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Como Militão valorizou 600%: flerte do Barça e êxito de bastidores do Real

Andreas Solaro/AFP
Imagem: Andreas Solaro/AFP

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de São Paulo (SP)

19/03/2019 04h00

Em menos de um ano, com a oficialização de sua transferência para o Real Madrid, Éder Militão conseguiu uma valorização de mais de 600% em sua cotação no mercado. Depois de trocar o São Paulo pelo Porto por sete milhões de euros (R$ 29 milhões), incluindo a fatia repassada a empresários, o jovem jogador de 21 anos teve a sua ida para o Santiago Bernabéu selada por 50 milhões de euros (R$ 208 milhões) na última semana.

Foi disparado um dos negócios mais lucrativos do futebol europeu na temporada.

Em alta, fez até mesmo com que a comissão técnica da seleção brasileira se deslocasse em mais de uma ocasião para observá-lo in loco e confirmar o potencial que os portugueses não demoraram a conhecer. Nem mesmo um deslize com a punição por noitada recente afetou a imagem de Militão no Porto.

Mais uma vez entre os convocados de Tite para os amistosos contra Panamá e República Tcheca no fim deste mês, o seu destino, no entanto, poderia ter sido outro.

Em qualquer conversa com membros de seu estafe, eles recordam que o Barcelona, na verdade, foi o primeiro a se adiantar para tentar contratar a revelação tricolor. No radar dos catalães desde o Morumbi, ele seguiu sendo observado ao desembarcar em Portugal.

Conforme apurado pelo UOL Esporte, foi realizado antes da virada do ano um contato mais direto para tentar a sua ida ao Camp Nou ainda em janeiro. Entre outros motivos, as conversas não avançaram pela recusa do Porto em liberá-lo antes do fim da temporada e também pela falta de passaporte europeu (Arthur, Malcom e Arturo Vidal preenchem a cota não-europeia).

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No fim das contas, o Barça não passou de um flerte que se somou ainda a Manchester United, Everton e mais uma dezena de equipes.

Do outro lado da mesa, a cada contato, esteve sempre a figura do iraniano Kia Joorabchian, que viajou por mais de uma vez de Londres ao Porto para cuidar do futuro de Militão ao lado do parceiro Giuliano Bertolucci. Eles trabalharam em sintonia com o empresário do ex-são-paulino, Ulisses Jorge, que passa boa parte de seu tempo em Portugal e mantém um representante, Gilmar Pereira, no país.

Os empresários que costuraram Militão no Real: Giuliano Bertolucci Ulisses Jorge e Kia Joorabchian - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Os empresários que costuraram Militão no Real: Giuliano Bertolucci Ulisses Jorge e Kia Joorabchian
Imagem: Reprodução/Instagram

Com o negócio apalavrado desde o início do ano e firmado após exames médicos no começo do mês, Kia, Bertolucci e Ulisses comemoraram o acordo brindando em um hotel no Porto.

Os três ficarão com cinco milhões de euros (R$ 20 milhões) do total da transferência em pagamento de comissão combinada ainda na saída do São Paulo, em julho do ano passado.

Militão, por sua vez, terá direito a um salário bruto que rondará os 10 milhões de euros anuais (R$ 41 milhões) em seu contrato de seis temporadas no Bernabéu. Um dos motivos de seu adeus precoce do São Paulo foi exatamente o seu vencimento, um dos menores da Barra Funda naquela altura.

Com acordo verbal, o Real Madrid ainda conseguiu dobrar o Porto em outras duas quedas de braço que travavam o anúncio: fará o pagamento da transação de forma parcelada e não terá que arcar com os 10% a que o São Paulo tem direito, como os portugueses pretendiam.

A despeito do valor, a multa rescisória não foi acionada, evitando assim a carga tributária que "roubaria" uma quantia considerável do atleta e de seus representantes.

Os espanhóis terão de assumir apenas o repasse do percentual de 3% de mecanismo de solidariedade ao tricolor paulista. A Fifa prevê essa obrigatoriedade ao clube contratante, porém, como revelado anteriormente pela reportagem, eles alegavam que essas cifras estavam inclusas nos 50 milhões de euros e que deveriam, portanto, ser de responsabilidade do Porto.

A transferência de Militão segue roteiro semelhante à de seu colega de seleção, Danilo, agora no Manchester City, que trocou o Porto pelo Real e teve a sua ida anunciada também antes do fim da temporada, em março de 2015.

Na história do futebol português, esta transação fica atrás apenas da venda do compatriota Hulk, negociado por 60 milhões de euros pelo Porto ao Zenit, e o situa como quarto defensor mais caro de todos os tempos, com somente Van Dijk, do Liverpool, e Laporte e John Stones, ambos do City, à sua frente. Em sua carreira, Militão tem se movido na mesma velocidade de suas passadas largas.

Elas hoje desbravam a lateral direita do Porto após o retorno do veterano Pepe, mas o objetivo do Real Madrid é tê-las impulsionando os cortes como zagueiro dentro da área. Na teoria, será o melhor para todos, inclusive, para Tite, que prefere ver a revelação nessa posição.