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Curitiba vive última final sul-americana com mando, após duas frustrações

Divulgação/CAP
Imagem: Divulgação/CAP

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

12/12/2018 04h00

Nesta quarta-feira (12), a cidade de Curitiba viverá pela primeira vez a sensação de ser o centro das atenções do futebol sul-americano. Algo que poderia ter ocorrido em outras duas ocasiões, mas que ficou pendente até então. Torcedores da cidade já poderiam vivido essa emoção, em 2005 ou em 2016, mas o destino reservou para 2018, última vez em que as decisões acontecerão em jogos de ida e volta, quando Atlético-PR e Junior Barranquilla fizerem a bola rolar na Arena da Baixada às 21h45 (de Brasília).

Há 13 anos, o Furacão surpreendeu a América do Sul desbancando equipes como Santos, Cerro Porteño, América de Cali e Chivas para chegar à decisão contra o São Paulo. Na hora H, uma briga política tirou o jogo de Curitiba. Amparado pelo regulamento, o São Paulo cobrou da Conmebol que não permitisse a decisão em um estádio com menos de 42 mil lugares. O Atlético se apressou em montar arquibancadas tubulares, como as que a Arena Corinthians recebeu na Copa do Mundo de 2014.

Mesmo com laudos do Corpo de Bombeiros e do CREA, a Conmebol vetou o estádio. O Atlético procurou então o Coritiba, dono do Couto Pereira e com capacidade atual de 40.502 lugares. O Coxa então enviou à Conmebol um laudo provando ter capacidade inferior a 38 mil lugares, o que inviabilizaria até uma margem de tolerância. Então, a Conmebol marcou a partida para o Beira-Rio, do Internacional, em Porto Alegre, cerca de 750 quilômetros de estrada distante. Os times empataram em 1 a 1. No Morumbi, o São Paulo venceu por 4 a 0 e ficou com o título.

Recentemente, Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo atleticano, relembrou o tema, ao falar das prisões de cartolas da CBF e da Conmebol: "Aquele sistema que trabalhou muito contra nós em 2004, 2005, quando não fomos bicampeões, quando não nos deixaram jogar aqui na Libertadores... hoje esse povo está morto... de vergonha, né, por que alguns já morreram e devem estar devem estar lá no inferno, pagando seus pecados, e outros foram presos e não podem sair do Brasil".

Tragédia da Chapecoense marcou Curitiba em 2016

Onze anos depois, foi a vez de a Chapecoense surpreender a América. O time da pequena Chapecó, cidade de pouco mais de 160 mil habitantes, desbancou Independiente, Junior Barranquilla e San Lorenzo para chegar à decisão contra o Atlético Nacional. Como a Arena Condá não atendia a capacidade mínima exigida pela Conmebol, o Furacão do Oeste se viu na mesma situação do paranaense.

Foi então que Adriano Rattmann, jornalista assessor de imprensa do técnico Caio Junior, e que trabalhou no Coritiba por um tempo, sugeriu: por que não jogar no Couto Pereira? Caio Junior era paranaense e trabalhou no Coritiba. Já com a Arena da Baixada reformada, Petraglia ligou para o então presidente Sandro Pallaoro e ofereceu o estádio atleticano. Mas Caio Junior temia o impacto do gramado sintético e optou pelo Couto Pereira. A Conmebol liberou, flexibilizando com os pouco menos de 1,5 mil lugares faltantes.

Curitiba se preparou para receber a decisão, mas o acidente que vitimou 71 pessoas em Medellín impediu novamente que a capital paranaense fosse palco de uma final continental. Rattmann não embarcou para a Colômbia para preparar o estádio para a final. "Eu não fui justamente por conta do jogo ser no Couto. Tive que antecipar férias em um outro emprego e, para ir para a Colômbia, me tomaria mais uma semana", relembrou em reportagem de 2017, publicada no UOL Esporte. Com a tragédia, o Couto Pereira acabou recebendo cerca de 30 mil pessoas para um culto ecumênico em homenagem às vítimas em 7 de dezembro de 2016.

Decisão da Sul-Americana mexe com imprensa local e torcidas rivais

Há um outro motivo para os curitibanos estarem animados com a primeira grande final na cidade: em nenhuma conquista anterior, com relevância nacional, os clubes da cidade finalizaram a conquista em casa. O título brasileiro do Coritiba, em 1985, foi ganho no Maracanã, enquanto que o do Atlético foi vencido em São Caetano do Sul, em 2001.

"É um momento único, que nós não tivemos a oportunidade de ver e agora teremos, quem sabe de ver levantar um caneco. Penso que pode ajudar a finalmente fazer o Atlético ser reconhecido no patamar do rol dos grandes clubes brasileiros, o clube luta por isso há muito tempo", projeta o narrador Marcelo Ortiz, da Rádio Banda B. Ele transmitiu a decisão da Libertadores de 2005 em Porto Alegre.

"Existia uma expectativa muito grande, existiu uma grande mobilização para a Baixada sediar aquela decisão e isso não aconteceu. Foi uma frustração muito grande. Fui a Porto Alegre, muita gente foi pra lá, mas era um clima diferente. E eu tenho comigo que o primeiro jogo impediu o Atlético de conquistar aquele título, a segunda partida ficou muito mais fácil pro São Paulo, todos lembram. Hoje eu percebo que a mobilização é muito grande. Por onde você anda não se fala sobre outro assunto. Sejam atleticanos, coxas-brancas, paranistas, todos perguntam: o Atlético será campeão?"