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Seleção tem Londres como casa, mas vê desinteresse inglês até com Neymar

Tite comanda treino da seleção em Wembley, na Inglaterra, antes de amistoso em 2017 - Lucas Figueiredo/CBF
Tite comanda treino da seleção em Wembley, na Inglaterra, antes de amistoso em 2017 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de St. Albans (Inglaterra)

13/11/2018 04h00

Ao desembarcar na manhã da última segunda-feira (12), em St. Albans, nos arredores de Londres, para se apresentar à seleção brasileira, Neymar conseguiu descer do carro e caminhar com tranquilidade até a entrada do hotel, sem demandar praticamente qualquer segurança. Não havia qualquer motivo para receio: ao contrário do que costuma acontecer, nenhum torcedor se dirigiu até o local para receber os jogadores e pedir um autógrafo ou mesmo uma foto.

A cena surpreende. Mais do que qualquer outra cidade brasileira, Londres se consolidou, a despeito da indignação popular que o assunto geralmente suscita, como a casa da seleção nos últimos anos.

Desde 2006, quando negociou os direitos comerciais de suas partidas, o time comandado por Tite entrou em campo 13 vezes na capital inglesa. Sete delas foram em amistosos no Emirates Stadium, outras três em Wembley e uma em Stamford Bridge, White Hart Lane e Craven Cottage, cada.

No mesmo período, recebeu mais jogos que São Paulo (8), Belo Horizonte (6) e mesmo Rio de Janeiro (6), incluindo competições oficiais.

Essa conta irá aumentar a favor de Londres na sexta-feira (16), quando o Brasil enfrentará o Uruguai mais uma vez no Emirates, às 18h (horário de Brasília). Não será, no entanto, como em outras ocasiões: aproximadamente metade dos lugares do estádio estará fechado - todo o anel superior.

Pessoas ligadas à Pitch International, agência de marketing responsável por comercializar os jogos da seleção, afirmaram ao UOL Esporte que somente ingressos para o anel inferior estão sendo vendidos e que nem mesmo assim é possível assegurar que eles esgotarão.

Firmino - AFP PHOTO / ADRIAN DENNIS - AFP PHOTO / ADRIAN DENNIS
Última vitória do Brasil em Londres foi sobre o Chile, com gol de Firmino (foto), em 2015
Imagem: AFP PHOTO / ADRIAN DENNIS
Para fisgar o público inglês, a empresa tem sido obrigada a fazer mais ações comerciais do que de costume, com direito a concursos com parceiros para sortear entradas e uma preocupação especial com os setores mais caros. Foi necessário mobilizar até mesmo Neymar, que divulgou a partida em suas redes sociais, convidando as pessoas para acompanhá-la.

Chegou-se a cogitar a realização do amistoso em outro estádio, mas dois motivos pesaram pela escolha do Emirates por parte da Pitch: a relação estreita do coordenador de seleções Edu Gaspar com o Arsenal e o custo da operação mais salgado nas demais alternativas londrinas.

É citado o exemplo de quando mandou jogo em Stamford Bridge, em 2013. Naquela oportunidade, ela teve de repassar parte substancial da bilheteria ao Chelsea como fruto do acordo.

Perguntada pela reportagem a respeito da venda de ingressos contra os uruguaios, a CBF afirmou que não cuida do assunto.

Atletas aprovam Londres

A despeito da pressão para enfrentar adversários europeus, não há como contestar o desafio que o Uruguai representa para a seleção nesta sexta. Quando se trata de compromissos em Londres, ainda assim, nem sempre esse é um critério que costuma ser levado em conta ou, se preferir, colocado em primeiro plano.

Em suas 13 passagens anteriores pela capital inglesa desde 2006, o Brasil enfrentou um africano (Gana), dois sul-americanos (Argentina e Chile) e, como seria de se esperar, uma larga maioria europeia. Ao todo, foram dez confrontos com rivais do velho continente (Inglaterra, três vezes, Portugal, Itália, Suécia, País de Gales, Irlanda, Escócia e Rússia).

Em somente duas ocasiões, os pentacampeões mundiais foram derrotados: Portugal, no Emirates, em 2007, e Inglaterra, em Wembley, em 2013.

Um fator facilitador que contribui para a preferência por Londres é a logística, encurtando o deslocamento para os jogadores, cuja maior parte atua hoje na Premier League.

“Durante todo esse período, trocaram muitos jogadores. Para alguns, até será novidade (atuar na cidade). Vou me sentir muito mais em casa pelo fato de ser o país da minha liga, me mudei para a Inglaterra, para o Liverpool. Não tem tanta viagem longa, consegue descansar um pouco mais”, afirmou o goleiro Alisson, em entrevista coletiva.

“O calendário no fim do ano fica cheio, muito corrido, mas estaremos fazendo o que gostamos de fazer. Com certeza, me sentirei em casa. Joguei no Emirates há duas semanas, é um estádio lindo e com gramado excelente”, concluiu.

O retrospecto em Londres desde 2006

2006
Brasil 3 x 0 Argentina (Emirates)
Brasil 2 x 0 País de Gales (White Hart Lane)

2007
Brasil 0 x 2 Portugal (Emirates)
Brasil 1 x 1 Inglaterra (Wembley)

2008
Brasil 1 x 0 Suécia (Emirates)

2009
Brasil 2 x 0 Itália (Emirates)

2010
Brasil 2 x 0 Irlanda (Emirates)

2011
Brasil 2 x 0 Escócia (Emirates)
Brasil 1 x 0 Gana (Craven Cottage)

2013
Brasil 1 x 2 Inglaterra (Wembley)
Brasil 1 x 1 Rússia (Stamford Bridge)

2015
Brasil 1 x 0 Chile (Emirates)

2017
Brasil 0 x 0 Inglaterra (Wembley)