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Eurico superou câncer, evitou hospital e montou UTI em casa antes de morrer

Pedro Ivo Almeida e Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/03/2019 18h26

Eurico Miranda foi dado oficialmente como morto por volta das 12h30 de hoje, no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. O local, curiosamente, parecia ser o último onde o dirigente gostaria de estar. Ele repetia a amigos próximos que só iria recorrer a tal opção quando "não tivesse mais jeito". Lutando contra dois tumores no cérebro há quase um ano, o polêmico cartola relutava em aceitar tratamentos tradicionais e chegou a montar uma "mini UTI" em sua casa para não precisar ser hospitalizado com frequência. 

Na parte da manhã, se sentindo muito mal após dias sem conseguir comer, foi levado de ambulância às pressas para o local. Eram os últimos momentos de uma luta de mais de dez anos contra doenças que tiraram parte de sua lucidez, de seus movimentos e da dinâmica de um dirigente sempre ativo. Desde a primeira década do século, tumores na bexiga fragilizavam sua saúde.

Problema em bexiga, pulmão e cérebro

Com a situação controlada nos anos seguintes, ainda articulava e tinha fôlego para mandar e desmandar nos bastidores de São Januário. No início da segunda década do século XXI, o quadro se agravou de vez. Além da bexiga, o pulmão agora também preocupava. Eurico lutou, se tratou, e chegou a comemorar que estava "zerado" em 2016. Médicos confirmaram a cura nas regiões. Mas dois tumores no cérebro retomaram o drama no início de 2018. Nos últimos meses, a esperança e o fôlego já não eram os mesmos.

Ele já havia dispensado seguranças e motoristas, pois quase não saía de casa. Recentemente, se dividia entre a cama e a cadeira de rodas. Não ficava mais em pé e tinha acompanhamento de enfermagem 24 horas ao dia. Eurico era acompanhado pela esposa Sílvia e pelos filhos. Euriquinho, por ser autônomo, era o mais presente.

O tratamento contra o câncer no cérebro abalou demais a saúde do ex-presidente do Vasco. Ele fez radiociurgia, pois evitava cortes, anestesias e internações. No meio da batalha contra a doença, no entanto, sofreu um derrame. Foi aí que teve sequelas e viu o estado de saúde piorar em sequência.

Nos anos anteriores, Eurico já havia superado um câncer na bexiga e outro no pulmão. Foram dez sessões de quimioterapia em 2016 após a insistência de familiares e amigos. Ele já tinha recusado o tratamento em inúmeras oportunidades e seguiu na presidência do Vasco mesmo debilitado.

Em junho daquele ano, inclusive, foi celebrada uma missa de Ação de Graças pela recuperação do cartola na Capela Nossa Senhora das Vitórias, em São Januário. Hoje, Eurico está sendo velado no mesmo local que frequentou em boa parte da vida no clube.

Poucas visitas e emoção

Acamado e diante de um quadro que abalava a vaidade marcante de décadas, Eurico recebia poucos amigos nos últimos meses. Somente aliados de anos e pessoas próximas da família entravam no apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Os encontros eram marcados pela emoção de um cartola abalado com sua saúde. Os poucos momentos de distração vinham nos jogos de tranca - tipo de jogo de carteado - com familiares e amigos, como Antônio Porfírio. Mas era só. E algo cada vez mais raro.

O dirigente falastrão e que tinha pavor de hospital não resistiu aos golpes frequentes do câncer. Ele saiu de cena de maneira bem diferente da qual os torcedores se acostumaram a ver, em silêncio e longe dos holofotes que por tanto tempo o seguiram no futebol brasileiro.

Eurico Miranda tinha 74 anos e será enterrado na tarde de amanhã no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Personalidades do futebol e clubes já se manifestaram sobre a morte do ex-dirigente. O Vasco e a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) decretaram luto oficial de três dias.

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