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Torcedor do Fla que celebrou gol com Diego relata ameaça e ofensa ao filho

Rafael Tavares com o filho Caio no jogo no Flamengo no Maracanã - Arquivo pessoal
Rafael Tavares com o filho Caio no jogo no Flamengo no Maracanã Imagem: Arquivo pessoal

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

23/11/2018 17h34

A vida do empresário Rafael Tavares de Almeida, de 36 anos, virou de ponta-cabeça por causa de alguns segundos que viralizaram nas redes sociais depois da vitória do Flamengo sobre o Grêmio (2 a 0), na quarta-feira (21).

Quando o meia Diego marcou o segundo gol do Flamengo, correu para comemorar nos braços dos torcedores no nível 1 do Maracanã. Rafael estava entre eles. Nas imagens, o braço de Rafael aparece na altura dos genitais do jogador, o que motivou uma enxurrada de vídeos, memes e piadas na internet.

O torcedor afirma que jamais tentou encostar ou encostou nas partes íntimas de Diego e que tudo não passou de um “jogo de câmeras”. “Quando acordei pra levar meu filho ao colégio, abri o Instagram e descobri que tinham quase 10 mil visualizações no meu status”, afirma Rafael ao UOL Esporte.

Foi por causa de Caio, seu enteado de 11 anos que Rafael trata como um filho, que ele comprou ingresso para o setor mais perto do campo. A criança sonhava com a possibilidade de comemorar um gol ao lado de Diego e, por isso, quando o jogador se aproximou da torcida durante a celebração, Rafael se esforçou para puxá-lo em direção ao filho.

“Eu comecei a gritar e o Diego veio em nossa direção. Eu tentei pegar o Caio, que estava distante, e veio todo mundo junto, fiquei ali tentando juntas os dois e todo mundo me pressionando. Não consegui colocá-lo na minha frente e foi aí que teve aquela imagem. Mas de jeito nenhum eu apalpei o Diego. Apenas segurei na cintura dele. Minha intenção era jogar o Caio na minha frente pra ele abraçá-lo. Infelizmente não deu, mas ele conseguiu tocar na mão do Diego.”

Os memes chegaram ao celular de Rafael no dia seguinte, insinuando que o torcedor teria se aproveitado de um momento de euforia para apalpar o jogador. As brincadeiras extrapolaram o mundo virtual. Dono de uma loja de material de construção, Rafael disse que foi impossível trabalhar no dia seguinte.

“A cada 11 clientes que entravam 20 eram pra me zoar”, ele conta. “Praticamente não vendi nada. A galera só entrava na loja pra me zoar, carros que eu nunca vi na vida paravam, os caras dizendo: ‘Aê gordinho viado, bota a cara pra fora.’ Eu toco na bateria da Mocidade de Padre Miguel. Ontem quando eu cheguei foi aquele frisson, todo mundo fazendo aquela brincadeira de botar a mão no saco, alguns tiraram fotos. Pedi uma cerveja no bar e o garçom disse que só ia me servir com a mão no saco. Não é uma situação muito confortável.”

Rafael estava levando tudo no bom humor, mas as brincadeiras passaram dos limites quando viraram ameaças contra ele e ofensas ao filho Caio.

Quando o garoto foi ao colégio, alguns colegas fizeram brincadeiras que ele não entendeu, conta Rafael. Os dois tiveram uma conversa na qual o pai contou o que estava acontecendo e tentou preparar o menino para o que estava por vir.

Bom dia Nação ?? #Deusébomotempotodo

Uma publicação compartilhada por Diego Ribas da Cunha (@diegoribas10)

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Mas quando Caio foi à escolinha à tarde, pais de alunos de outros garotos protagonizaram ofensas e brincadeiras que o magoaram.

“Foi uma situação ridícula”, diz Rafael. “Os outros pais ficaram gritando que o pai dele era viado, gay. Ele saiu mais cedo do treino e chegou em casa chorando. Fiquei tentando trabalhar isso na cabeça dele”. Rafael pediu para a família deixar no privado todos os seus perfis na internet.

“Eu não consigo entender como uma pessoa, por uma parada de jogo de imagem, vai atacar teu filho que não tem nada a ver com a história.”

Ameaças e ofensas nas redes sociais

Sua conta no Instagram tem recebido uma enxurrada de mensagens, a maioria brincadeiras bem-humoradas que não o incomodam. Algumas mensagens, porém, são mais pesadas.

Rafael, gordinho - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Tem gente falando ‘Vamos te pegar, seu boiola, seu viado, tu tá f***’. Umas duas pessoas falaram ‘Tira essa camisa, seu viado, você não merece vestir isso. Uns cinco torcedores do Flamengo, que acho que são homofóbicos, que acham que sou homossexual. A maioria são torcedores de outros times, muitos que me ameaçam são de fora do Rio. Mas não posso mudar o rumo da minha vida por causa de ameaça.”

O torcedor conta que tinha programado viajar com a família inteira, a esposa, a filha e Caio a Minas Gerais, onde o Flamengo enfrentará o Cruzeiro no próximo domingo, mas cancelou o passeio com receio das ameaças.

“Desde que não haja agressão física pra mim está tranquilo, não vou me estressar”, disse ele, que sempre vai aos jogos do Flamengo ao lado do filho. Ele pretende ir ver o time de perto no último jogo no Brasileiro, contra o Atlético-PR, no Maracanã, mas ainda não sabe se levará o garoto. “Meu medo é acontecer alguma coisa com ele do lado.”