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Toledo se inspira na Chape e tem time 40 vezes mais barato que o Athletico

Toledo surpreendeu ao conquistar o 1º turno do Paranaense 2019 - Reprodução/Toledo Esporte Clube
Toledo surpreendeu ao conquistar o 1º turno do Paranaense 2019 Imagem: Reprodução/Toledo Esporte Clube

Augusto Zaupa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/04/2019 04h00

Em busca do inédito título do Campeonato Paranaense, o modesto Toledo se espelha na Chapecoense para um dia também ter visibilidade no cenário do futebol nacional. Com a folha salarial quase 40 vezes menor que a do Athletico, rival na decisão de hoje, o clube do Oeste do Estado chegou a fazer uma espécie de consultoria com a Chapecoense às vésperas da tragédia com o voo da equipe catarinense na Colômbia, em 2016.

Inicialmente, os primeiros contatos com os cartolas da Chapecoense haviam sido à distância. A atual diretoria do Porco, como é conhecido o Toledo, já trocava experiências com o time modelo, mas a visita à Arena Condá ocorreu apenas em novembro de 2016, poucos dias antes da queda do voo da LaMia, que culminou na morte de 77 pessoas.

"Estive na sede da Chapecoense justamente naquela quarta-feira [23/11/2016], quando eles venceram o San Lorenzo e se classificaram para a final da Copa Sul-Americana. Naquele dia e no dia seguinte, estive com os sete dirigentes que, infelizmente, morreram naquela tragédia na Colômbia. Foi muito triste, mas aprendi com eles", recordou rapidamente o presidente do Toledo, Carlos Dulaba.

Campeão do primeiro turno do Paranaense 2019 ao derrotar na decisão o Coritiba, o Toledo se orgulha de ter uma folha salarial enxuta. Os gastos mensais com jogadores e comissão técnica não passam de R$ 120 mil, valor bem inferior aos cerca de R$ 4 milhões que o Athletico desembolsa com o elenco.

Para aumentar as receitas, a diretoria pretender atrair empresários da cidade e região que estejam dispostos a investir no projeto, assim como ocorreu no Sul de Santa Catarina.

"Quem não se espelha na Chapecoense? A ideia é fazer semelhante ao que eles fizeram. Queremos chamar a cidade para dentro do clube. Hoje somos um time de futebol empresa, que foi criado em 2004. Queremos abrir o capital para cerca de 80 a 100 empresários. Atualmente, só contamos com a verba de cinco patrocinadores. Só depois que conseguirmos fixar a parceria com o empresariado, iremos programar o plano de sócio torcedor. Temos que ter os pés no chão", comentou o mandatário.

Apesar de Chapecó ter uma população maior que a do município paranaense - 183 mil e 120 mil pessoas, respectivamente -, o produto interno bruto das duas cidades é semelhante. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB per capita de Toledo é de R$ 40,4 mil, enquanto que o da cidade catarinense é de R$ 39,6 mil.

Espelho também dentro de campo

Além das referências nos bastidores, o Toledo também repetiu o sucesso dentro de campo ao contratar o treinador Agenor Piccinin, campeão catarinense com a Chapecoense em 2007. Com a ajuda do experiente técnico, o time contratou 12 jogadores para a disputa do Paranaense, entre eles o atacante Alan e o volante Khevin, revelados pela Chape.

"Sou considerado um dos maiores técnicos da história da Chape. Em 2006, ajudei o clube dentro e fora dos gramados, quando o time quase fechou as portas. Estive ao lado do então presidente Edir de Marco, que faleceu na queda do voo. Dentro das proporções, vejo alguns pontos semelhantes. Mas o Toledo ainda precisa de planejamento. Em Chapecó, quando convocaram a torcida, os empresários e a imprensa, todos vieram e abraçaram o time. Aqui é mais devagar", analisou Piccinin.

Mesmo com o título do primeiro turno, Piccinin afirma que não ficou surpreso com a queda de rendimento da equipe na segunda parte do Estadual, visto que o time terminou na lanterna do Grupo A, com três derrotas e dois empates.

"Inicialmente, o projeto era para o time não ser rebaixado à Segunda Divisão. Tive apenas 27 dias para montar o time. Trouxemos jogadores com qualidade, entre 22 a 26 anos. Acabamos sendo a surpresa, a sensação do primeiro turno. O time encaixou, engrenou e fomos campeões. Não era um time que estava pronto para isso", analisou.

"Tínhamos a esperança de trazer mais cinco jogadores para a disputa do segundo turno e isso não ocorreu. Para piorar, três jogadores se machucaram e o time perdeu a sua característica de jogar", acrescentou.

Neste domingo, às 16h, no estádio 14 de Dezembro, o Toledo reencontrará o Athletico Paranaense. Na abertura do returno, o Porco foi goleada por 8 a 2. O treinador disse acreditar que a história não era se repetir.

"Aquele jogo foi o jogo da ressaca. A molecada nunca havia ganho nada e perdeu um pouco a cabeça. Além disso, jogamos sem sete titulares. Agora estamos preparados para a decisão. Aquele jogo não é parâmetro", comentou o treinador, que teve o discurso reforçado pelo meia Revson.

"Quero trazer à memória o que me dá esperança. O primeiro turno é a referência. Fizemos por merecer quando ganhamos o título e garantimos a vaga na final. Sabemos que erramos no início do segundo turno, mas temos que deixar trás. Nos preparamos muito bem para fazer o melhor no domingo", comentou.

Sem calendário após o Estadual

Ao término do Paranaense - a segunda final será disputada no dia 21 -, o Toledo passará por um desmanche, uma vez que não tem mais nenhum torneio para ser disputado nesta temporada. Com vagas garantidas para a disputada da Série D do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil de 2020, a diretoria já está negociando o empréstimo de ao menos sete atletas, entre eles o goleiro André Horocoski.

Herói do título do primeiro turno ao defender duas cobranças na disputa de pênaltis com o Coritiba, o André deve disputar a Série B do Brasileirão deste ano pelo Operário-PR.

"O nosso presidente [Dulaba] inclusive brincou comigo ao dizer para eu não voltar para o Toledo. Eles contam comigo para fazer negócio [dinheiro] com o meu passe. Busco algo melhor. Se eu for para o Operário, pretendo fazer uma grande Série B e crescer. É a realização de um sonho para mim. Tenho um carinho grande pelo Toledo, mas preciso sempre almejar algo a mais", disse o goleiro.