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"Mais humano", Neymar reencontra seus críticos mais implacáveis em Londres

Neymar levou o filho Davi Lucca para entrevista coletiva em Londres - Pedro Martins / MoWA Press
Neymar levou o filho Davi Lucca para entrevista coletiva em Londres Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de St. Albans (Inglaterra)

16/11/2018 04h00

Nenhum atleta teve o seu comportamento mais esmiuçado que Neymar na última Copa do Mundo. Quedas, simulações, reações destemperadas, tudo isso serviu como motivo para condenar a postura do craque de 26 anos na Rússia. Somente um detalhe se mostrou capaz de reunir os brasileiros ao redor do atacante: a crítica às vezes exagerada da imprensa internacional, em especial, dos ingleses, que não perdoaram as imagens recorrentes dele no chão nos jogos da seleção.

Essa base de apoio dificilmente estará presente, no entanto, quando ele entrar em campo nesta sexta-feira (16) para enfrentar o Uruguai em amistoso no Emirates Stadium, em Londres, às 18h (de Brasília).

Mais do que o ex-companheiro Suárez, o atual parceiro Cavani e outros nomes, Neymar terá pela frente o seu adversário mais implacável desde que se apresentou pela primeira vez com a seleção principal em Londres, em março de 2011, na vitória de 2 a 0 sobre a Escócia: o público local.

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A relação entre as duas partes nunca foi harmoniosa.

Talvez por ela ter se iniciado com o pé esquerdo naquela ocasião, com um incidente de racismo que envolveu uma banana ser atirada em sua direção. Desde então, ela jamais se reconstruiu e somente acentuou a intensidade com que o destaque do PSG é julgado.

No Mundial, Neymar chegou a ser chamado de “falso e constrangedor” em artigo publicado pelo tabloide Daily Mail. O jornal The Guardian, por sua vez, disse que "ele precisava crescer". Enquanto que nomes como Alan Shearer, Gary Lineker e Joey Barton também não aliviaram e chegaram a sugerir que se tratava de "um péssimo exemplo para crianças".

Desde 2011, foram seis passagens com a seleção principal por Londres, com três vitórias, dois empates e uma derrota.

Elas tiveram direito a desabafo do atacante que repercutiu no país inteiro dizendo que era difícil atuar em "clima de racismo" após o arremesso da banana, perseguição de vaias ensurdecedoras mesmo após balançar as redes e bate-boca com um torcedor na arquibancada que o chamou de "mergulhador".

Neymar mais humano

Neymar ao lado de Davi Lucca - Pedro Martins/Mowa Press - Pedro Martins/Mowa Press
Imagem: Pedro Martins/Mowa Press
Mais maduro após entrar em seu terceiro ciclo como protagonista do Brasil e agora novamente carregando a braçadeira de capitão, Neymar colocará o seu novo status em jogo logo mais.

"Estou na seleção há alguns aninhos, é diferente. É claro que assumi a braçadeira há pouco tempo, mas cada um tem sua forma de liderar. Não é porque uso a faixa que só eu vou falar, dar exemplo. Cada um tem seu papel, me sinto orgulhoso e feliz por ser um líder, usando a faixa ou não. Além de vitorioso, passar coisas boas também", afirmou, em entrevista coletiva.

Enquanto dizia as palavras, o camisa 10 tinha ao seu lado o filho David Lucca, 7, que aproveitou o feriado no Brasil para visitá-lo. Para Tite, é uma maneira de "humanizar" também a sua estrela.

"Temos sentimentos iguais. É o sentimento do atleta, da comissão técnica, de todos. Tem um simbolismo o Neymar trazer o filho dele. Humanizar um pouco mais. É de cunho humano, é de cunho família. O meu sorriso (em uma das respostas) foi nesse sentido", disse o treinador.

Negócios do craque passam por Londres

Neymar reina absoluto em Paris, diverte-se em Santos, mas os seus negócios, em uma parcela considerável, passam todos eles por Londres. A capital inglesa serve como base para o empresário israelense Pini Zahavi, um dos mais poderosos do mundo e que passa pelo menos seis meses por ano ela. Ele foi o responsável por intermediar a ida do craque para o PSG.

Acompanhado do agente Humberto Paiva, que o auxilia no mercado, Pini costuma viajar até o Brasil para se reunir com frequência com Neymar pai e cuidar dos contratos do brasileiro nas mais diversas áreas.

Ele é o encarregado, por exemplo, por comandar as ações no mercado asiático e fechar acordo em nome de Neymar.

A parceria se fortaleceu mais recentemente, porém, ela existe faz mais de cinco anos, com conversas frustradas para transferência para a Premier League envolvendo clubes como o Chelsea e o West Ham. Outro que também esteve no outro lado da linha foi o Manchester United, que realizou oferta firme para contratá-lo ao Barcelona em 2015.

"O Pini está me ligando e perguntando se você falou com o Neymar Júnior. O que respondo?", perguntou um membro do estafe, em conversa através de aplicativo que consta em processo judicial.

"(Responde que) Não sabe. Eu tenho até terça-feira (para responder). Não é pizza!", retrucou Neymar pai.

O acordo nunca foi assinado e, por isso, a despeito dos esforços de Zahavi, Neymar segue longe ainda da Premier League e de seus críticos mais implacáveis em Londres.

Tite - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Tite durante treino da seleção: penúltimo jogo do ano
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF