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Caso Daniel: Paradeiro de modelo que acusa jogador causa briga de advogados

Daniel Corrêa foi assassinado em outubro e caso está em fase audiência de testemunhas - Vitor Silva/SSPress
Daniel Corrêa foi assassinado em outubro e caso está em fase audiência de testemunhas Imagem: Vitor Silva/SSPress

Adriano Wilkson, Karla Torralba e Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo e Belo Horizonte

12/04/2019 15h05

O paradeiro de uma modelo de 27 anos que acusa o jogador Daniel Corrêa de assédio causou uma briga entre os advogados dos réus e os da família do atleta. A modelo Ludmila Garrido afirma que Daniel tentou ficar com ela em uma boate de Belo Horizonte e, ao receber um não, foi "agressivo e ofensivo". Ele tinha 18 anos e era jogador do Cruzeiro, segundo a modelo. Seis anos depois, em outubro de 2018, o atleta seria assassinado após uma festa em São José dos Pinhais (PR). O caso Daniel está em fase de audiência de testemunhas.

Ludmila foi indicada como testemunha de defesa pelo advogado Cláudio Dalledone, que representa a família Brittes. Edson Brittes, o Juninho "Riqueza", que confessou ter matado o jogador, Cristiana e Allana, estão presos desde novembro, junto com outros quatro suspeitos. Em uma série de audiências que ouviu mais de 40 testemunhas de defesa, Ludmila não apareceu. O mistério sobre seu paradeiro foi alvo de protestos da família de Daniel, que considera sua história um "factoide" e sua presença "irrelevante" para o processo. A família também acusa a defesa de tentar tumultuar o caso.

No dia 23 de março, um oficial de justiça foi até o endereço informado pela defesa dos Brittes, mas não encontrou a modelo. No dia 9 de abril, por meio de uma petição à juíza do caso, a defesa insistiu que Ludmila seria encontrada no mesmo endereço. No mesmo dia, porém, a família de Daniel representada pelo advogado Nilton Ribeiro pediu à Justiça que desconsiderasse a testemunha porque a defesa teria informado um "endereço falso".

Brittes - FRANKLIN FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO - FRANKLIN FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO
Edison Brittes em audiência no fórum de São José dos Pinhais (PR)
Imagem: FRANKLIN FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO

A expressão irritou Claudio Dalledone, que tenta ouvir a modelo para mostrar que Daniel teria um perfil de "assediador de mulheres", o que teria influenciado os fatos que levaram a sua morte. Ontem, o criminalista se dirigiu à Corte afirmando que os representantes da família de Daniel agiram "de maneira desrespeitosa, antiética e, quiçá, criminosa" ao apontarem o suposto endereço falso da modelo.

Segundo a defesa dos Brittes, Ludmila não foi encontrada porque se mudou recentemente. Mas o UOL Esporte, ao investigar o paradeiro da modelo, descobriu que a informação não procede. No prédio apontado pela defesa em Belo Horizonte, um porteiro disse que nenhuma pessoa de nome Ludmila havia morado lá recentemente.

A própria modelo, em contato com a reportagem, negou que tenha morado no endereço. Em entrevista coletiva durante as audiências, o advogado Claudio Dalledone havia dito que a testemunha estava de férias e por isso não teria comparecido à Corte, o que a modelo também negou.

Dalledone informou um novo endereço da modelo e pediu para que a juíza apreciasse um novo pedido para intimá-la. Já Nilton Ribeiro, advogado da família de Daniel e assistente de acusação do Ministério Público no caso, pediu para que Ludmila fosse ignorada no processo por considerá-la uma "testemunha irrelevante" e porque a defesa teria perdido o prazo para apresentar seu novo endereço.

Como a modelo pode influenciar o processo?

Apontada pela defesa dos Brittes como uma testemunha "bombástica", Ludmila afirma que Daniel tentou ficar com ela durante uma festa em Belo Horizonte há cerca de seis anos. "Eu lembro que ele estava com amigos dele, e eu com duas amigas. A gente estava dançando, quando eles chegaram oferecendo bebidas. Eu conversei com ele, fui simpática, mas como eu tinha namorado, disse não."

A modelo disse que o jogador se orgulhava de ser atleta do Cruzeiro, mas "começou a forçar muito, a insistir e me incomodar", afirmou ela. "Achei ele um pouco agressivo nas palavras, ofensivo e [até] um pouco fisicamente." Segundo a modelo, Daniel a "puxava e tentava muito." Ela afirmou que relutou em prestar depoimento, mas disse que decidiu seguir em frente para levantar um debate sobre o direito das mulheres vítimas de assédio em situações semelhantes.

O depoimento seria mais um a indicar que Daniel teria tido um perfil desrespeitoso em relação a mulheres, segundo a tese da defesa dos Brittes. Seu advogado já havia apresentado à Justiça na semana passada um segurança da boate Shed, em Curitiba, que disse ter visto Daniel importunando uma mulher horas antes de ser morto.

Juninho "Riqueza" disse que matou o jogador após vê-lo tentando violentar Cristiana, sua esposa. Daniel tirou uma foto deitado ao lado dela na cama, enquanto Cristiana dormia.

Cristiana e Allana - GIULIANO GOMES/PR PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - GIULIANO GOMES/PR PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Cristiana e Allana Brittes em audiência no fórum de São José dos Pinhais (PR)
Imagem: GIULIANO GOMES/PR PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Mas, para a família de Daniel, Ludmila conta uma história fantasiosa e repudia uma suposta tentativa de "denegrir" a imagem do atleta. "A nossa família questiona apenas por que quando ela foi 'supostamente importunada' ela não foi até uma delegacia ou até mesmo à mídia fazer uma queixa contra ele", disse Regina Corrêa, tia e madrinha de Daniel.

Em audiência na última segunda-feira, dois dos melhores amigos do atleta disseram que ele sempre foi respeitoso com mulheres.

A juíza Luciani Martins de Paula ainda não decidiu se permitirá uma nova tentativa de intimação à modelo.

O que diz Regina Corrêa, a tia de Daniel

Acredito que [Ludmila] não terá nenhuma importância no processo porque até onde eu sei, ela não estava presente no dia que Daniel foi cruelmente assassinado.

A vida do Dani sempre foi pública, as mulheres que passaram pela vida dele já deram depoimento mostrando quem foi Daniel. E quanto a essa pessoa nem sabemos quem é porque nunca ninguém da família ouviu falar desse nome.

A nossa família questiona apenas porque quando ela foi "supostamente importunada" ela não foi até uma delegacia ou até mesmo à mídia fazer uma queixa contra ele. Agora o que ela vai conseguir com essa informação? Deixa a imprensa avaliar a conduta e tirar suas próprias conclusões quando ouvirmos o que ela tem a dizer, avaliando o perfil do Daniel e o dela.

Fica o nosso repúdio a alguém que tem coragem de prestar um papel desse, preconizando tentar denegrir a imagem de uma pessoa que não está mais aqui pra se defender.

Estaremos aguardando o que ela tem a dizer, não sabemos quem ela é, nem mesmo se tem alguma relação com alguém da família dos algozes da vida do nosso tão querido Daniel!