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CT do Fla teve notificação para interdição por falta de alvará em 2012

Pedro Ivo Almeida e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

08/02/2019 19h44

Problemas e dúvidas sobre as licenças necessárias não chegam a ser uma novidade na realidade do Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu. Palco da tragédia que tirou a vida de dez pessoas no início da manhã desta sexta-feira (8), o CT do Flamengo viu a Prefeitura do Rio de Janeiro decretar administrativamente a sua interdição por falta de alvará de funcionamento há sete anos.

Em uma publicação no Diário Oficial do Município em janeiro de 2012, o auto de infração de número 569057 informava que o clube teria que arcar com uma multa de R$ 399,39. A Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop) determinava ainda que o Rubro-negro sofreria o ônus de R$ 570,56 diários caso decidisse abrir as portas.

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"Temos alvarás de licenciamento de obras. Para poder fazer as obras no Ninho do Urubu, tivemos o cuidado de buscar 23 licenças. Ficamos concentrados nisso e pode ter havido uma falta de informação. (...) Acredito que precisamos de um alvará de funcionamento provisório, já que as instalações do CT, hoje, são provisórias", disse, à época, o então vice-presidente de administração do clube, Cacau Cotta.

Horas depois, o Flamengo informava ter resolvido o problema e realizou normalmente um treino do elenco de Ronaldinho Gaúcho, Léo Moura e companhia.

Também em janeiro de 2012, a Seop informou que o mesmo CT que foi palco de tragédia nesta segunda-feira (8) fora notificado seis vezes desde 2004 por falta de alvarás. A Secretaria e o clube não especificavam quais eram os problemas.

Mais de sete anos depois, a situação geral no Centro de Treinamento é bem diferente. Um total de R$ 38 milhões foi investido na construção de dois prédios - profissional e base. O local da tragédia, no entanto, era um alojamento provisório que não foi contemplado pela reforma milionária.

MP processou clube por problemas na base

Com problemas constantes nos últimos anos, o Ninho do Urubu foi alvo de ação recente do Ministério Público do Rio de Janeiro pelas más condições oferecidas aos atletas de base que aplicava. O processo, iniciado em 2015, faz menção a irregularidades no centro de treinamento e foi remetido ao MP-RJ também nesta sexta, após a tragédia.

A ação, que tinha audiência de julgamento marcada para maio deste ano, cita precariedade dos colchões, menores residindo no CT sem autorização dos pais e problemas na habitação. Trecho ao qual o UOL Esporte teve acesso também fala em dificuldades de pais no acesso e visitas aos seus filhos. 

Em nota divulgada nesta sexta, o Tribunal Regional do Trabalho da 1º Região (TRT) afirma que, segundo o MP, as condições eram comparáveis à de centros de detenção para menores infratores. "Precárias condições oferecidas pelo Clube de Regatas do Flamengo a seus atletas são inferiores até mesmo àquelas ofertadas aos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de semiliberdade em unidades do Departamento Geral de Ações Educativas (Degase), o que revela o absurdo da situação", diz o comunicado. 

Ao longo da ação, foram determinadas diversas vistorias no local, e houve concessão de prazo para que o Flamengo sanasse as irregularidades. O processo tramita na 1ª Vara da Infância da Juventude e do Idoso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.