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Coutinho por Pepe: meia baixa para não ser Pelé e dor de cabeça de 50 anos

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/03/2019 04h00

Eram pouco menos de nove da noite quando José Macia, o Pepe, soube da morte do colega Coutinho, do mítico Santos dos anos 60. Mesmo quem não viu aquele time sabe de cor o ataque Dorval-Mengálvio-Coutinho-Pelé-e-Pepe que ganhou dois Mundiais, duas Libertadores e praticamente tudo que o time jogou entre 1961 e 1967. Ainda muito abalado - "estragou meu dia" - Pepe conversou com o UOL Esporte.

Coutinho foi um... é triste colocar no passado. Ele que me colocou o apelido de 'pouca pena', pela falta de cabelo. Quando chegou na Vila, faz muito tempo, fez teste, agradou, e já começou a se entender muito com o Pelé".

Foi ao lado do Rei do Futebol que Coutinho marcou seus 368 gols pelo Santos, após ganhar a vaga que era de Pagão. "O Lula (então técnico do Santos) se interessou. Ele tinha 14 anos de idade, ia fazer 15, veio de Piracicaba. E o Pagão pediu pra ir para o São Paulo e o Coutinho tomou conta".

Gylmar, Ismael, Olavo, Joel, Geraldino, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe posam antes de jogo do Santos contra o Peñarol na semifinal da Libertadores 1965 - Acervo UH/Folhapress - Acervo UH/Folhapress
Gylmar, Ismael, Olavo, Joel, Geraldino, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe posam antes de jogo do Santos contra o Peñarol na semifinal da Libertadores 1965
Imagem: Acervo UH/Folhapress

Pepe viu o entrosamento avançar rapidamente. "O apelido dele para mim era Adão. Era parecido com Adãozinho, um centroavante que o XV de Jaú tinha, baixinho e gordinho. Nós jogamos numa fase em que não se ganhava o que se ganha agora. Logicamente, a parte financeira ia ser muito maior. Hoje em dia, o jogador faz meia dúzia de jogadas e já é craque, badalado pela imprensa. Mas foi reconhecidamente um ataque que deixou saudades", relembrou Pepe, para então contar duas histórias curiosas.

"Ele fez um gol, ganhamos um jogo da Portuguesa Santista, era no Urico Mursa, naquele tempo era um clássico", relembra.

Eu bati uma falta ali da região do córner, uma pancada. Ele meteu a cabeça, fez o gol e desmaiou. Esses tempos ele falou pra mim: 'Faz mais de 40 anos que fiz aquele gol e minha cabeça dói até hoje!' Esse era o Coutinho".

Ser confundido com Pelé era também um problema. Foi aí que surgiu uma ideia. "Teve um detalhe interessante: ele passou a jogar de meia arriada quando se tornou um astro. Então eu disse, 'Adão, mas que negócio é esse?' Ele falou: 'Olha para mim, com a iluminação ruim me confundem muito com o Pelé. Todo gol bonito é dele e toda jogada errada é minha'".Jogadas erradas, porém, eram raras: "Um jogador fantástico, não tinha chute forte. Só colocava, com a direita, a esquerda e fazia muitos gols de cabeça".

Pepe e Coutinho (e todo o ataque santista) se encontravam com frequência. "O Coutinho morava perto da Vila Belmiro, eu normalmente ainda vou fazer a barba e o cabelo lá na Barbearia do Didi e a gente se encontrava sempre. Quase sempre as entrevistas tinham a presença dele. A gente constantemente estava junto".

Agora, Coutinho se foi.

Uma carreira de títulos, vitórias. Muito orgulho em fazer parte daquele ataque lendário. Vai ficar marcado pra quem viu, mais ainda quem teve o privilégio de jogar ao lado dele. Ficam as saudades".

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