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Brumadinho: Até Carnaval virou motivo para clássico de MG não ser adiado

Fernando Moreno/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Fernando Moreno/Futura Press/Estadão Conteúdo

Enrico Bruno e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

28/01/2019 16h00

Por que o clássico mineiro aconteceu, mesmo sob forte pressão popular para que o jogo não ocorresse após a tragédia de Brumadinho? O adiamento do duelo entre Cruzeiro e Atlético-MG foi cogitado, mas o jogo foi mantido e terminou empatado por 1 a 1 no último domingo (27), às 11h (de Brasília), no Mineirão, apesar da distância de cerca de 60 km entre Belo Horizonte e a cidade atingida pela lama dos rejeitos de minérios da Vale do Rio Doce. 

A decisão tomada pela Federação Mineira com respaldo da Polícia Militar de realizar a partida foi alvo de críticas dos blogueiros do UOL Esporte, como Juca Kfouri, Julio Gomes e André Rocha, que apontaram a falta de sensibilidade com a tragédia. Um dos poucos que escaparam de crítica foi o lateral Fábio Santos, que preferiu não comemorar o gol do Galo.

Não bastasse a estupidez de fazer o clássico às 11h em pleno verão, a Federação Mineira de Futebol mostrou que não é solidária nem na lama, no drama, na trama da Vale que causou a tragédia de Brumadinho - JUCA KFOURI

Por que foi mantido?

O primeiro pronunciamento favorável à alteração do jogo foi do Atlético-MG. O presidente Sérgio Sette Câmara divulgou um comunicado no sábado (26) por meio da assessoria de imprensa do clube a fim de demonstrar o desejo de adiamento do confronto.

"Futebol é alegria, é comemoração, é festa. Há clima para a realização de um jogo de futebol em Belo Horizonte diante dessa tragédia ocorrida com nossos conterrâneos? Tenho absoluta convicção que não! Em respeito às vidas que se perderam e ao sofrimento de seus familiares e amigos, penso que a maior festa do futebol mineiro deveria ser adiada", disse o mandatário.

Às 22h40 do mesmo dia, a Federação Mineira de Futebol divulgou nota oficial confirmando a realização do clássico, assim como os outros jogos do domingo. Vale lembrar que a terceira rodada já havia iniciado naquele dia, com a partida entre Tupynambás e Boa Esporte. Em nota, a FMF disse ter feito uma reunião para discutir sobre a possibilidade de adiamento da partida no Mineirão, mas isso não foi possível por causa da falta de datas nos calendários da CBF e da Conmebol.

André Rocha: "Ninguém merecia sair feliz do Mineirão"

UOL Esporte

A única alternativa seria levar a partida para o final de semana do Carnaval. Porém, a Polícia Militar solicitou que isso não fosse feito devido à alta demanda de foliões em Belo Horizonte durante o feriado, o que poderia comprometer a segurança da população.

Diferentemente do rival, o Cruzeiro não chegou a divulgar nenhum posicionamento oficial. Contudo, informalmente, a diretoria alega ter cortado relações com a Federação Mineira e que não iria comentar sobre o assunto. Nas redes sociais, o desejo de realizar a partida ficou claro por parte da cúpula celeste. Horas depois de o Atlético manifestar sua opinião, ainda no sábado, o time celeste divulgou novos balanços da venda de ingressos, assim como convocou seu torcedor a comprar os bilhetes restantes que ainda estariam à venda no dia do jogo.

Por sua vez, a Rede Globo, como forma de responder a acusações nas redes sociais, informou durante o programa "Redação SporTV" que em momento algum vetou o adiamento da partida exibida em pay-per-view pelo Premiere. A emissora ressaltou que não é a responsável por essas decisões. 

Comemoração polêmica

Antes, durante e após o jogo, houve manifestação por parte dos dois clubes. Os rivais se reuniram no meio do gramado nos minutos que precederam o apito inicial e fizeram uma homenagem às vítimas da tragédia.

Fred comemora - Vinnicius Silva/Cruzeiro - Vinnicius Silva/Cruzeiro
Imagem: Vinnicius Silva/Cruzeiro
No decorrer do confronto, houve nova reverência às vítimas. Autor do gol do Atlético-MG, Fábio Santos foi à câmera de transmissão e reforçou a felicidade pelo gol, mas não comemorou de forma efusiva. Ao fim do jogo, se manifestou sobre a situação.

"É, o nosso maior prazer é fazer gol, principalmente no clássico. Mas a gente optou por não celebrar por conta da situação em Brumadinho. Eu conversei com o Ricardo [Oliveira], um cara esclarecido e extremamente do bem. Ele pediu para a gente celebrar daquele jeito. Fizemos aquilo para homenagear as famílias", disse.

Pelo lado do Cruzeiro, Fred marcou de pênalti e foi celebrar com a torcida do clube dançando o hit Piscininha Amor, canção criada em alusão à brincadeira de Egídio com a cônjuge Thaysa Araújo durante as férias. Porém, ao conceder entrevista, preferiu ressaltar a tragédia de Brumadinho.

"Fiz a dança para comemorar com a galera. A gente sabe o que está acontecendo em Brumadinho, a gente tem orado pelas famílias. Pedindo a Deus que Ele opere milagres e que o pessoal possa recuperar essas vidas. Orando pelos familiares que perderam. A gente tentou fazer algumas doações, mas o governo comunicou que as doações já eram suficientes. Agora é pedir para que isso não aconteça mais. Isso aconteceu em Mariana, aconteceu agora", comentou.