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Azarões em eleição têm origem em organizadas e veem preconceito no Fla

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/12/2018 04h00

José Carlos Peruano e Marcelo Vargas são os azarões na eleição do Flamengo, neste sábado (8), na Gávea. Os dois têm origem em torcidas organizadas e são alternativas na oposição. Eles disputam contra o também opositor Rodolfo Landim e com Ricardo Lomba, indicado pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello e postulante da situação.

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Peruano e Vargas militaram na Torcida Jovem do Flamengo. Ambos têm longa história nas arquibancadas e defendem um clube popular. Por serem de grupos com menor representatividade, têm dificuldades na campanha e um orçamento limitado, além da resistência de parte dos associados pelo passado ligado às organizadas.

"Diziam que eu era marginal e delinquente. Já quebrei essa barreira. Apresentei todas as minhas certidões e fui aprovado pela democrática Comissão Eleitoral. Nunca fui preso, nunca matei ninguém, nunca cumpri pena e nunca respondi processo. Não tinham como me barrar. Não precisa ter dinheiro para ser presidente do clube. Precisa ter organização e entender daquilo. E, de Flamengo, eu entendo", afirmou Peruano, que ganhou o apelido em uma das muitas viagens que fez para acompanhar o clube no Brasil e exterior.

"Acho que isso me ajuda (ter sido presidente da Torcida Jovem). Está na história do Flamengo. As organizadas são fenômenos sociais. O problema de tudo na vida está nas peças erradas nos locais errados. Pode acontecer em qualquer lugar. Já estive nas duas pontas e sei muito bem como lidar com isso. É preciso chamar para conversar e fazer reuniões. Todas as organizadas têm CNPJ. Vamos colocar a organizada assumindo as suas responsabilidades. O clube não pode se afastar da forma como essa diretoria fez. Só complica o cenário", completou Vargas.

Peruano se julga o representante dos excluídos na eleição rubro-negra. A definição teve origem no que ele diz ter observado durante a atual administração. O candidato, inclusive, acredita que é vítima de preconceito nos corredores da Gávea por conta da sua origem.

"Existem vários tipos de preconceito no Flamengo. Mora no subúrbio, anda de metrô, não mora na Barra... Não tem grana? Aí você passa a ter uma doença contagiosa. Quantas pessoas gostam do Rodolfo Landim no Flamengo? Todas! O pobre adora o sucesso! Ele é o sucesso! O Peruano é duro, não tem grana. Para que votar nele? Fizeram chacota da minha campanha. Não quero saber quantos votos terei. Já sou um vencedor por ter quebrado essa barreira. Fizemos só 200 camisas e uma faixa. Quero ingressos baratos e lutar pela parte popular. Hoje, o Flamengo é tudo, menos popular", comentou.

Marcelo Vargas diz que parte considerável do ambiente conturbado na política do Flamengo tem origem no grupo da situação SóFla (Sócios Pelo Flamengo). Se eleito, no entanto, promete chamar todas as correntes políticas para administrar um clube unificado.

"O que aconteceu nesses últimos seis anos foi que a arrogância da atual administração colocou tudo a perder. Eles são tão despreparados politicamente que não conseguiram manter a união do próprio grupo. Se vencer, o meu objetivo é conversar com todos assim que terminar a eleição. Infelizmente, o grupo da situação possui uma tendência esquizofrênica pelo poder. Identificamos pessoas jovens com apego enorme ao status. Sempre alertamos para isso. Ainda bem que eles devem sair. Se ficassem por mais três anos, não sei se ainda existiria o Flamengo. Os caras vaiavam quem votava contra no Conselho Deliberativo. Isso é uma falta de respeito enorme. O sócio do clube não está acostumado e abriu os olhos", criticou.

"Acho impossível (pacificar o clube). O SóFla é um grupo fascista. Só querem para eles, não repartem o bolo. Está difícil aqui fora se perder o emprego. Deve passar isso na cabeça dos caras. Falavam da mamata, mas hoje fazem parte dela. Falam muito em honestidade, mas aparelharam o clube. Quando o barco afunda, os ratos pulam primeiro. Hoje, o muro está baixo. Todo mundo pulou para o lado do Landim. Quem não pulou, ficou para bater lata na oposição. O Landim é os Estados Unidos, o SóFla é Honduras", contrapôs Peruano.

Marcelo Vargas é o candidato da Chapa Branca (Fla-Tradição), enquanto José Carlos Peruano defende a Chapa Amarela (Coração Valente).