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Com "jeitão bruto", Richarlison vira representante do torcedor na seleção

Alex Pantling/Getty Images
Imagem: Alex Pantling/Getty Images

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Milton Keynes (Inglaterra)

21/11/2018 12h00

Na última sexta-feira (16), logo após a vitória de 1 a 0 do Brasil sobre o Uruguai, os jogadores foram liberados para folga. Sem a obrigação de terem de treinar no dia seguinte, parte deles se dirigiu ao restaurante Babbo, pertencente ao agente irianiano Kia Joorabchian em sociedade com David Luiz e Willian. Foram comemorar o aniversário da esposa do volante Lucas Leiva.

Entre eles, estava Richarlison, que saiu praticamente direto do vestiário do Emirates Stadium, em Londres, para o local, ao chegar ainda com o agasalho da seleção. Nada de blazer com calça jeans e sapatênis, por exemplo.

A quem conhece o atacante de 21 anos, não surpreende.

É o seu ‘jeitão’ simples, mais humilde e que alguns diriam ser ‘bruto’, na concepção mais positiva possível da palavra. Mesmo após a sua venda por mais de R$ 200 milhões para o Everton na última janela de transferências europeia e o seu sucesso instantâneo na nova temporada, ele não mudou nem um pouco a sua maneira de ser.

Richarlison - Kieran Galvin/EFE - Kieran Galvin/EFE
Imagem: Kieran Galvin/EFE
Ele virou o representante do torcedor em campo, apegado às suas raízes e mantendo uma espontaneidade que soa cada vez mais rara nos dias atuais, em um meio de discurso ensaiado. É a novidade que veio para restabelecer os laços cada vez mais frágeis que a equipe carrega com a sua torcida. Foi assim novamente na vitória de 1 a 0 sobre Camarões, no MK Stadium, em Milton Keynes, nesta terça (20).

Enquanto os seus companheiros foram ao gramado, sem exceção, com camiseta de manga longa, o jovem jogador deixou de lado o frio congelante com sensação térmica de zero grau e acabou sendo o único a atuar com manga curta.

“Essa é uma das minhas características, estar indo para cima do marcador, estar buscando espaço e foi o que o Tite pediu. Infelizmente, teve a nova lesão do Neymar, entrei um pouco frio, demorei a pegar o jogo, mas consegui marcar o gol da vitória da seleção”, disse Richarlison, emendando a resposta para falar sobre a baixa temperatura.

“Ah, é gosto, mesmo, não gosto de jogar com muita roupa. É para ficar mais leve. O frio demora para passar, mas acostuma durante a partida. Com o calor do jogo, vai acostumando”, prosseguiu.

“Mas, não, não virei inglês ainda, não”, completou.

No novo ciclo da seleção depois da Copa do Mundo, ele recebeu oportunidades em todos os seis amistosos, balançando as redes três vezes, duas delas contra El Salvador e agora diante de Camarões.

Ele não demorou a conquistar a comissão técnica também e virou exemplo recorrente citado por Tite em suas entrevistas coletivas, justamente por ter sido chamado pela primeira vez para substituir Pedro, do Fluminense, cortado, e, mesmo tendo vindo depois, não se acanhado e conquistado o seu lugar.

O treinador sempre repete que não existe nada de “depreciativo” na situação e que Richarlison soube trabalhar para conquistar o seu lugar e, quem sabe, encaminhar uma vaga no grupo da Copa América do ano que vem. Não ouse, contudo, chamá-lo de “queridinho” do técnico.

“É difícil individualizar e dizer quem mais aproveitou (as chances nos seis jogos), mas também posso dizer que ele aproveitou muito, sim, e não é nenhum queridinho meu. Queridinho é meu e minha filha. Não tenho nenhum queridinho”, analisou Tite, contrariado.

A polivalência do ex-Fluminense e América-MG, que pode atuar aberto pelos lados e centralizados, também foi outro fator que fisgou o comandante e deverá ser decisivo para que ganhe ainda mais espaço em um ataque que tem apenas Neymar como absoluto e carente de nomes que entrem e resolvam.