, com muitas operações de repercussão nacional, redução de homicídios e aumento na elucidação de crimes. Foi também considerada a melhor Polícia Civil do País, segundo pesquisa da revista Exame. E os colegas, exonerados hoje, foram atores importantes desse processo.

A sociedade reconhece o trabalho da Polícia Civil, de João Pessoa a Cajazeiras.

Infelizmente, a Polícia Civil não tem autonomia financeira, administrativa e gerencial. Além disso, não evoluiu no tratamento humanitário ao policial. Rapidamente, esquecem a quantidade de serviços prestados.

A Polícia Judiciária Estadual fica à mercê de Secretários, que se utilizam dos belíssimos trabalhos da instituição para enaltecer planejamentos, ditos “autorais”. Na verdade, alguns dos colaboradores foram exonerados hoje.

O tratamento de subserviência que vem sendo dado e pregado pelo atual Secretário de Segurança é histórico, ou melhor, ficará para o rol das piores histórias da Polícia Civil.

A Polícia Civil sangra com esse modelo de gestão do Secretário Claudio Lima, que procura dividir e descartar o ser humano como papéis recicláveis, sem justificativas plausíveis ou até mesmo com fundamentos.

A ADEPDEL vem tentando construir uma Polícia Civil mais independente, no sentido de poder assinar um ofício, até mesmo comprar uma lâmpada ou cadeira, sem ter que pedir autorização ao Secretário da pasta.

Por sinal, os policiais civis estão cada vez mais desacreditados em ter uma Polícia Civil mais autônoma, assim como ocorre com a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, pois se tirarmos o comando gerencial da Polícia Civil do Secretário de Segurança, esta secretaria não teria sentido de existir.

Os Delegados de Polícia Civil do Estado trabalham para a sociedade, não têm apego a cargos, não estão de passagem e sempre seguirão o caminho do bem, em busca de uma Polícia Judiciária cidadã, que possa priorizar o que a sociedade realmente quer.

Cargos em comissão são passageiros, são de livre nomeação e de exoneração. Já o histórico de dedicação de cada policial dentro da Polícia Civil ninguém apaga.

A ADEPDEL sempre defenderá os bons pleitos e muitas vezes apoiou a Secretaria de Segurança e o Governo contra politizações, com sugestões e ideias, muitas das quais implementadas pela força do argumento, sempre no intuito de ajudar a instituição, sem qualquer tipo de vaidade, priorizando um relacionamento institucional e isento. E assim continuaremos.

Fizemos um Plano de Segurança Pública, voltado para Reestruturação da Polícia Civil, com a melhor das intenções, ouvindo quem faz a segurança na ponta e, sobretudo, a sociedade. Atendemos mais 200 mil cidadãos paraibanos todos os anos. Sabemos o que a sociedade almeja. Apontamos os avanços dos últimos anos e o que precisa ser aperfeiçoado e melhorado.

Não copiamos plano de ninguém.

Reconhecemos as boas práticas.

Mas, exigimos respeito, pois construímos algo para o povo paraibano e que foi menosprezado, desde o início de sua construção, pelo atual Secretário de Segurança.

Ninguém é dono da verdade. Nenhum plano é infalível, de forma a não precisar ser aperfeiçoado. É preciso ter humildade para reconhecer isso.

Um dos mais graves problemas da Polícia Civil é a falta de autonomia gerencial e as constantes ingerências do atual Secretário de Segurança, que ocupa um cargo político, nas “escolhas” de nomes que dão “resultados”. Afinal, a Polícia Civil tem um Delegado Geral, que é o chefe da instituição.

Talvez o senhor Secretário não saiba, mas na pesquisa feita com os Delegados, mais de 98% estão insatisfeitos com o tratamento dado pela Secretaria de Segurança à Polícia Civil.

Continuaremos trabalhando, apesar de não apoiarmos a gestão do atual Secretário.

Defenderemos a busca pela redução dos homicídios.

Orientaremos os Delegados a priorizarem as demandas do cidadão comum, que escolheu o combate crime patrimonial como demanda essencial.

Nosso compromisso é a proteção da sociedade e o combate ao crime.